Depois de pouco mais de um ano da liberação da circulação dos caminhões bitrens brasileiros por rodovias paraguaias, o Ministério de Obras Públicas e Comunicações do Paraguai revogou, na segunda-feira, a resolução que permitia a entrada dos veículos. A medida oficializa uma suspensão que vinha depois de protestos organizados por caminheiros locais, conforme informações da agência de notícias EFE. Para Mato Grosso do Sul que enviava soja até o porto de Concepcion a saída será buscar novas rotas para escoamento via hidrovia, que poderão ser por porto de Murtinho ou mesmo Ladário.
O secretário de Meio Ambiente e Desenvolvimento Econômico Jaime Verruck, afirmou ontem que ainda que não havia sido comunicado oficialmente a respeito da suspensão. No entanto, ele lembrou que o governo paraguaio fez investimentos elevados no porto de Concepcion visando a exportação de soja brasileira pelo rio Paraguai, principalmente soja sul-mato-grossense. Na época foi feito um acordo com o governo paraguaio para que as carretas bitrens pudessem operar na rota Pedro Juan Caballero até Concepcion, pela Ruta 5, que receberia investimentos para permitir o tráfego de caminhões, e essas negociações envolviam, inclusive, os transportistas paraguaios. “Isso viabilizaria o porto de Concepcion.
Mas a partir do momento em que ocorre a suspensão, seja por qualquer motivo, questão de transporte local ou questão de estrutura de rodovias, fica praticamente inviável a exportação de soja por Concepcion. Hoje temos as opções de Porto Murtinho, que recebe investimentos, e Ladário. Concepcion seria mais uma alternativa”, afirmou.
A revogação ocorreu pouco antes do fim do prazo de um ano da suspensão que Horacio Cartes, ex-presidente do país, acertou com as transportadoras, que organizaram protestos contra a circulação no país desse tipo de caminhão (com dois semirreboques), especialmente os vindos do Brasil. Pela decisão anterior, só estava autorizada a circulação de caminhões brasileiros que transportavam soja pelo corredor entre a cidade de Pedro Juan Caballero, fronteira com Ponta Porã, até o porto de Concepción, a cerca de 215 quilômetros da fronteira. Porém, apesar da restrição, a categoria de caminhoneiros entendeu que a entrada dos bitrens carregados com soja representaria o início de um movimento maior, o que atingiria o poder de competição do mercado local. Em nota publicada pelo governo, o presidente da Federação de Caminhoneiros do Paraguai, Ángel Zaracho, disse que o governo cumpriu a promessa de proibir a circulação de bitrens. “(O governo) deixou sem efeito a resolução que permitia esse tipo de veículos de grande porte em nosso território, gerando assim uma concorrência desleal para os caminhoneiros locais”, afirmou à EFE.
Além da questão de mercado apontada pelos caminhoneiros, o tráfego de caminhões pesados do tipo bitrem é proibido em todo território paraguaio também devido ao impacto que esses veículos poderiam causar na malha viária. A autorização de janeiro do ano passado era em caráter experimental e se restringia ao transporte de cargas do Brasil até o Porto de Concepción e no sentido contrário.
Medidas
Verruck lembrou ainda que no Brasil, a maioria das operações são feitas por bitrem. Portanto, teria que fazer um transbordo na fronteira para os caminhões paraguaios – que não são bitrens – e isso gera um custo logístico que inviabilizaria a rota por Concepcion. “Vamos entrar em contato com o governo paraguaio, junto com os transportistas do Estado, as empresas que estavam envolvidas nessa operação, para que se faça uma discussão do porquê dessa proibição. Lembrando que a operação via Concepcion favorece muito mais o Paraguai do que o Brasil. Nós temos outras alternativas para transportar a soja pelo rio Paraguai.
Essa tratativa obedecia uma lógica de potencializar a hidrovia, dentro de uma parceria com o governo paraguaio, considerando o elevado investimento que eles fizeram no porto de Concepcion”, frisou.
EXPORTAÇÃO
Quando assinada, em 17 de janeiro do ano passado, a resolução liberando a exportação de soja foi comemorada pelo governo do Estado. A expectativa era de exportar pelo menos um milhão de toneladas da soja produzida em Mato Grosso do Sul pelo Porto de Concepción, no Paraguai. Um dos pontos positivos destacados pela a Secretaria Estadual de Meio Ambiente e Desenvolvimento Econômico (Semagro), na época, estava a potencialização das operações de exportação de soja pela hidrovia Paraguai-Paraná, além de representar uma nova rota de exportação de soja do Centro-Oeste brasileiro para a Argentina. O porto paraguaio era visto como uma segunda opção caso o de Porto Murtinho atingisse sua capacidade máxima de embarque.
* Matéria alterada às 18h08 para acréscimo de informações.