Em meio à taxação efetiva de 10% dos Estados Unidos à entrada de todos os produtos produzidos no Brasil, um certificado almejado há décadas pelo agronegócio de Mato Grosso do Sul pode ajudar a abrir mercado para a carne do Estado, como alternativa às restrições norte-americanas.
Trata-se do reconhecimento de Mato Grosso do Sul como área livre de aftosa sem vacinação pela Organização Mundial de Saúde Animal (OMSA), no fim deste mês, em Paris, na França.
O certificado nas mãos das autoridades sanitárias abrirá muitos mercados para o Estado, em meio às restrições impostas pelo governo do republicano Donald Trump, nos Estados Unidos.
Neste ano, no trimestre que antecedeu a elevação de tarifas, as vendas de carne bovina produzida em Mato Grosso do Sul aos Estados Unidos dispararam. Entre janeiro e março deste ano, foram embarcados US$ 75 milhões em carne bovina para o país norte-americano. No mesmo período do ano passado, foram US$ 42 milhões.
O tarifaço que entrou em vigor neste mês, porém, pode reduzir parte das exportações brasileiras e, consequentemente, de Mato Grosso do Sul.
Em entrevista ao Correio do Estado na semana passada, o titular da Secretaria de Estado de Meio Ambiente, Desenvolvimento, Ciência, Tecnologia e Inovação (Semadesc), Jaime Verruck, afirmou que Mato Grosso do Sul não tem outro mercado para alocar o volume comprado pelos Estados Unidos, que é o segundo maior destino das exportações locais, só atrás da China.
Em 2024, por exemplo, os norte-americanos importaram quase US$ 700 milhões de carne sul-mato-grossense, o que, com as tarifas em vigor, geraria um custo adicional de US$ 70 milhões para acessar aquele mercado.
É justamente nessa busca de ampliação de mercados para a carne produzida em Mato Grosso do Sul que o status de área livre de febre aftosa sem vacinação entra.
“O status que tínhamos antes do reconhecimento, de área livre de aftosa com vacinação, era uma ‘barreira sanitária’”, explica Verruck. “Ela impedia que exportássemos para alguns mercados, como, por exemplo, o Japão”, complementa.
O titular da Semadesc explica que o status de área livre de aftosa sem vacinação também amplia mercados para a carne suína.
O novo status, segundo ele, habilita Mato Grosso do Sul para exportar para os mercados mais sofisticados da agropecuária.
“Isso é uma medida extremamente positiva, permitindo a diversificação dos nossos mercados no segmento da carne”, analisa.
Conforme Verruck, o reconhecimento de área livre de aftosa sem vacinação mitiga parte dos impactos das tarifas norte-americanas.
“Ele [o reconhecimento] minimiza [o impacto das tarifas], no sentido de nós podermos deslocar nossa produção para novos mercados”, explica. “Ele vai se posicionar como alternativa de entrada em novos mercados daqueles produtos que nós não conseguimos mais colocar nos Estados Unidos”.
Mas não é só isso: o certificado da OMSA para Mato Grosso do Sul também torna o produto mais competitivo e pode ser um fator de aumento de competitividade, mesmo em mercados com barreiras tarifárias.
Demanda
Na semana passada, a Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne (Abiec) emitiu nota afirmando que ainda analisava as medidas do governo norte-americano.
Entretanto, a Abiec ressaltou que o mercado dos EUA tem forte demanda por carne vermelha que não é atendida pela produção local.
Antes mesmo da tarifa efetiva de 10% para todos os produtos, os embarques para o país da América do Norte já estavam sujeitos a uma tarifa de 26,4%, no caso de ultrapassamento da cota de 65 mil toneladas.
A cota, que é distribuída entre 10 países produtores, nos últimos anos era esgotada já no primeiro mês do ano.