Levantamento realizado pela reportagem do Correio do Estado aponta que os produtos subiram até 25% na Capital
Os produtos tradicionalmente consumidos nas festas natalinas ficaram mais caros em comparação ao Natal do ano passado. Levantamento realizado pela reportagem aponta que, considerando os mesmos 13 itens das mesmas marcas em uma mesma rede de supermercados, o conjunto de alimentos ficou 25% mais caro no intervalo de 12 meses.
A cesta pesquisada no Atacadão pela Secretaria Executiva de Orientação e Defesa do Consumidor (Procon-MS) em dezembro de 2023 somava R$ 253,29, enquanto na visita à rede atacadista realizada nesta sexta-feira a reportagem encontrou o total de R$ 317,39 para os mesmos 13 produtos.
Conforme o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) – a inflação oficial do País –, no acumulado de 12 meses, Campo Grande registrou alta de 5,06%. Ou seja, a cesta de produtos natalinos subiu cinco vezes mais que a inflação da Capital.
De acordo com o economista Eduardo Matos, a crise climática impactou a produção de alimentos como um todo. “A produção agrícola cai por falta de chuva. Então, nesses itens, em razão de uma produção menor e da demanda instável, o aumento ocorre no processo”, analisa.
Matos destaca ainda que, assim como a carne bovina, as aves natalinas subiram no período. Entre os itens que apresentaram grandes variações está a uva verde sem semente (embalagem com 500 g), que saiu de R$ 9,65 em 2023 para R$ 14,80 neste ano – um aumento de 53,36%.
Outro produto com grande elevação de preços foi a lentilha. A embalagem com 500 g de lentilha da marca Yoki custava R$ 12,29 em dezembro de 2023 e passou a R$ 14,20 neste mês – uma alta de 15,54%.
CONSUMIDORES
Entre a clientela entrevistada, a maioria confirmou o que a pesquisa aponta: o encarecimento dos principais itens consumidos no período. Mônica Silva, 56 anos, vendedora, saía do Atacadão com apenas quatro sacolas de compras.
“Para o Natal, nossa ceia deste ano vai ser bem cara, imagino. A gente compra quase nada e já gasta ‘cenhão’. Hoje não vim comprar nada para a ceia de Natal, mas está tudo muito caro. Nesta semana fizemos um churrasco para seis pessoas e gastamos quase R$ 500. Se formos comparar com a ceia natalina do ano passado, nos reunimos em mais ou menos 20 pessoas, aí você já imagina quanto vai custar?”, questionou.
A campo-grandense Valquíria Ramos, 35 anos, casada, do lar e mãe de duas filhas pequenas, concordou que está difícil preparar uma refeição completa.
“Vim pensando nas compras de Natal. Olhei o preço de peru, de fiesta, mas não vou comprar nada disso, achei tudo caro. Acho que vou trocar o Chester por aves natalinas. Neste ano não vou poder gastar muito e passarei apenas com a minha família, em casa. [Com relação] às crianças, vamos reduzir os presentes, e elas já sabem disso [risos]”, brincou.
O mecânico João Ramos Duarte, 65 anos, disse que vai repensar a ceia do dia 24.
“Está tudo um pouco salgado. Já avisei minha esposa que neste ano teremos que repensar a ceia, trocar o chester, talvez fazer um churrasquinho em família, algo mais tranquilo, porque não poderemos gastar muito. Vamos manter a tradição ao máximo, as mesmas sobremesas, os mesmos costumes, mas teremos que adaptar alguns hábitos, talvez reduzir nos presentes”, sugeriu.
PRODUTOS
A variação de preços de um mesmo produto encontrada entre os supermercados visitados nesta sexta-feira demanda atenção e pesquisa do consumidor da Capital.
Foram aferidos preços em cinco diferentes supermercados de Campo Grande, entre atacadistas e varejistas. O item com a maior variação de preços foi o chocottone Bauducco com 400 g: enquanto o produto era comercializado a R$ 18,99 no Fort, o Comper vendia o mesmo item a R$ 31,49 – uma diferença de 65% entre as bandeiras do mesmo grupo.
Entre as principais carnes consumidas nas ceias de Natal, o quilo do peru da marca Sadia, por exemplo, variava 24%, custando R$ 26,45 no Atacadão e saindo por R$ 32,98 no Comper.
Já o quilo do pernil suíno da marca Seara variava 23,25% nesta sexta-feira: enquanto no Assaí custava R$ 19,39, no Pão de Açúcar o quilo do corte era comercializado a R$ 23,90.
Ainda entre os cortes suínos, o quilo do lombo Sadia apresentou uma variação de 24,53%: enquanto no Pão de Açúcar o item saía por R$ 28,90, no Comper o quilo era vendido a R$ 35,99.
NACIONAL
Segundo levantamento realizado pela Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (Fecomércio-SP), a ceia natalina dos brasileiros está 9,54% mais cara neste ano, em comparação com o Natal passado.
Com base nas informações do Índice de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a entidade aponta que as altas de itens como batata, azeite, arroz e alho ao longo deste ano foram as maiores responsáveis pelo encarecimento da cesta de alimentos que integra o jantar natalino.
“É uma taxa acima até mesmo da inflação geral do País, a qual, no acumulado dos últimos 12 meses até novembro, ficou em 4,77%”, ressaltou a Fecomércio-SP.
A entidade orienta que os consumidores tentem fazer as compras em dias de promoção, o que é uma estratégia comum dos estabelecimentos nessa época do ano. Aproveitar ofertas disponíveis em aplicativos e fazer os pagamentos das compras pelo Pix também podem garantir mais descontos.
A antecipação das compras é outra possibilidade apontada pela entidade, “porque o consumo desses itens se aquece à medida que as festas de fim de ano se aproximam. Por isso, os produtos vão ficando mais raros (e caros) nas gôndolas”.
INFLAÇÃO
Conforme adiantou o Correio do Estado na semana passada, os principais vilões da inflação são os alimentos que fazem parte da alimentação básica da população. Na hora de fazer supermercado, as carnes têm sofrido o maior impacto no carrinho de compras. A carne de porco acumula alta de 15,38% no ano e de 15,57% em 12 meses.
Ainda de acordo com o IBGE, cortes bovinos como a alcatra subiram 23,96% até novembro e 24,77% nos 12 meses. A costela, tradicional corte do churrasco, acumula alta de 29,82% neste ano e 27,06% no intervalo de 12 meses.
Economista do Sindicato Rural de Campo Grande, Rochedo e Corguinho (SRCG), Staney Barbosa Melo aponta que há uma redução da oferta de animais.
“No caso da carne bovina, por se tratar de uma produção de ciclo alongado, os estoques de animais oriundos da retenção de fêmeas entre 2020 e 2022 foram suficientes para impedir uma elevação agressiva nos preços da carne bovina em 2023 e neste ano”, comenta.
“Ainda que os problemas de clima tenham também afetado o elo pecuário, o impacto ainda é razoável, como pode ser observado ao longo dos 12 meses considerados”, ressalta o economista.
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