Política

CONGRESSO NACIONAL

PEC da Blindagem: maioria da bancada de MS vota a favor

PEC da Blindagem amplia foro privilegiado, dá ao Congresso poder de barrar processos criminais e estende proteção até para presidentes de partidos, em meio a críticas de retrocesso e impunidade

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A maioria dos deputados federais de Mato Grosso do Sul votou a favor da chamada PEC da Blindagem, aprovada na noite desta terça-feira (16) na Câmara. A proposta amplia o foro especial de parlamentares e abre brechas inéditas também na área cível, blindando deputados e senadores de investigações sem aval prévio do Legislativo.

O texto passou por 353 votos a favor e 134 contra. Entre os oito deputados de Mato Grosso do Sul, o placar foi de 4 a 2 pela aprovação, com duas ausências.

A favor:

  • Rodolfo Nogueira (PL)
  • Marcos Pollon (PL)
  • Beto Pereira (PSDB)
  • Luiz Ovando (PP).

Contra

  • Geraldo Resende (PSDB)
  • Vander Loubet (PT).

Ausentes

  • Dagoberto Nogueira (PSDB)
  • Camila Jara (PT)

O que muda

Atualmente, a Constituição prevê foro especial para deputados e senadores apenas em casos de crimes cometidos durante o exercício do mandato e em razão dele. Nesses casos, os processos são julgados diretamente pelo Supremo Tribunal Federal (STF), sem passar pelas instâncias inferiores. No entanto, não há previsão de foro privilegiado em ações de natureza cível, como casos de improbidade administrativa. Além disso, o STF pode abrir investigações e ações criminais contra parlamentares sem depender de aval do Congresso.

A nova PEC altera esse cenário de forma profunda. O texto estabelece que, para que uma investigação ou processo criminal contra um deputado ou senador avance no STF, será necessária autorização da respectiva Casa legislativa — Câmara ou Senado. Essa deliberação deverá ocorrer em até 90 dias, em votação secreta. Caso a autorização seja negada, o processo não poderá prosseguir.

Outra mudança significativa é a ampliação do foro especial para presidentes de partidos políticos, algo inédito na legislação brasileira. A partir da PEC, líderes partidários nacionais também passariam a ser julgados diretamente pelo Supremo, em vez de responderem às instâncias comuns da Justiça. Críticos afirmam que isso cria um "cinturão de proteção" em torno de atores políticos influentes, reforçando um sistema de privilégios.

Além disso, o texto prevê que medidas cautelares contra parlamentares — como afastamento do cargo, bloqueio de bens ou imposição de restrições — só poderão ser aplicadas com autorização expressa do STF. Isso inclui também ações cíveis, como processos por improbidade administrativa, o que amplia consideravelmente o alcance da blindagem.

As críticas

Para opositores da proposta, a PEC representa um retrocesso histórico. Eles lembram que a versão original da Constituição de 1988 já previa um modelo semelhante de foro ampliado, mas esse dispositivo foi derrubado em 2001, após forte pressão popular contra a impunidade. Agora, mais de duas décadas depois, o Congresso retoma a ideia, ampliando-a ainda mais ao incluir também o foro em ações cíveis.

Deputados da oposição classificaram a medida como um "escudo da impunidade". Segundo eles, o objetivo real é blindar parlamentares investigados em dezenas de inquéritos que tramitam no STF, sobretudo ligados ao desvio de verbas de emendas parlamentares. Estima-se que mais de 80 deputados estejam sob investigação por esse tipo de esquema, que movimenta cerca de R$ 50 bilhões por ano.

Críticos também apontam que o Congresso assume, na prática, o poder de decidir se um de seus membros pode ou não ser processado, transferindo ao Legislativo uma competência que hoje é exclusiva do Judiciário. Essa sobreposição de poderes, dizem especialistas, cria um desequilíbrio institucional e fere o princípio da separação entre os Poderes.

