VERA HALFEN
O corte de cana-de-açúcar – que dependia totalmente de mão de obra humana – já começa a ser substituído pela mecanização. Mesmo assim, o setor sucroalcooleiro deve elevar em 15% a contratação de mão de obra física neste ano. Na última safra (2009/2010), 38% da colheita já foi feita com o uso de máquinas. Em 2010/2011, este índice vai passar para 70%. Para evitar o futuro desemprego desses trabalhadores, o Governo do Estado, a Associação dos Produtores de Bioenergia de Mato Grosso do Sul (BioSul), Fundação do Trabalho de MS (Funtrab) e Sistema S, vão qualificar em um período de seis meses, 775 trabalhadores em diversos setores das indústrias sucroalcooleiras. Além disso, Governo do Estado, Federal e BioSul traçam meta de mais três mil qualificações, que estão sendo pleiteadas ainda para 2010.
De acordo com o presidente da BioSul, Roberto Hollanda Filho, "A troca de mão de obra humana pela mecanizada não significa desemprego no campo, mas um avanço, porque será oferecido o Plano Setorial de Qualificação (Planseq)". Hollanda frisa que mesmo com a mecanização do setor, a previsão é de aumentar em 15% o número de trabalhadores, que hoje está em torno de 25 mil postos.
A justificativa é a expansão do plantio de cana. O prazo para eliminar 100% da queima nas lavouras de cana termina, no Estado, em 2016. Já o Governo Federal o estendeu por mais dois anos, ou seja, 2018, porém, de acordo com Hollanda, existe projeto para diminuir o prazo em um ano, antecipando para 2017.
De acordo com o presidente da Funtrab, Cícero Ávila, no dia 13, será lançado o plano de qualificação para 775 trabalhadores em cinco regiões do Estado, envolvendo 12 municípios (veja infográfico). Os recursos investidos são da ordem de R$ 1,522 milhão.
Já em relação ao Planseq para três mil trabalhadores, Ávila frisa que "ainda não temos o valor do investimento para qualificar essas pessoas. Os cursos serão os mesmos aplicados para os 775 trabalhadores que começam a estudar na segunda semana de abril. Esta é uma maneira de desenvolver os municípios e trazer empregos para reduzir as desigualdades regionais e entre os municípios considerados como as mais pobres do Estado".
Mão de obra
Ávila frisa, também, que o estoque de empregos formais do setor sucroalcooleiro é de 13.072 trabalhadores, sendo 7.816 na produção de álcool e 5.246 no setor sucroalcooleiro. "Um terço está ligado ao plantio e corte de cana. Isso é preocupante, por conta da mecanização. A partir de 2011 teremos um impacto no mercado de trabalho, nesse sentido. Por outro lado, 80% desse um terço são de empresas terceirizadas. Vale destacar que o grande grupo de empregos está na produção de álcool e açúcar, dentro da indústria, de modo que o impacto não será tão grande".
Ainda segundo Ávila, "a mecanização não só traz benefícios ao meio ambiente (evitando a queima), como elimina os postos de trabalho em um setor considerado penoso e difícil. Estudiosos dizem que a vida útil de um trabalhador no corte de cana é de 15 anos e, depois disso, ele fica inapto para o trabalho, por conta de doenças ocupacionais".
Em relação à expectativa de desemprego dos cortadores de cana, ele frisa que "com a economia crescendo sistematicamente em Mato Grosso do Sul, teremos, a partir de intervenção pública, condições de remanejar esses trabalhadores para outros setores no mercado de trabalho. O que temos que resolver é a questão indígena – que trabalha no corte e plantio de cana – embora já esteja acontecendo uma adaptação do índio ao mercado de trabalho. Temos que tomar cuidado para que não haja ruptura com os hábitos e costumes indígenas", conclui. (com colaboração de Adriana Molina).