A história de Campo Grande está tão ligada ao agronegócio que a cidade foi fundada por um produtor rural no século 19 e administrada por outro no século 20, os pecuaristas José Antônio Pereira e Lúdio Martins Coelho, o famoso Homem do Chapéu.
Nascido no antigo Arraial de Nossa Senhora da Piedade da Borda do Campo, hoje Barbacena (MG), José Antônio Pereira era filho de Manuel Antônio Pereira e de Francisca de Jesus Pereira, enquanto Lúdio Martins Coelho nasceu em Rio Brilhante, filho do casal de pecuaristas Laucídio de Souza Coelho e Lúcia Martins Coelho.
O fundador de Campo Grande mudou-se, já moço, para São João del Rei (MG), onde se casou com Maria Carolina de Oliveira e voltou para o povoado de São Francisco das Chagas do Monte Alegre, ainda em Minas Gerais.
Com o crescimento da família, as terras passam a ser poucas, tendo então de buscar novas alternativas. Com o fim da Guerra do Paraguai, muitos eram os relatos trazidos pelos militares de extensas terras de vacaria, devolutas, em Mato Grosso.
A história foi suficiente para fazer com que José Antônio Pereira se deslocasse até o sul de Mato Grosso, em 1872, formando a primeira comitiva.
No meio do caminho, ele encontrou terras de ótima qualidade, propícias à pecuária, na região de Campo Grande. José Antônio Pereira decidiu, então, fincar raiz na confluência dos córregos que hoje são conhecidos como Segredo e Prosa.
Em 1875, à frente de uma comitiva de 65 pessoas, praticamente toda a sua família, José Antônio Pereira deu início à segunda viagem rumo ao seu destino, a pequena propriedade que deixara em Campo Grande.
Em 14 de agosto de 1875, José Antônio Pereira chega ao local onde havia deixado sua roça. Mas em vez do zelador, encontrou Manuel Vieira de Sousa, o Manuel Olivério, que igualmente fora atraído para aquelas terras devolutas.
*Saiba
Lúdio Coelho foi prefeito de Campo Grande por duas vezes, uma de 20 de maio
de 1983 a 31 de dezembro de 1985 e a outra de 1º de janeiro de 1989 a 31 de dezembro de 1992.
Manuel Olivério manifesta intenção de devolver as terras, mas José Antônio lhe propõe parceria nas atividades pecuárias.
Homem do chapéu
A história de Lúdio Martins Coelho começou em Rio Brilhante, mas terminou em Campo Grande, cidade que escolheu para viver.
Desde jovem ele teve envolvimento com a pecuária, e coube a Lúdio gerenciar o Condomínio LS, com mais de 100 anos e que levava o nome de seu pai, além de administrar a marca LC, por ele criada.
O ex-prefeito também participou da instalação do primeiro frigorífico do Estado. Ele foi pioneiro nas atividades de reflorestamento e integração da agricultura com a pecuária, chegando a ser vice-presidente da Associação Brasileira dos Criadores de Zebu (ABCZ).
O pecuarista foi responsável pela criação do Bairro Aero Rancho, que antes era de sua propriedade. Sua vida também foi marcada pelo sequestro e assassinato de seu filho Lúdio Martins Coelho Filho, o Ludinho, com apenas 21 anos de idade, em 1976.
Porém, não era só na pecuária que ele era prodigioso, a política também lhe fascinava e, ao longo de sua carreira, conseguiu substituir a imagem do fazendeiro e latifundiário pela figura de um homem bonachão, firme nas suas convicções, mas sensível às necessidades dos mais carentes, sem apelar para a demagogia e o populismo barato.
Na gestão pública, adotou a política de execução de investimentos apenas com a garantia de recursos em caixa, o que não significou ausência de investimentos. Lúdio deflagrou ações como o asfaltamento de bairros como o Aero Rancho e as Moreninhas, duas das maiores regiões de Campo Grande.
Coube ao ex-prefeito, também, implementar o Sistema Integrado de Transportes (SIT), alicerçado em ônibus que circulavam entre terminais de transbordo e linhas expressas. Regularizou e urbanizou várias favelas, como a Comunidade Dona Neta e o corredor do Bairro Nova Lima.
Na área da infraestrutura, trouxe para Campo Grande a experiência da canalização em sistema de gabião no Córrego Prosa, iniciou o grande Anel Rodoviário, o prolongamento da Avenida Guaicurus e a duplicação da Avenida Marechal Deodoro, saída para Sidrolândia.
Também disputou o governo do Estado em duas ocasiões, sendo derrotado por Pedro Pedrossian e Marcelo Miranda. Três anos depois de deixar a prefeitura da Capital, foi eleito senador, período em que ocupou a vice-liderança do PSDB no Senado.
Ele também presidiu a legenda no Estado. Ao encerrar o mandato no Congresso Nacional, aos 80 anos de idade, Lúdio anunciou sua aposentadoria da vida pública, assumindo a presidência de honra do PSDB estadual.
Desde então, suas inserções no meio político foram raras, embora ainda fosse visto com frequência em eventos do setor rural. Desde 2009, quando foi internado por problemas de saúde, suas aparições se tornaram mais raras.
Ele faleceu no dia 22 de março de 2011, no Hospital Proncor, onde estava internado desde 17 de março, por conta de problemas cardíacos e de um quadro de diabetes, que se agravaram e causaram paralisia dos rins, dos pulmões e do coração.
Historiador
Para o historiador e sociólogo Paulo Cabral, classificar José Antônio Pereira como produtor rural é muito pouco, pois ele teria sido bem mais do que isso na sua existência. “Produtor rural talvez, mas, antes disso, foi um desbravador responsável pelo surgimento de Campo Grande”, resume.
Além disso, seus conhecimentos de medicina sertaneja salvaram muitas vidas na recém-fundada vila. De acordo com relatos de descendentes, ele sabia tratar os fraturados, preparava e administrava unguentos, xaropes, chás e garrafadas. Além disso, assistiu a muitos partos na Vila de Campo Grande.


