Cidades

MEIO AMBIENTE

Em nove anos, Hospital São Julião reutilizou quase 1 mil toneladas de lixo

Projeto de coleta seletiva, que foi criado em 2015, é referência de sustentabilidade para outros hospitais de Campo Grande

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Premiado nacional e internacionalmente como o “Primeiro Hospital Rumo ao Lixo Zero do Brasil”, o Hospital São Julião, em nove anos de trabalho com a separação da coleta seletiva, conseguiu desviar quase 1 mil toneladas de lixo (966 toneladas) do aterro sanitário, com a reutilização de resíduos orgânicos, recicláveis e de construção civil.

Segundo o gerente de Política Ambiental do Hospital São Julião, Bruno Maddalena, ao longo do ano de 2023 o hospital produziu 400 toneladas de lixo, deste quantitativo, 320 toneladas foram recicladas e reaproveitadas, desviando assim 80% dos resíduos separados do aterro sanitário.

Toneladas de lixo que poderiam encher 40 caminhões da Solurb que tem capacidade de transportar 8 toneladas diariamente.

Com diversas unidades de descarte seletivo de resíduos espalhados no hospital, em áreas como a unidade de atendimento, enfermarias, centro cirúrgico, cozinha, refeitório e na manutenção, o Hospital São Julião se conscientizou sobre a importância da coleta seletiva em 2014, e a partir de 2015, criou uma cultura de educação ambiental que passa por colaboradores e chega até os pacientes.

“Nós coletamos os resíduos comuns e recicláveis todos os dias das unidades de descarte seletivo. Cada resíduo tem uma destinação específica, os recicláveis são prensados para venda, os orgânicos são utilizados como adubo para horta ou como fertilizante em processo e compostagem para o replantio de árvores”, declarou Maddalena.

O trabalho de reciclagem no hospital é gerido em um antigo galpão que era utilizado para criação de suínos, sendo adaptado para virar um novo espaço, que recebeu o nome de Residuário. Neste local é separado resíduos do hospital São Julião, que podem ser reciclados, como: cobre, papelão, latinha, garrafa pet, eletroeletrônicos, papel, vidros, madeira, plástico, entre outros. 

Estes materiais são prensados em uma máquina e comercializados com empresas de materiais recicláveis, gerando um valor de venda que agrega economicamente para a gestão hospitalar.

Por mês, de acordo com o gerente de política ambiental, de 2 a 3 toneladas de lixo são  separados para reciclagem no hospital.

Em um pátio ao lado do Residuário também são separados para reutilização resíduos de construção civil e sucatas.

Mudanças de hábito foram incentivadas dentro do hospital para o que projeto de coleta seletiva fosse mais efetivo, como a mudança do uso do copo descartável, para o copo ecológico, e também a utilização de marmita de alumínio em vez da marmita de isopor, que não é biodegradável.

“Este projeto traz impactos sociais, desenvolvendo a educação ambiental de todo o coletivo do São Julião, inclusive dos alunos da escola estadual [que funciona dentro do complexo hospitalar] que participam das ações. Eles passaram por um processo grande de informação e conscientização.

O segundo impacto social é o trabalho dos detentos do regime semiaberto no setor de reciclagem, que dá uma chance destas pessoas se reinserirem no mercado de trabalho”, informou Bruno.

REFERÊNCIA LIXO ZERO

Com nove anos de experiência no manejo de resíduos sólidos recicláveis e reutilizáveis, o Hospital São Julião pode ser tornar uma referência de ação ecológica para outros Hospitais de Campo Grande, que além de poderem economizar recursos, também podem contribuir com a sustentabilidade do meio ambiente.

De acordo com o Bruno Maddalena, todos os hospitais de Capital, em média, produzem uma tonelada de lixo por hora, que são descartados no aterro sanitário.

“Estamos trabalhando muito a divulgação do nosso projeto com gestores de hospitais, Secretaria de Estado de Saúde, a saúde complementar privada, para demonstramos para qualquer gestor de hospital que se implementar seriamente a coleta seletiva, com critério e apoio da gestão e dos colaboradores, qualquer hospital consegue desviar do aterro sanitário, pelos menos, 50% dos seus resíduos”, disse Maddalena.

O Hospital São Julião estuda a implementação de um novo projeto chamado “Laboratório Lixo Zero” que consiste em uma oficina dentro do hospital que trabalhe para apresentar e oferecer o projeto de coleta seletiva para outras unidades hospitalares do Estado. 