Outro ponto levantado é a votação secreta. Sem transparência, a sociedade não poderá saber quais parlamentares votaram a favor ou contra o prosseguimento de processos, dificultando a responsabilização política de deputados e senadores perante seus eleitores.

O discurso dos defensores

Já os defensores da PEC argumentam que a proposta busca resguardar o Parlamento de perseguições políticas por parte do Judiciário. O relator, Cláudio Cajado (PP-BA), destacou que as prerrogativas parlamentares são instrumentos constitucionais que garantem a independência do Legislativo. Na visão dos apoiadores, a medida fortalece a autonomia do Congresso e evita o que chamam de “ativismo judicial” do STF, acusado de invadir competências legislativas ao derrubar leis aprovadas.

O presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), também defendeu a proposta, afirmando que ela não traz “novidades ou invencionismos” em relação ao texto constitucional de 1988. Para ele, trata-se apenas de retomar garantias que asseguram o livre exercício do mandato. Deputados da base bolsonarista reforçaram esse discurso, alegando que muitos parlamentares têm sido “perseguidos” por suas opiniões e precisam de proteção para exercer suas funções sem medo de retaliações.

O cenário político

Nos bastidores, a votação da PEC da Blindagem foi tratada como moeda de troca em negociações entre o centrão e o governo Lula.

O Planalto liberou a bancada para apoiar a proposta após acordo com os líderes do bloco, que se comprometeram a derrotar uma PEC paralela que previa anistia ampla a condenados pelos atos golpistas de 8 de janeiro de 2023, incluindo o ex-presidente Jair Bolsonaro.

O entendimento foi o de adotar uma solução intermediária: rejeitar a anistia total, mas apoiar uma proposta de redução de penas. Ainda assim, a base bolsonarista admitiu publicamente esperar que a aprovação da PEC da Blindagem se traduza em apoio do centrão à anistia.

Com isso, a aprovação da proposta escancara não apenas a disputa jurídica sobre o alcance das prerrogativas parlamentares, mas também o jogo político que envolve interesses cruzados de governo, oposição e Congresso.

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ACEITOU

Moraes autoriza Bolsonaro a ser submetido a ultrassom na prisão

Exame será feito com equipamento portátil nas regiões inguinais

14/12/2025 11h30

Alexandre de Moraes aceitou o pedido da defesa do ex-presidente Jair Bolsonaro para realização de um exame de ultrassonografia dentro da prisão

Alexandre de Moraes aceitou o pedido da defesa do ex-presidente Jair Bolsonaro para realização de um exame de ultrassonografia dentro da prisão Foto: Reprodução

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O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), aceitou o pedido da defesa do ex-presidente Jair Bolsonaro para realização de um exame de ultrassonografia dentro da prisão. A decisão foi proferida na noite deste sábado (13).

Bolsonaro está preso em uma sala da Superintendência da Polícia Federal (PF), em Brasília, onde cumpre pena de 27 anos e três meses de prisão pela condenação na ação penal da trama golpista.

“Diante do exposto, autorizo a realização do exame no local onde o condenado encontra-se custodiado, nos termos requeridos pela defesa. Dê-se ciência da presente decisão à Polícia Federal. Intimem-se os advogados regularmente constituídos”, decidiu o ministro.

O pedido de autorização foi feito na última quinta-feira (11) após Moraes determinar que Bolsonaro passe por uma perícia médica oficial, que deve ser feita pela própria PF, no prazo de 15 dias.

O exame será feito pelo médico Bruno Luís Barbosa Cherulli. O profissional fará o procedimento com um equipamento portátil de ultrassom, nas regiões inguinais direita e esquerda.

A defesa disse que a medida é necessária para atualizar os exames do ex-presidente. Ao determinar a perícia, Moraes disse que os exames apresentados por Bolsonaro para pedir autorização para fazer cirurgia e cumprir prisão domiciliar são antigos.

