Mesmo com a queda de 6% no valor da arroba do boi em Mato Grosso do Sul, a carne bovina vendida ao consumidor final não seguiu a mesma tendência. Em Campo Grande, levantamento feito pela reportagem mostra que, entre maio e julho deste ano, os preços médios de cortes populares e nobres se mantiveram estáveis, com algumas altas discretas.
A arroba do boi gordo chegou a recuar 6% ou R$ 17,65, saindo de R$ 303,30, no dia 7 de julho – antes do anúncio de Donald Trump –, e chegando a R$ 285,65, no dia 21 de julho, conforme dados da Granos Corretora. No comparativo com o dia 27 de junho, quando a arroba era negociada a R$ 307,20, a queda foi de R$ 21,55 (7%).
A retração foi impulsionada pela incerteza gerada com o anúncio do tarifaço pelo presidente dos Estados Unidos, que aplicou uma sobretaxa de 40% sobre os 10% já existentes sobre as importações de carne bovina brasileira. No entanto, essa baixa no valor pago ao pecuarista não foi repassada ao consumidor campo-grandense.
Pesquisa realizada pela reportagem em açougues, casas de carnes e supermercados visitados em maio aponta que, entre os cortes mais consumidos, o contrafilé seguiu com preço médio de R$ 51,91 por quilo, sem nenhuma oscilação entre maio e julho.
Já o valor médio do coxão mole, que era de R$ 47,42 em maio, subiu para R$ 48,41. O quilo do coxão duro teve aumento mais expressivo, passando de R$ 43,41 para R$ 46,69.
A costela bovina, corte mais acessível, foi o único a registrar queda real, passando de R$ 24,41 para R$ 23,16. Já a picanha, corte nobre, teve leve recuo de R$ 88,94 para R$ 84,90. Os números mostram que a baixa da arroba foi absorvida na cadeia produtiva antes de chegar às gôndolas dos supermercados ou ao balcão dos açougues.

ARROBA
Em Mato Grosso do Sul, onde o agronegócio é o principal motor da economia, o movimento de pressão dos frigoríficos já se reflete no mercado físico. Ainda segundo dados da Granos Corretora, do dia 7 de julho até ontem, a arroba do boi gordo teve reação e passou a ser negociada a R$ 293,04. Apesar da leve alta, o valor segue 3,3% abaixo do patamar anterior ao anúncio do tarifaço.
Conforme já informado pelo Correio do Estado, os pecuaristas de MS avaliam com preocupação esse movimento. Em nota, a União Nacional da Pecuária (UNP), da qual a Associação dos Criadores de Mato Grosso do Sul (Acrissul) faz parte, destacou que a reação da indústria frigorífica, que tenta forçar a baixa da arroba, é considerada “inaceitável”.
“Apesar do alarde gerado, o impacto prático da medida tende a ser limitado”, afirmou a entidade.
“O que preocupa o setor é o movimento de algumas indústrias, que tentam utilizar esse cenário como justificativa para pressionar a queda do valor da arroba”.
Para o presidente da Associação Sul-Mato-Grossense dos Criadores de Nelore (Nelore-MS), Paulo Matos, trata-se de uma estratégia deliberada da indústria para transferir ao produtor os efeitos de uma disputa comercial.
“Os EUA compram apenas 8% da carne que exportamos, o que representa 2,3% da produção brasileira. Falar em colapso de mercado interno é, no mínimo, má-fé. É um discurso criado para tentar jogar a conta dessas tarifas em cima do produtor, pagando menos pelo nosso boi,” criticou Matos.
TARIFAÇO
O novo imposto norte-americano recai diretamente sobre a carne bovina brasileira. A medida ampliou para 50% a tarifa sobre o produto nacional, afetando parte do que é enviado ao mercado externo. No entanto, a relevância dos EUA como destino da carne brasileira é considerada pequena, o que explica a avaliação de impacto limitado.
O governador Eduardo Riedel disse que a carne bovina “talvez seja o produto mais sensível” entre os atingidos pelo tarifaço e que as tratativas estão sendo conduzidas no âmbito federal. Segundo ele, o Estado acompanha os desdobramentos, junto ao governo federal e ao Senado, das negociações, em busca de soluções diplomáticas.
“Os senadores estão voltando de lá com muitas informações, então, estamos acompanhando esse passo a passo. O que estiver ao nosso alcance e nos compensar nessa negociação com o governo americano, será esse o nosso foco”, disse durante agenda na manhã de ontem.




