Indo na contramão, Campo Grande foi a única entre 16 capitais brasileiras monitoradas pelo índice da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe), o FipeZap, a iniciar o ano com desvalorização no preço de venda de imóveis residenciais. De acordo com o levantamento, a leve queda registrada em janeiro foi de 0,14%.
Por outro lado, 15 capitais contaram com valorização nos preços de comercialização em janeiro deste ano. Os incrementos mais expressivos se deram em três grandes cidades: Goiânia (GO), onde o aumento foi de 1,61%, seguido por Vitória (ES), com 0,85%, e João Pessoa (PB), com variação positiva de 0,76%. Belo Horizonte (MG), com 0,75%, e Curitiba (PR), com 0,57%, também foram destaques positivos no País.
Já a média nacional, com base no comportamento dos preços de venda de imóveis residenciais em 50 cidades, ficou em 0,36%, o que representa uma ligeira aceleração dos valores em relação aos de dezembro do ano passado (0,29%).
Comparativamente, o Índice Geral de Preços – Mercado (IGP-M) exibiu discreta inflação mensal de 0,07%, e para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a inflação ao consumidor foi de 0,31%.
O doutor em Economia Michel Constantino destaca que estatisticamente a queda apresentada para Campo Grande realmente é pequena, contudo, pode mostrar alguma tendência de mercado.
“O mercado imobiliário é sensível à taxa de juros e aos incentivos futuros. Assim, no início do ano, os grandes investidores ainda estão avaliando o movimento do mercado e os pequenos compradores pagando os tributos dos quatro primeiros meses do ano”, pondera.
Já o economista Eduardo Matos ressalta que existem alguns fenômenos que podem explicar e que diferem a capital sul-mato-grossense das demais. “Campo Grande tem uma abundância de terra, fator que interferiu nos anos anteriores, resultando em queda, e que também afetou o setor imobiliário, por conta da inflação dessas residências”, destaca.
Matos pontua ainda que os imóveis ainda seguem com valores muito elevados, tendência que, de acordo com sua análise, deve ser mantida.
“O movimento ocorre justamente pelo fato da população ter noção da vasta disponibilidade de terra. Sendo assim, os possíveis compradores não estão dispostos a pagar o preço que o mercado está oferecendo”, opina.
Ao mesmo tempo, o economista cita como justificativa a inflação nos materiais de construção, que tiveram expansão nos últimos anos, com destaque para o período de pandemia da Covid-19, o que elevou o custo da construção de imóveis. Outro agravante para ele é a taxa de juros.
“No Brasil, a taxa de juros esteve elevada por muitos anos, e nisso o crédito imobiliário entra como um dos mais prejudicados. Então, Campo Grande acaba sofrendo um pouco mais, visto que o encarecimento não está de acordo com a abundância de terrenos e terras”, afirma.
SETOR
Presidente do Sindicato da Habitação de Mato Grosso do Sul (Secovi-MS), Geraldo Paiva salienta que o porcentual negativo de 0,14% nos preços é considerado como estabilidade, uma vez que é baixo, e que o mercado acaba o desconsiderando.
“É importante perceber que Campo Grande está produzindo [Cartas de] Habite-se em quantidade inferior ao aumento constatado pelo IBGE da população na cidade. Esse reflexo está sendo adiado exclusivamente pela manutenção na taxa de juros disponível ao mercado imobiliário”, detalha.
Paiva ainda acrescenta que, desde de dezembro do ano passado, não houve alta nos preços de imóveis residências nem aumento na demanda em todo o Estado. “Acredito muito que são reflexos dos preços das commodities e da lenta redução nos juros de mercado”, adiciona.
Em complemento, o presidente do Conselho Regional de Corretores de Imóveis da 14ª Região (Creci-MS), Eli Rodrigues, confirma que essa foi uma queda muito pequena. Entretanto, ele pontua que, de qualquer forma, a queda pode ter ocorrido em virtude de hábitos do mercado. “Em fim de ano, algumas pessoas aumentam valores dos imóveis na esperança de ter um lucro maior, já que tem a tradição de compra de fim de ano”, revela.
REGIÕES
Segundo o levantamento, a região campo-grandense mais valorizada é a Prosa, com preço médio de R$ R$ 8.772 por metro quadrado (m²) no primeiro mês do ano, acumulando variação positiva de 19,5% em 12 meses.
Na sequência, o Centro aparece com o metro quadrado custando, em média, R$ 5.707, uma alta de 8,9%. Em terceiro lugar, a região Bandeira tem valor médio de R$ 5.264/m² ou 7,7% de acumulado em 12 meses.
Apresentando desvalorização em janeiro está somente a região Segredo, que exibe o valor médio de R$ 4.188/m² e queda de -5%. Em contraste, a região Lagoa foi a que mais apresentou aumento nos últimos 12 meses, com variação de positiva de 20,9% e preço do metro quadrado comercializado a R$ 3.792, em média.
A região Anhanduizinho é a próxima do ranking, com o metro quadrado valendo em média R$ 3.348, alta de 15,4% em janeiro deste ano. Já o Imbirussu tem valor médio saindo por R$ 3.150/m², aumento de 1,4%.
A presidente do Sindicato dos Corretores de Imóveis de Mato Grosso do Sul (Sindimóveis-MS), Luciana de Almeida, reforça que atualmente Campo Grande é uma das 50 cidades brasileiras mais caras para se morar.
“Quando se analisa o valor do metro quadrado de imóveis, as construções residenciais têm se destacado, [o que] resulta na ocupação de grandes áreas e na valorização de toda a região que engloba”, enfatiza, citando como exemplo a região Prosa,
a que mais teve o metro quadrado médio valorizado.
EXPECTATIVAS
Representantes do setor econômico e imobiliário de Mato Grosso do Sul fazem projeções para este ano de forma positiva. Para eles, a tendência será de aquecimento motivado pelo panorama econômico, com destaque para a queda da taxa básica de juros do País, a Selic, além da atualização do programa Minha Casa, Minha Vida (MCMV).
“A queda de juros pelo Banco Central deverá elevar as vendas para a classe média. A categoria de imóveis mais valorizados dependerá muito da performance do agronegócio nas próximas safras”, analisa o presidente do Secovi-MS.
Já Luciana pontua que, para vislumbrar o mercado imobiliário neste ano, é preciso recordar que, em 2023, ocorreu o início de um novo governo, a queda da Selic e a retomada do MCMV. “Esperamos que com a recente queda da taxa Selic, o Banco Central flexibilize um pouco a sua política monetária, para estimular positivamente o mercado imobiliário”, frisa.
Otimista, o presidente do Creci-MS ainda afirma que, neste ano, a expectativa para o segmento segue positiva, com relação às vendas e aos lançamentos de empreendimentos imobiliários. “Podemos somar as alterações dos financiamentos do MCMV e os aumentos do valor final do imóvel, que trouxeram uma acomodação e um favorecimento àqueles que precisam desse tipo de financiamento”, finaliza.
Considerando o panorama econômico, Constantino ressalta que o ano será promissor. “Com a tendência de queda de juros, vai depender do crescimento econômico, que no nosso estado está baseado no agronegócio e nos serviços ligados à cadeia agroindustrial”, conclui.