IPCA vai a 5,06% no acumulado de 12 meses, acima do teto da meta; carnes, arroz, mandioca e frutas puxam o índice
A estiagem em grande parte do ano e a falta de ofertas de animais e alguns produtos de hortifrúti já afetam os preços dos principais alimentos consumidos pelos brasileiros. A alta de preços de carnes, arroz, batata, mandioca, frutas e hortaliças já resulta em inflação acima do teto da meta estabelecida pelo Banco Central (BC) para este ano, de 4,5%.
Conforme o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), a inflação oficial do País, no mês passado, Campo Grande registrou alta de 0,63%, a segunda maior inflação do Brasil para novembro.
No acumulado do ano, o IPCA tem alta de 4,61% e, nos últimos 12 meses, de 5,06%. A inflação do País foi de 0,39% em novembro, no ano acumula alta de 4,29% e nos últimos 12 meses, alta de 4,87%.
Os principais “vilões” da inflação são os alimentos que fazem parte da alimentação básica da população. Conforme adiantou o Correio do Estado na semana passada, as carnes têm tido o maior impacto na hora de fazer as compras. A carne de porco acumula alta de 15,38% no ano e de 15,57% em 12 meses.
Ainda de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), cortes bovinos como a alcatra subiram 23,96% até novembro e 24,77% em 12 meses. A costela, tradicional corte do churrasco, acumula alta de 29,82% neste ano e de 27,06% no intervalo de 12 meses.
Economista do Sindicato Rural de Campo Grande, Rochedo e Corguinho (SRCG), Staney Barbosa Melo aponta que há uma redução da oferta de animais.
“No caso da carne bovina, por se tratar de uma produção de ciclo alongado, os estoques de animais oriundos da retenção de fêmeas entre os anos de 2020 e 2022 foram suficientes para impedir uma elevação agressiva nos preços da carne bovina em 2023 e 2024. Ainda que os problemas de clima tenham também afetado o elo pecuário, o impacto ainda é razoável, como pode ser observado ao longo dos 12 meses considerados”, ressalta o economista.
De acordo com o economista Eduardo Matos, a crise climática impactou a produção de alimentos como um todo. “A produção agrícola cai por falta de chuva, então, nesses itens, em razão de uma produção menor e da demanda estável, o aumento ocorre no processo”.
“A alta dos [itens] alimentícios foi influenciada, principalmente, pelas carnes, que subiram mais de 8% em novembro. A menor oferta de animais para abate e o maior volume de exportações reduziram a oferta do produto”, ressalta o gerente de IPCA e INPC, André Almeida.
Matos destaca ainda que a carne foi um dos produtos que apresentou maior alta.
“O item subiu progressivamente nos últimos meses, muito em função da diminuição dos abates nos frigoríficos, então, há uma oferta menor no mercado interno e, por isso, aumento do nível de preço”, aponta.
PREÇOS
Conforme levantamento realizado pelo Correio do Estado na semana passada, os preços da carne bovina tiveram uma queda expressiva em 2023 e voltaram a subir neste ano. A reportagem aferiu preços em supermercados, casas de carnes e açougues de Campo Grande.
O corte com o quilo mais barato foi o da costela, que varia entre R$ 22,89 e R$ 26,98, resultando em uma média de R$ 24,94 por quilo. Quando comparado ao preço médio encontrado em setembro do ano passado, o aumento identificado é de 15,20%.
O contrafilé, por exemplo, subiu de R$ 34,30, em setembro de 2023, para R$ 49,38, neste mês, ou seja, um salto de 43,97% no período considerado. Conforme a pesquisa da reportagem, nesta semana, o quilo do corte variou entre R$ 46,99 e R$ 53,98.
Já o coxão mole saiu de R$ 30,64 para R$ 46,56 no intervalo interanual, registrando uma alta de 51,99%. Quando considerados os valores aferidos nesta semana, o valor mínimo foi de R$ 39,98 e o máximo, de R$ 53,98.
Levantamento realizado ontem pela reportagem nos supermercados de Campo Grande aponta que o pacote de arroz com 5 quilos da marca Camil varia entre R$ 31,75 e R$ 34,99 – média de R$ 33,05.
O quilo do tomate salada varia entre o mínimo de R$ 5,98 e o máximo de R$ 6,39. O quilo da laranja-pera vai de R$ 7,98 a R$ 10,96 em Campo Grande. Já o quilo da banana-maçã varia de R$ 12,98 a R$ 19,99.
A batata-inglesa tem o quilo comercializado entre o mínimo de R$ 6,98 e o máximo de R$ 9,99. E a cebola apresentou variação entre R$ 3,98 e R$ 7,99 nesta terça-feira.
INFLAÇÃO MENSAL
Dos nove grupos de produtos e serviços pesquisados pelo IBGE em Campo Grande, seis tiveram alta em novembro. A maior variação é do grupo alimentação e bebidas (2,63%), e a segunda maior, do grupo despesas pessoais (0,96%).
Por sua vez, habitação registrou queda de 0,79%, após subir 0,81% em outubro. Outros segmentos que variavam foram: comunicação (-0,26%); educação (-0,02%), saúde e cuidados pessoais (0,04%), vestuário (0,06% ) e transportes (0,36%).
A aumento no grupo alimentação no domicílio passou de 3,06%, em outubro, para 3,14%, em novembro. Foram observados aumentos nos preços das carnes (11,02%), com destaque para os seguintes cortes: paleta (10,64%), acém (11,54%), lagarto comum (11,70%) e costela (15,83%).
Altas também foram observadas nas hortaliças e verduras (7,23%), com destaque para alface (9,57%), mandioca (6,04%) e tomate (5,34%). O óleo de soja apresentou alta de 7,99%. Já no lado das quedas, destacam-se a banana-nanica (-15,08%) e a cebola (-6,22%).
A alimentação fora do domicílio (1,07%) apresentou alta em novembro. Os subitens outras bebidas alcoólicas (1,76%), refeição (1,42%) e cerveja (0,76%) foram os destaques entre os aumentos. Não houve quedas neste subgrupo.
O grupo transportes teve aumento (0,36%), com impacto de 0,08 ponto porcentual (p.p.) no índice. A maior variação veio do subitem passagem aérea (15,34%) e o maior impacto veio do automóvel novo (2,77% de aumento e 0,08 p.p. de impacto).
O preço do etanol e da gasolina aumentaram em 0,27% e 0,06%, respectivamente, porém, o primeiro tem acúmulo de aumento de 16,59% no ano e o segundo, de 8,88%. O subitem seguro voluntário de veículo teve a maior queda (-7,13%), seguido de transporte por aplicativo (-4,24%).
Em Campo Grande, o grupo habitação (-0,78%) teve o resultado impactado pelo subitem energia elétrica residencial (-3,20%), que teve queda com a vigência da bandeira tarifária amarela a partir de 1º de novembro, que acrescentou valores menores que a bandeira anterior.
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