China deve deixar de comprar carne norte-americana e aumentar compras do Brasil, elevando a cotação do boi em MS
Após atingir seu menor valor em junho do ano passado, em torno de R$ 260,00, a arroba do boi gordo em Mato Grosso do Sul valorizou e atingiu a cotação de R$ 335,00 em 28 de novembro. Em dezembro, sofreu novas pressões e voltou a ser cotada a R$ 300,00, valor que vinha se mantendo desde então. Já em fevereiro deste ano, a arroba, à vista, fechou em R$ 295,00, sendo cotada entre R$ 292,00 e R$ 290,00 em 12/3.
Os números são do Boletim Casa Rural deste mês, elaborado pelo Sistema de Inteligência e Gestão Territorial da Bovinocultura de Corte de Mato Grosso do Sul (Sigabov), do Sistema Famasul.
Para Carlos Guaritá, diretor da Leiloboi, leiloeira com 40 anos de mercado no Estado, a tendência da arroba do boi segue a situação do mercado interno, da economia, que “não vai bem na atual realidade brasileira, com inflação dos alimentos em alta, e isso pressiona o consumo, que vem caindo”.
Para ele, a guerra de tarifas entre os Estados Unidos (EUA) e a China pode beneficiar o mercado brasileiro da pecuária, com os asiáticos aumentando suas compras do Brasil, como de fato já vem acontecendo. “Os chineses compram boi e novilho, pagam melhor e isso deve melhorar o preço da arroba”, avalia Guaritá.
A China começou a cobrar tarifas de até 15% sobre frango, trigo e milho e 10% sobre soja, carne suína, carne bovina e frutas dos EUA, como retaliação ao aumento de tarifas sobre produtos chineses aprovado pelo presidente Donald Trump.
Na indústria, segundo fonte consultada pelo Correio do Estado, as escalas de abates voltaram a encurtar em Mato Grosso do Sul. Para o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), a notícia de que a China vai taxar a carne bovina dos EUA tem sido citada por alguns pecuaristas como motivo para aguardar reajustes dos preços.
Abates aumentaram neste ano
Segundo o Boletim Casa Rural deste mês, elaborado pelo Sigabov, foram abatidos cerca de 730 mil animais no primeiro bimestre deste ano no Estado. Esse volume é 21% maior do que a média de animais abatidos nos últimos cinco anos e 9% superior ao mesmo período do ano passado. Somente em 2014, abateu-se mais animais no primeiro bimestre do que em 2025, cerca de 8% a mais do que o ano atual.
Quando considerado o período de 2015 a 2025, este ano é o que apresenta o maior número de animais abatidos no primeiro bimestre.
O abate de fêmeas neste ano é 24% maior do que a média dos últimos cinco anos. Além disso, o total de abate de fêmeas no primeiro bimestre de 2025 foi 12% maior do que no primeiro bimestre de 2024.
Bezerros em falta
Segundo o Sigabov, o aumento nos preços das novilhas e vacas magras no início deste ano pode indicar um ciclo de retenção, em que os pecuaristas buscam recompor o plantel para aumentar a produção de bezerros. No entanto, a alta recente no abate de fêmeas pode ser um sinal de que esse movimento está sendo revisado, o que pode impactar a oferta futura de bezerros.
Se o abate de fêmeas permanecer alto, pode haver impacto na oferta de bezerros nos próximos anos, pressionando a oferta de boi gordo e limitando a oferta de bezerros no futuro, sustentando os preços da reposição.
Essa tendência é confirmado pelo empresário Guaritá. “No ano passado, foi grande a proporção de abates de fêmeas, mandaram muita vaca prenha para o frigorífico, ou seja, abateram a matriz e a cria dela.
Seguramente a oferta de bezerros neste ano e nos próximos vai cair, e a tendência é de elevação dos preços”, analisa.
Para quem vende reposição, o momento pode ser oportuno para a comercialização de animais. Já para os invernistas, o custo de aquisição está alto, o que pode reduzir margens de lucro, se a arroba do boi gordo não acompanhar a alta da reposição.
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