A indústria da construção começou o ano com expectativa de crescer 4% no ano, o que corresponderia à sua maior alta desde 2013. No entanto, com o cenário imposto pela falta de insumos, a estimativa para o Produto Interno Bruto (PIB) do setor caiu para 2,5% em 2021.
Os resultados da construção civil no primeiro trimestre de 2021 retrocederam ao mesmo patamar de julho de 2020, contrariando todas as expectativas de crescimento.
O índice que mede a situação financeira das empresas despencou de 47,2 para 41,9, graças à perda de ritmo registrada a partir de dezembro.
A pesquisa foi realizada pela Câmara Brasileira da Indústria da Construção Civil (Cbic), com base em dados da Confederação Nacional da Indústria(CNI).
O custo dos materiais de construção foi o grande responsável pelo impacto negativo, especialmente itens como tubos de PVC e aço, cujas inflações ameaçam até mesmo a continuidade de obras em andamento, públicas e privadas, como já noticiou o Correio do Estado.
Com a pandemia, as indústrias reduziram o ritmo de produção e depois da retomada da maior parte dos canteiros elas não deram conta de repor os estoques, e hoje, além dos preços, os empresários têm de lidar com o desabastecimento.
Em agosto de 2020, a construção estava dando sinais de retomada depois desse período em que foi afetada pelas medidas de isolamento.
“Se não vendesse nada além do normal, este ano já estávamos resolvidos, porque tínhamos de produzir o que vendemos e repor o estoque. Então, independentemente de qualquer mudança, nosso ano estava garantido. Começamos 2021 dessa forma”, disse o presidente da Cbic, José Carlos Martins.
Contudo, ninguém contava que as fábricas não dariam conta de acompanhar esse crescimento e acabariam revertendo o cenário positivo. “A retomada veio em V, mas hoje não temos suprimento necessário para atender à demanda. Por isso estamos defendendo trabalhar com o mercado exterior, ao menos para suprir essa carência atual”, disse Martins.
Essa situação faz com que os empresários receiem em lançar novos empreendimentos. Houve queda de 17% no número de novas obras anunciadas ano passado em comparação com 2019.
Como as vendas aumentaram, uma vez que as condições de financiamento foram favorecidas pela baixa histórica na taxa básica de juros, esperava-se que o setor começaria 2021 a todo o vapor, repleto de novas construções para continuar se beneficiando dessa demanda, mas não foi isso o que aconteceu.
O Índice de Nacional de Custo de Construção (INCC) mostrou que a alta de preços acumulada no período de 12 meses encerrados em março deste ano (28,13%) é a maior para o período desde que o índice começou a ser disponibilizado, em 1998.
Soluções
A Cbic tem apresentado uma série de pedidos ao Ministério da Economia, no intuito de tentar resolver o problema e devolver as expectativas de crescimento ao setor, sempre deixando claro que as medidas propostas são temporárias e não têm o intuito de interferir na política de livre mercado.
Uma delas é a redução dos impostos sobre a importação, o que baratearia o custo para trazer insumos de fora, aumentando a disponibilidade e até fazendo com que as indústrias nacionais reduzissem o preço para não perder mercado, mas até agora não houve resposta.
Ao Correio do Estado, o Ministério informou que pedidos desse tipo devem ser oficializados à Câmara de Comércio Exterior (Camex), órgão responsável por avaliar e mexer nos tributos e alíquotas quando necessário.
Em nota, o órgão disse que a lista de pleitos sob análise é pública, mas que “até o momento, por esses canais, identificamos alguns pleitos pontuais de produtos muito específicos relacionados ao setor mencionado, não havendo pleitos de caráter mais amplo”. A própria Cbic confirmou que as solicitações foram formalizadas em reuniões.
Na live para anunciar os resultados, os dirigentes da Cbic informaram que até agora têm sido ignorados pelo Ministério. Isso tem reduzido aos poucos as expectativas de crescimento para os próximos meses.
A Sondagem Indústria da Construção revela que a indústria da construção iniciou o ano com expectativa de crescer 4% em 2021, o que corresponderia à sua maior alta desde 2013. Com o cenário imposto pela falta de insumos, a estimativa do setor foi alterada para 2,5%.
ALTA DE INSUMOS
Em Mato Grosso do Sul, a situação com a alta nos preços de insumos não é diferente.
O presidente da Associação dos Construtores de Mato Grosso do Sul (Acomasul), Diego Canzi, explicou no mês passado que todos os produtos subiram em relação ao primeiro semestre de 2020, com reajustes que variam de 70% no tijolo a 150% nos fios elétricos, o que impacta diretamente o bolso do consumidor.
“Campo Grande sofreu muito com a falta de materiais e insumos, principalmente no segundo semestre do ano. Os produtos que ficaram mais escassos foram tijolo, ferro e fios elétricos, por conta da falta de cobre no mercado internacional. Todos os derivados do aço tiveram alta de 100%, o que atinge a retomada do setor imobiliário”, explicou Canzi.
Conforme o presidente do Sindicato Intermunicipal da Indústria da Construção do Estado de Mato Grosso do Sul (Sinduscon-MS), Amarildo Miranda Melo, alguns fornecedores aproveitam o momento para superfaturar em cima de materiais essenciais para a execução dos trabalhos.
“Não tinha motivo para o aumento excessivo, é importante que o governo tome as medidas necessárias, o mercado se acomoda, sendo vantagem para eles. O setor diminuiu muito sua produção, agora é o momento de reaquecer o mercado, estão com valores abusivos, é desleal isso que está acontecendo”, pontuou.