Com base no sistema de gravimetria, que calcula a quantidade de resíduos desviados dos aterros, quem consegue desviar 90% de rejeitos é certificado pelo Instituto Lixo Zero do Brasil.

O São Julião já se aproxima disso, com 80% no ano passado, e busca melhorar o seu trabalho com a coleta seletiva para ser o primeiro hospital no Brasil a ter essa certificação do Lixo Zero.

MANEJO DO LIXO

A reportagem do Correio do Estado entrou em contato com hospitais de Campo Grande, para saber como é feito atualmente o descarte de lixo das unidades hospitalares públicas e particulares.

Em resposta a indagação, o hospital da Cassems informou que os resíduos sólidos (comuns), a coleta é feita por empresa especializada, que leva o lixo para o aterro sanitário, e no caso dos recicláveis existe um projeto em andamento no hospital que implanta pontos internos para descarte correto.

O Hospital Unimed Campo Grande informou que o descarte de lixo hospitalar é segregado por infectante, perfurocortantes, lixo comum entre outros. Papelões são separados e aqueles viáveis para reciclagem são recolhidos por cooperativas acionadas pela instituição.

Já o Hospital Regional do Mato Grosso do Sul (HRMS) descreveu que a Solurb faz a coleta de todos os tipos de resíduos, exceto os recicláveis, a coleta é realizada quatro vezes ao dia, sendo duas vezes à noite.

Apesar de não ter projeto de reciclagem no hospital, o HR encaminha alguns resíduos devidamente separados para reciclagem. No período de janeiro a junho de 2024 foram destinados: 275 kg de papel de rascunho, 1,8 toneladas de papelão, 250 unidades de plástico e 125 kg de metais.

Saiba

A prática da coleta seletiva trouxe resultados para a Escola Estadual Padre Franco Delpiano, localizada dentro do Hospital São Julião. Os alunos envolvidos no projeto tem como opção o curso técnico profissionalizante ligado ao Meio Ambiente dentro do Ensino Médio.

(Colaborou Ketlen Gomes)

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LOA

Poderes ignoram crise e projetam gastança de era das 'vacas gordas'

Executivo prevê alta de 2,9% nas receitas, mas a Assembleia, TJ, MPE, TCE e Defensoria estimam alta de 7,9% nos gastos

16/12/2025 12h15

Em ano eleitoral, dentre as cinco instituições, o maior aumento de gastos está previsto na Assembleia Legislativa de MS

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Em meio ao cenário de corte de gastos por conta da queda na arrecadação de tributos, a Lei Orçamentária Anual (LOA) do Governo do Estado publicada no diário oficial desta terça-feira revela que os chamados Poderes estão longe de qualquer crise.

Prova disso é que seus orçamentos para o próximo ano cresceram 7,9%. Enquanto isso, a estimativa de crescimento geral de receitas do Executivo, responsável pelos repasses a estes órgãos públicos, teve acréscimo de apenas 2,9%. 

Na LOA do ano passado o Governo do Estado estimava despesas e receitas da ordem R$ 26,402 bilhões. Para o próximo ano, a expectativa é de que o montante passe para R$ 27,190 bilhões. O crescimento de 2,9% fica está abaixo do índice oficial da inflação dos últimos 12 meses, que é de 4,46%. Ou seja, em valores reais orçamento de 2026 está menor que o deste ano. 

Ao mesmo tempo,  a Assembleia Legislativa, o Tribunal de Contas, o Tribunal de Justiça, o Ministério Público e a Defensoria Pública fizeram orçamentos prevendo aumento médio de 7,9% em seus duodécimos, que passarão de um máximo de R$ 3,353 bilhões para R$ 3,620 bilhões. 

Os mais afoitos para aumentarem seus gastos foram os deputados, que passaram de um orçamento R$ 520.202.200,00 para R$ 567.574.000,00, o que representa aumento de 9%, ou mais que o dobro da inflação dos últimos  12 meses. 

A Defensoria Pública, que historicamente se dizia  o "primo pobre" dos poderes, aparece em segundo lugar neste ranking de aumento na gastança. Sua proposta orçamentária teve um acréscimo de 8,6%, saltando de R$ 347.325.900,00 para R$ 377.319.900,00. 

Logo em seguida aparece o Ministério Público, que tem a atribuição legal de fiscalizar a legalidade e a moralidade dos gastos públicos, com aumento de 8,3% na previsão de gastos. O orçamento anual subiu de R$ 705.520.700,00 R$ 767.151.800,00. 

