Os velhos gargalos logísticos de Mato Grosso do Sul ontem voltaram à pauta do governo federal, durante o 9º Encontro Regional do Plano Nacional de Logística (PNL) 2050, promovido pelo Ministério dos Transportes.
O evento teve como objetivo ouvir autoridades locais e representantes do setor produtivo sobre os principais entraves da infraestrutura regional. Entretanto, apesar da proposta de diálogo e da repetição de promessas, nenhuma medida concreta foi anunciada.
O encontro foi realizado na sede da Federação da Agricultura e Pecuária de Mato Grosso do Sul (Famasul) e contou com a participação de representantes dos governos federal e estadual e de outras unidades da Federação do Centro-Oeste.
Representando o governo de MS, o titular da Secretaria de Estado de Meio Ambiente, Desenvolvimento, Ciência, Tecnologia e Inovação (Semadesc), Jaime Verruck, destacou a necessidade urgente de investimentos em transporte ferroviário, melhorias nas rodovias, ampliação da hidrovia do Rio Paraguai e modernização dos aeroportos regionais.
Segundo ele, a competitividade de MS depende de um sistema logístico eficiente, que reduza custos e tempo no escoamento da produção, especialmente do agronegócio.
“Essas são as duas grandes questões [custo e tempo]. Para isso, a gente precisa investir em logística. Então, o que estamos discutindo é a importância de que hoje nós temos ainda um gargalo, que é a ferrovia. Essa matriz tem de ser alterada, e é o que está sendo discutido. Olhando para um horizonte de longo prazo, é como o Brasil vai ter os investimentos. Só que vai ter de priorizar, isso foi destacado pelo governo federal. Não existem recursos para fazer tudo que é necessário, nem estaduais nem federais. Então, a gente tem de priorizar quais são os principais gargalos”, ressalta Verruck.
PROMESSAS
A abordagem genérica e sem compromissos do evento repete um cenário que já se tornou comum em Mato Grosso do Sul. Como o Correio do Estado já mostrou em diversas reportagens, a recuperação da malha ferroviária, o potencial da hidrovia do Rio Paraguai e o alto custo logístico enfrentado por produtores rurais são temas debatidos há mais de uma década, com poucos avanços práticos.

Desde 2017, a reativação da Malha Oeste é prioridade da gestão estadual, que tenta viabilizar a relicitação da ferrovia que corta o Estado.
Em 2021, por exemplo, o governo estadual chegou a anunciar estudos para a reativação de trechos ferroviários, como o de Campo Grande a Três Lagoas, e para ampliar a utilização do Porto de Corumbá. Na prática, os investimentos emperraram em função de entraves ambientais, falta de recursos e indefinições do governo federal.
Também em relação à hidrovia, a expectativa de expansão da navegação fluvial na região de Porto Murtinho vem sendo discutida desde os anos 1990, mas a dragagem e a regularização do canal ainda esbarram em licenças ambientais e desinteresse político. Enquanto isso, o modal rodoviário continua sobrecarregado, com estradas deterioradas, custos elevados de manutenção e prejuízos à segurança viária.
“Hoje, todo esse modal está concentrado especificamente em caminhão. Quando você cria a intermodalidade, a ideia é que você tenha um custo de frete menor para levar os seus produtos para qualquer lugar do mundo. Mato Grosso do Sul é efetivamente exportador. E a outra questão é o tempo. Quando você tem o sistema logístico adequado, o tráfego flui melhor, então, a questão do tempo é fundamental. Quando se olha o sistema logístico, a gente tem que investir para reduzir custo e diminuir o tempo de levar os produtos até os consumidores ou até os outros países”, afirma Verruck.
Durante o evento, a subsecretária substituta do Ministério dos Transportes, Larissa Spínola, afirmou que o objetivo da etapa do PNL 2050 é ouvir os estados e construir um diagnóstico a partir da realidade local. “Precisamos percorrer o Brasil para entender o Brasil. Estamos aqui para ouvi-los”.
Mas, para quem lida com os gargalos diariamente, ouvir não basta. Segundo o presidente do Sindicato das Empresas de Transporte de Cargas e Logística de Mato Grosso do Sul (Setlog-MS), Cláudio Cavol, afirmou em outra ocasião ao Correio do Estado, a ausência de investimentos em infraestrutura reduz a competitividade da produção e encarece o frete. “A cada novo plano, a expectativa renasce, mas logo é substituída pela frustração”.
FALTA ORÇAMENTO
A proposta do PNL 2050 é criar um planejamento de longo prazo para os modais brasileiros, com base em dados técnicos e projeções até 2050. A metodologia considera mapas de saturação, fluxos de origem-destino, integração regional e sustentabilidade.
Apesar disso, o governo federal já reconheceu, durante o encontro, que não há orçamento suficiente para atender a todas as demandas levantadas pelos estados. Ou seja, a promessa de priorizar investimentos dependerá de articulações futuras e disputas políticas.
No caso de MS, a esperança se volta mais uma vez para a Rota Bioceânica, corredor internacional que ligará o Brasil ao Chile, passando por Paraguai e Argentina. A obra é vista como uma das poucas perspectivas reais de reestruturação logística no curto e médio prazo.
“O governo [de MS] tem priorizado como gargalo a questão da ferrovia. Entendemos que essa é uma prioridade porque nas rodovias temos dois projetos já em avanço. E que ele vai ser uma parte da solução que é a Rota Bioceânica”, finaliza Jaime Verruck.


