Em uma iniciativa inédita, os Estados Unidos sofreram o rebaixamento da avaliação de risco de seu crédido de longo prazo. A nota de risco de crédito dos EUA da agência Standard & Poor"s passou de AAA - a avaliação mantida nos últimos 70 anos e a mais elevada do ranking - para AA+.
A medida foi tomada três dias depois da sanção da lei que evitou a suspensão de pagamentos pelo governo americano que esboçou o plano de ajuste de US$ 2,1 trilhões nas contas públicas federais nos próximos dez anos.
A S&P havia notificado a Casa Branca sobre a decisão antes de anunciá-la, como sempre, de surpresa e após o fechamento dos pregões das bolsas americanas. O Tesouro americano argumentou à agência ter havido falha de US$ 2 trilhões nos cálculos sobre as projeções das contas públicas do país. Porém, nem o Tesouro nem a S&P se manifestaram publicamente sobre o possível erro de cálculo.
Por meio de um comunicado emitido na noite de sexta-feira, a S&P advertiu sobre a possibilidade de novo rebaixamento, para AA, nos próximos dois anos, "se virmos que o corte menor das despesas em relação ao acertado, o aumento nas taxas de juros ou novas pressões fiscais durante o período resultam em uma trajetória mais elevada da dívida governamental do que a atualmente sugerida pela nossa base de dados". "O panorama sobre a avaliação de longo prazo é negativo", acentuou.
A agência atribuiu sua decisão às medidas fiscais acordadas entre o Congresso e a Casa Branca para garantir a estabilização da dívida em médio prazo. Para a S&P, elas são insuficientes para garantir a estabilidade fiscal do país e sua capacidade de pagar as dívidas. O governo dos EUA acumula US$ 14,3 trilhões em dívidas, o equivalente a mais de 90% do Produto Interno Bruto (PIB).
"O rebaixamento reflete nossa opinião de que o plano de consolidação orçamentária, com o qual o Congresso e o governo concordaram recentemente, fica aquém do que, a nosso ver, seria necessário para estabilizar a dinâmica da dívida em médio prazo", informa a S&P.
"Mais amplamente, o rebaixamento reflete nossa visão de que a eficácia, a estabilidade e a previsibilidade das políticas americanos e as suas instituições políticas se enfraqueceram em um momento de desafios fiscais e econômicos a um grau maior do que imaginado quando foi atribuída uma perspectiva negativa para a avaliação de risco, em 18 de abril de 2011", acrescenta.
Até o momento, a agência de avaliação de risco Moody"s havia se manifestado com o possível rebaixamento da nota dos EUA, mantida em AAA desde 1917, em médio prazo. Mas se esquivara de tomar a iniciativa por enquanto, assim como a Fitch. Apenas a agência chinesa Dagong Global havia tomado a iniciativa nesta semana, ao reduzir a nota de risco dos EUA de A+ para A.
O rebaixamento deu-se no mesmo dia da divulgação da taxa de desemprego de 9,1% em julho, um indicador do compasso lento da recuperação econômica dos EUA. A iniciativa deverá trazer forte impacto na economia real americana nos próximos meses, com a pressão pelo aumento da remuneração dos títulos do Tesouro e, consequentemente, das taxas de juros para empréstimos e financiamentos ao investimento e ao consumidor.
Nos últimos dez dias, esse foi um temor repetido com insistência pelo presidente americano, Barack Obama, em seus alertas ao Congresso sobre a necessidade de um acordo equilibrado para o ajuste fiscal.
PARA ENTENDER
As agências de classificação de risco avaliam a capacidade de um emissor de dívida honrar o pagamento do papel que emite. Pode ser uma empresa, um governo ou um fundo de crédito, entre outras instituições. As agências são contratadas pelos próprios emissores da dívida para atribuir um rating (nota) aos títulos. Os emissores têm interesse em mostrar aos investidores a visão das agências sobre seus títulos. Com isso, aumenta a demanda pelos papéis. As três principais agências do mundo, pela ordem, são: Standard & Poor’s, Moody’s e Fitch.