O Tribunal de Justiça, o mais caro de todos, simplesmente acrescentou R$ 100 milhões e está elevando seu orçamento dos atuais  R$ 1.364.912.200,00 para R$ 1.464.780.100,00, o que equivale a um acréscimo de 7,3%.

Por último, mas também com um índice mais de 100% acima do percentual do Executivo, aparece o Tribunal de Contas, que está elevando em 6,9% seu orçamento, que passa de R$ 415.307.900,00 para R$ 444.019.300,00. 

Praticamente 90% destes valores são destinados ao pagamento de salários e justamente por conta dos generosos repasses do Executivo é que existem os supersalários, principalmente no Tribunal de Justiça, no Ministério Público e no Tribunal de Contas. 

CORTE DE GASTOS

E, ao mesmo tempo em que os aumentos de orçamento nos Poderes apontam para a criação de novos benefícios salariais, o Executivo deixa claro que está prevendo uma espécie de arrocho. 

Na LOA publicada no fim do ano passado, a administração central destinou R$ 14.159.962.800,00 para despesas com pessoal e encargos. Para o próximo ano, estão sendo destinados R$ 12.986.205.400,00,  o que representa redução de 8,3%. 

Situação parecida está prevista no que se refere às despesas com custeio, que devem recuar de R$ 7,69 bilhões para R$ 6,37 bilhões. Despesas com custeio envolvem, entre outros, gastos com combustíveis, energia, água e material de consumo nas diferentes secretarias. 

Mas, em ano eleitoral, os repasses aos deputados para as chamadas emendas parlamentares terão um generoso aumento, de 33%. O orçamento do ano passado previu R$ 72 milhões. Agora, serão R$ 96 milhões. Isso significa que cada deputado terá R$ 4 milhões para agradar suas bases eleitorais. Em 2025 este valor foi de R$ 3 milhões. 

 

FISCALIZAÇÃO

Em meio a crise, TCE faz pente fino em postos de saúde

Fiscalização do Tribunal de Contas começou nesta terça-feira (16) por unidade do Guanandi e vai avaliar 74 UBS e unidades de saúde da família em Campo Grande

16/12/2025 11h45

Ao todo, 74 unidades de saúde da Capital serão avaliadas ao longo da ação

Ao todo, 74 unidades de saúde da Capital serão avaliadas ao longo da ação Marcelo Victor

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Em meio às reclamações da população e denúncias de desabastecimento de medicamentos, o Tribunal de Contas de Mato Grosso do Sul (TCE-MS) iniciou, na manhã desta terça-feira (16), mais uma etapa da II Fiscalização Ordenada da Atenção Primária à Saúde nas Unidades Básicas de Saúde (UBS) e Unidades de Saúde da Família de Campo Grande. A primeira unidade visitada foi a UBS Dona Neta, localizada no bairro Guanandi.

Ao todo, 74 unidades de saúde da Capital serão avaliadas ao longo da ação, que integra o calendário anual de fiscalizações do órgão e ocorre em um momento considerado sensível para a rede pública municipal de saúde.

Equipes formadas por auditores do TCE-MS percorrem as unidades para inspeção física, registros fotográficos, análise documental, entrevistas com servidores e usuários, além da aplicação de questionários técnicos.

Segundo o Tribunal, o objetivo é levantar um diagnóstico situacional detalhado das unidades, identificar falhas e apontar oportunidades de melhoria, como a elaboração de planos de ação que garantam atendimento mais eficiente à população.

A Atenção Primária à Saúde é considerada a principal porta de entrada dos usuários no Sistema Único de Saúde (SUS) e responde, em média, por cerca de 80% das demandas de saúde da população, resolvendo diretamente os casos ou encaminhando para níveis mais especializados de atendimento.

De acordo com o chefe de fiscalização de saúde do TCE-MS, Haroldo Oliveira Souza, a escolha pela atenção primária não é aleatória. “A nossa estratégia foi começar pela atenção primária porque ela impacta diretamente a população. É o primeiro contato que as pessoas têm com o SUS e onde muitos problemas podem ser resolvidos de forma mais rápida”, explicou.

Ele destacou ainda que a fiscalização em Campo Grande representa a etapa final de um trabalho iniciado ao longo do ano em municípios do interior do Estado. “Nós somos divididos por regiões de atuação e a Capital fecha esse ciclo de fiscalizações em 2025”, afirmou.

