Um ano após a Petrobras anunciar a retomada das obras da Unidade de Fertilizantes Nitrogenados (UFN3), em Três Lagoas, a estatal adiou para daqui a 12 meses o início da produção de fertilizantes nitrogenados, agora fixado para 2029, conforme seu Plano Estratégico 20262030.
Mesmo sem informar se o cronograma de início das obras será prorrogado, a mudança deve frustrar a expectativa do governo federal em lançar, pelo menos, o início das obras.
Inicialmente o plano, conforme já adiantou o Correio do Estado, era de que as obras fossem entregues ainda durante o chamado Lula 3 – terceira vez que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ocupa o cargo. Conforme o Plano Estratégico, a empresa mantém a concorrência em curso e receberá propostas de contratação até o fim deste mês, etapa que antecede a mobilização do canteiro.
Sem contrato assinado nem empreiteira definida, interlocutores do setor já trabalham com a realidade de que nem o início da obra, antes marcado para 2026, deverá ser cumprido no prazo inicialmente alinhado ao mandato federal.
Conforme já informado pela reportagem, a obra deve levar em torno de dois anos para ficar pronta, considerando que o início da operação foi postergado para 2029, as obras devem iniciar em 2027.
No fato relevante que comenta a aprovação do Plano, a companhia afirma que, “no segmento de Fertilizantes, o principal projeto de investimento é a conclusão da UFN3, em Três Lagoas. Para os demais ativos, que são as Fábricas de Fertilizantes Nitrogenados da Bahia e de Sergipe [Fafen-BA e Fafen-SE, respectivamente] e a Araucária Nitrogenados S.A. [Ansa], o foco dos investimentos é na continuidade operacional”.
Em outro trecho, a estatal reforça que, “além disso, a Petrobras dispõe de recursos destinados a estudo e pesquisa para projetos em petroquímica, reafirmando seu interesse nesse segmento, considerando o potencial de geração de valor e sinergias com suas operações atuais”.
O documento estratégico, além de fertilizantes e petroquímica, também dá ênfase à otimização de capex em continuidade operacional e integração de sinergias com refino e rotas de gás natural, mas desloca a entrada em operação e a produção em larga escala para 2029.

PRIORIDADE
A presidente da Petrobras, Magda Chambriard, reafirmou em setembro o compromisso da estatal com a conclusão da fábrica. O anúncio, feito durante evento público, reacendeu expectativas em torno de uma das promessas mais repetidas e menos cumpridas da história recente da empresa e do governo federal em Mato Grosso do Sul.
“Nos comprometemos com as fábricas de fertilizantes. A Ansa, no Paraná, está voltando a operar, as Fafens [Fábricas de Fertilizantes Nitrogenados] Bahia e Sergipe já estão contratadas, terão manutenção a partir de agora e serão dispendidos R$ 38 milhões em cada uma para manutenção, e vão voltar a funcionar em janeiro do ano que vem”, afirmou a executiva, ao detalhar o plano de retomada do setor de fertilizantes da Petrobras.
Magda acrescentou que com as três fábricas funcionando, de Paraná, Bahia e Sergipe, a estatal terá a capacidade de fornecer 20% dos fertilizantes nitrogenados do Brasil.
“Ainda falta uma, a UFN3, a fábrica de fertilizantes do Centro-Oeste, que já está sendo contratada. Ela vai ficar pronta e, quando estiver pronta, vamos ser capazes de entregar 35% de todo o fertilizante nitrogenado que o País necessita”.
Em junho, o Correio do Estado antecipou, com exclusividade, que a operação da UFN3 não ocorreria antes de 2028, contrariando a expectativa inicial de que a planta poderia estar em funcionamento já a partir de 2026.
O novo cronograma já havia sido admitido pela ministra do Planejamento e Orçamento, Simone Tebet, ao Correio do Estado. “O prazo para apresentar as propostas foi estendido. Quando um prazo muda, arrasta todos os outros”.
Essa sequência de adiamentos contrasta com os anúncios de retomada feitos ao longo dos últimos anos. Em novembro de 2023, o então presidente da estatal, Jean Paul Prates, disse que o projeto finalmente teria andamento. Passados quase dois anos, pouco ou quase nada mudou.
O discurso de prioridade da Petrobras, no entanto, contrasta com a realidade de um projeto que, desde 2014, permanece paralisado, mesmo estando com mais de 80% das estruturas concluídas.
“O que eu fiquei bastante satisfeito é com o nível de prioridade que ela [Magda Chambriard] me passou”, ponderou o secretário de Estado de Meio Ambiente, Desenvolvimento, Ciência, Tecnologia e Inovação (Semadesc), Jaime Verruck, à reportagem na época.
Mesmo que as frentes de trabalho voltem ao canteiro de obras no próximo ano, a produção efetiva de ureia só começará em 2029. A conclusão demandará um investimento de US$ 800 milhões.
HISTÓRICO
A UFN3 foi lançada em 2008, com o objetivo de reduzir a dependência externa de fertilizantes e fortalecer o agronegócio nacional. Orçada inicialmente em R$ 3 bilhões, a obra foi interrompida em 2014, durante o governo de Dilma Rousseff, após a Petrobras romper contrato com a construtora Galvão Engenharia, envolvida na Operação Lava Jato.
As promessas de conclusão passaram por diferentes governos e gestões da Petrobras. Durante a administração de Michel Temer, em 2018, a estatal tentou vender a fábrica para o grupo russo Acron, negócio que não avançou. Na gestão de Jair Bolsonaro, o ativo chegou a ser incluído em pacotes de privatização, novamente sem êxito.
Com a volta de Lula à Presidência, em 2023, o discurso mudou. A Petrobras retomou a narrativa de “reviver” o setor de fertilizantes, classificado como estratégico para a soberania nacional.
Ainda assim, o cronograma continua se arrastando, e a companhia admite que o projeto de Três Lagoas é o mais complexo do portfólio, exigindo revisão de contratos, atualização tecnológica e novos estudos de viabilidade.