Na terça-feira (9), os advogados de Bolsonaro afirmaram que o ex-presidente apresentou piora no estado de saúde e pediram que ele seja levado imediatamente ao Hospital DF Star, em Brasília, para passar ser submetido a cirurgia.

Espera

Motta aguarda assessoria jurídica da Câmara para definir posse de suplente de Zambelli

Primeira Turma do STF confirmou, ontem, 12, a decisão do ministro Alexandre de Moraes que decretou a perda imediata do mandato de Zambelli

13/12/2025 21h00

Presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta

Presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta Foto: Câmara dos Deputados

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O presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), espera uma resposta da assessoria jurídica da Casa para definir o destino do mandato da deputada federal Carla Zambelli (PL-SP) até segunda-feira, 15.

A equipe de Motta afirmou à reportagem que a decisão deve tratar não necessariamente da cassação de Zambelli, mas da posse de Adilson Barroso (PL-SP). O prazo de 48 horas dado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) à Câmara menciona especificamente a posse do suplente, não a cassação da titular.

A Primeira Turma do STF confirmou, ontem, 12, a decisão do ministro Alexandre de Moraes que decretou a perda imediata do mandato de Zambelli. O colegiado também chancelou a determinação para que a Mesa da Câmara dê posse ao suplente da deputada em até 48 horas, como prevê o regimento interno da Casa.

A decisão anulou a deliberação da própria Câmara de rejeitar a cassação de Zambelli, o que foi visto como afronta ao STF. Foram 227 votos pela cassação, 170 votos contrários e dez abstenções. Eram necessários 257 votos para que ela perdesse o mandato.

Moraes disse em seu voto que a deliberação da Câmara desrespeitou os princípios da legalidade, da moralidade e da impessoalidade, além de ter "flagrante desvio de finalidade".

O ministro afirmou que a perda do mandato é automática quando há condenação a pena em regime fechado superior ao tempo restante do mandato, já que o cumprimento da pena impede o trabalho externo.

Nesses casos, cabe à Casa legislativa apenas declarar o ato, e não deliberar sobre sua validade.

O STF condenou Zambelli em maio pela invasão de sistemas e pela adulteração de documentos do Conselho Nacional de Justiça (CNJ). A pena é de 10 anos de prisão em regime inicial fechado, e tem como resultado a perda do mandato na Câmara.

A deputada, no entanto, fugiu do País antes do prazo para os recursos. Ela hoje está presa preventivamente na Itália, e aguarda a decisão das autoridades italianas sobre a sua extradição.

A votação em plenário na madrugada da quinta-feira, 11, contrariou a decisão da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Casa, que, na tarde desta quarta-feira, 10, tinha aprovado a cassação.

Zambelli participou por videoconferência da deliberação da CCJ e pediu que os parlamentares votassem contra a sua cassação, alegando ser inocente e sofrer perseguição política. "É na busca da verdadeira independência dos Poderes que eu peço que os senhores votem contra a minha cassação", disse.

No plenário, a defesa ficou com Fábio Pagnozzi, advogado da parlamentar, que fez um apelo para demover os deputados. "Falo para os deputados esquecerem a ideologia e agir como seres humanos. Poderiam ser o seus pais ou seus filhos numa situação dessas", afirmou. O filho da parlamentar, João Zambelli, acompanhou a votação. Ele completou 18 anos nesta quinta-feira.

O líder do PT na Câmara, Lindbergh Farias (RJ), discursou pedindo pela cassação. "Estamos aqui para votar pela cassação que já deveria acontecer há muito tempo", disse.

O PL trabalhou para contornar a cassação, para esperar que Zambelli perca o mandato por faltas. Pela regra atual, ela mantém a elegibilidade nessa condição.

Caso tivesse o mandato cassado, ficaria o tempo de cumprimento da pena mais oito anos fora das urnas. Ela só poderia participar de uma eleição novamente depois de 2043. Estratégia similar foi feita com Eduardo Bolsonaro (PL-SP), que deverá ter a perda do mandato decretada pela Mesa Diretora.

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