Infraestrutura, medicamentos e recursos 

Durante as visitas, os auditores seguem uma metodologia baseada em critérios da Política Nacional de Atenção Básica. Entre os principais pontos avaliados estão a infraestrutura das unidades, a distribuição e o acondicionamento de medicamentos, a disponibilidade de recursos humanos, além de itens como atendimento à gestante, imunização, equipamentos, informações aos usuários e fluxo assistencial.

A fiscalização funciona como um checklist. “O auditor confere item por item. Se algo não estiver de acordo com os critérios, isso vira um achado de auditoria”, explicou Haroldo. Esses achados são consolidados em um relatório que será encaminhado ao conselheiro relator, responsável por definir as providências, que podem incluir recomendações, orientações e até sanções.

A ação também foi impulsionada por denúncias recentes de desabastecimento de medicamentos em unidades da Capital, amplamente divulgadas por entidades médicas e pela imprensa.

“Dentro da nossa teoria do controle externo, a oportunidade é um fator importante. Nós já tínhamos a metodologia pronta, mas, diante das notícias sobre desabastecimento e da crise aparente na saúde de Campo Grande, decidimos ampliar e concluir esse trabalho agora, para colaborar com a solução do problema”, afirmou o chefe de fiscalização.

População cobra fiscalização

Para o TCE-MS, a iniciativa atende a uma demanda direta da sociedade. Segundo a diretora de controle externo do TCE-MS, Valéria Saes Cominale, que participa da ação, a saúde pública foi apontada como uma das principais áreas que a população deseja ver fiscalizada.

“Quase 50% da população, em consultas do nosso Plano Anual de Fiscalização Participativa, clamou por fiscalizações na área da saúde. Diante das denúncias e do que temos observado nas nossas matrizes de risco, ficou claro que Campo Grande precisava entrar nesse circuito de auditorias”, explicou.

Ela reforçou que o impacto da fiscalização é direto na vida dos usuários. “Avaliamos desde a estrutura física até a forma como a população é recepcionada. O cidadão tem direito a um bom serviço público, e é dever do Tribunal fiscalizar como esse serviço está sendo prestado.”

Na prática, os problemas apontados pelo Tribunal refletem o dia a dia de quem depende da rede básica. A doméstica Sueli Moreira de Oliveira, que buscava atendimento em uma unidade da Capital, relatou dificuldades para conseguir consulta médica.

“É a terceira vez que eu tento. Vim ontem e hoje de novo. Cheguei hoje às 5h30 da manhã e estou esperando até agora, sem saber que horas vou ser atendida”, contou. Segundo ela, a falta de médicos e a demora no atendimento acabam gerando prejuízos financeiros. “A gente perde o dia de serviço, paga Uber para vir e ainda corre o risco de ter o salário descontado.”

Apesar das dificuldades, ela avalia positivamente a fiscalização. “Eu acho excelente. Não só na saúde, mas em todo o Estado. Se levarem a sério, vai dar resultado. Não é possível passar ano após ano e continuar faltando medicamento.”

Além de Sueli, quem também estava aguardando um médico é a dona de casa, Edivânia Rodrigues dos Santos, que contou estar esperando antes das 6h um encaixe para sua filha, de acordo com ela, o médico havia saído para outro atendimento. 

"Não sei que horas ele chega, conversei com outra senhora que já tentou a consulta também e ela saiu 15h da tarde, eu não posso esperar até esse horário, é a primeira que estamos precisando", disse.

Maria da Silva também estava presente e afirmou que nem sempre consegue retirar o medicamento que precisa. “Não é qualquer remédio que tem. Alguns a gente consegue, outros não e aí todo mês tem que sair do nosso bolso né.”

Interior já revelou falhas graves

A primeira etapa da II Fiscalização Ordenada da Atenção Primária à Saúde ocorreu em municípios do interior, como Jaraguari, Rio Negro, Bandeirantes, São Gabriel do Oeste, Camapuã, Rochedo, Corguinho e Rio Verde de Mato Grosso. Ao todo, 40 unidades foram avaliadas por 12 auditores.

Entre os principais problemas identificados estavam a ausência de médicos no momento da fiscalização, precariedade na infraestrutura, falta de alvarás sanitários e do Corpo de Bombeiros, armazenamento inadequado de medicamentos, uso de geladeiras domésticas para imunização, equipamentos inoperantes e ausência de canais formais para reclamações dos usuários.

Agora, a expectativa é que o diagnóstico em Campo Grande sirva como base para correções imediatas e para o monitoramento contínuo das unidades, garantindo que a Atenção Primária cumpra seu papel de prevenir doenças, evitar a sobrecarga dos hospitais e assegurar atendimento digno à população.

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