Os trabalhadores com carteira assinada em Mato Grosso do Sul contrataram R$ 1,3 bilhão em empréstimos consignados na modalidade CLT, de acordo com dados inéditos enviados pelo Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) ao Correio do Estado. Foram firmados 242.516 contratos no Crédito do Trabalhador, por 129.079 pessoas, com prestação média mensal de R$ 255,00, e valor médio de empréstimo de R$ 5.732,26.
Considerando que o programa foi lançado em 21 de março, e que já foram 136 dias úteis, é possível afirmar que, em média, 950 trabalhadores aderiram ao empréstimo celetista diariamente. Ao considerarmos que no período foram 242.516 contratos, são 1,7 mil empréstimos por dia no Estado.
Mato Grosso do Sul tem 572,5 mil contas ativas no Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS), ou seja, 22,5% desses trabalhadores contraíram empréstimo na modalidade consignada.
Conforme já publicado pelo Correio do Estado, o número de trabalhadores que aderiu à modalidade saque-aniversário (outra modalidade de crédito) chega a 63% do total, ou 361,7 mil trabalhadores.
No cenário nacional, o consignado celetista já soma 10.723.588 contratos, beneficiando 6.480.552 trabalhadores. O valor médio por contrato é de R$ 6.402,18, enquanto o valor médio tomado por trabalhador chega a R$ 10.593,90. A parcela mensal média é de R$ 276,24, distribuída em 23 prestações, com juros médios de 3,17% ao mês.
Ao aplicarmos a mesma lógica, por dia, são 47,6 mil trabalhadores que contrataram o crédito descontado em folha de pagamento e 78,8 mil empréstimos realizados diariamente em todo o Brasil.

CONSOLIDAÇÃO
O montante expressivo confirma a consolidação do crédito consignado entre os empregados do setor privado, modalidade criada para permitir desconto em folha e utilização do FGTS como garantia.
Esses números revelam não apenas o avanço do crédito formal no Brasil, mas também o crescimento do endividamento entre trabalhadores de baixa e média renda, que passaram a recorrer à folha de pagamento como principal fonte de garantia para novos empréstimos.
Para o economista Eugênio Pavão, o aumento na contratação de crédito consignado reflete o cenário econômico do País, com inflação persistente e perda de poder de compra.
“Na macroeconomia, temos a inflação, a valorização do dólar e os desafios da política fiscal. Na microeconomia, temos as questões de endividamento das famílias. Diante desse quadro, a possibilidade de empréstimo para os trabalhadores da iniciativa privada e pública se torna uma opção frente aos altos juros das modalidades de crédito existentes no mercado”.
O ministro do Trabalho e Emprego, Luiz Marinho, ressalta a importância de fugir dos juros altos do cartão de crédito. “O programa melhora a qualidade de vida das famílias trabalhadoras, que podem tomar um crédito com juros mais baixos, visto que os empréstimos têm garantias que chegam a 10% do FGTS”, diz, e recomenda que “o trabalhador precisa ter cautela para fazer o empréstimo e pesquisar as melhores taxas”.
De acordo com o MTE, um mesmo trabalhador pode ter mais de um contrato ativo, o que explica a diferença entre o número de operações e o total de beneficiários. Essa prática, embora comum, preocupa economistas porque a soma das parcelas pode comprometer boa parte da renda mensal.
A análise dos dados mostra que o valor médio das parcelas em Mato Grosso do Sul (R$ 255,00) é inferior à média nacional (R$ 276,24), mas o comprometimento é proporcionalmente maior quando comparado à renda média local, que é mais baixa que a dos grandes centros.
TROCA
Desde 25 de abril, trabalhadores com carteira assinada foram autorizados a migrar dívidas de empréstimo consignado ou de crédito direto ao consumidor (CDC) para o Crédito do Trabalhador, que oferece juros mais baixos.
A troca é vantajosa apenas se o novo crédito oferecer juros menores. Enquanto o CDC tem taxas de 7% a 8% ao mês, o Crédito do Trabalhador oferece taxas em torno de 3%, chegando a 1,6% em alguns bancos.
No Banco do Brasil, por exemplo, a taxa oferecida está entre 1,46% e 3% ao mês. Já na Caixa as taxas oferecidas estão entre 1,60% e 3,17% ao mês.
Bancos podem oferecer a migração diretamente aos clientes, mas, se as condições não forem vantajosas, o trabalhador pode optar pela portabilidade para outra instituição.
“Para tomar esse empréstimo, é vantajoso ao trabalhador trocar uma dívida mais cara por essa em consignação, o trabalhador tem que simular os juros e encargos, comparando a dívida atual e a nova”, considera Pavão e finaliza.
“Em caso de necessidade do empréstimo, parte do salário será retido no contracheque, reduzindo a renda líquida disponível, sendo necessário cuidado para não aumentar o desconforto econômico”.


