O preço do café, um dos produtos mais emblemáticos da cultura e da economia brasileira, atingiu níveis recordes em 2025, reacendendo debates sobre seu impacto na vida cotidiana e na percepção pública do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Em um país onde o café é quase um símbolo nacional, a escalada dos custos – que já alcançam cerca de R$ 50 por quilo em algumas regiões – coincide com uma queda acentuada na popularidade do líder petista, que enfrenta o pior momento de aprovação de seus três mandatos.
Dados recentes mostram que o preço do café no mercado interno subiu quase 40% em 2025, impulsionado por vários fatores que reduziram a produção no Brasil, e uma oferta ampliada do maior exportador mundial do grão. Segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), a safra 2025/26 pode cair para 51,81 milhões de sacas, o menor volume em três anos, agravando a escassez global de café arábica, cujos preços internacionais saltaram 70% em 2024 e mais 20% este ano, atingindo US$ 4,30 por libra. No Brasil, o impacto é ainda mais sentido devido à depreciação do real, que encarece insumos importados e pressiona os custos domésticos.
Para os brasileiros, o café caro não é apenas uma questão econômica, mas emocional. "Eu fico impressionado que 500 gramas custem R$ 30. Isso é culpa do governo", desabafou João Silva, motorista de 49 anos, em entrevista ao Financial Times. Esse sentimento reverbera entre consumidores, que associam o aumento do custo de vida – com inflação anual em 4,96% em fevereiro, a maior desde 2023 – à gestão de Lula. Apesar de medidas como a redução de impostos de importação sobre alimentos, anunciada em março pelo vice-presidente Geraldo Alckmin, a percepção pública não mudou. "O café é sagrado aqui. Quando sobe assim, o povo culpa quem está no poder", analisa Carla Beni, economista da Fundação Getúlio Vargas.
A popularidade de Lula reflete essa insatisfação. Pesquisas do Datafolha indicam que sua aprovação caiu para 24% em fevereiro de 2025, a menor já registrada, ante 60% no início do mandato em 2023. Outros institutos, como CNT/MDA, apontam que a reprovação (44%) superou a aprovação (29%) no mesmo período. Embora a economia tenha crescido 3,1%-3,5% em 2024 e o desemprego esteja em 6,4%, o peso da inflação nos itens básicos, como o café, tem ofuscado essas conquistas. "A comida na mesa fala mais alto que os números do PIB", diz João Feres, cientista político da UERJ.
A oposição, a partir das redes sociais, destacam que "sob Lula, o preço do café atingiu o maior valor em 50 anos", reforçando a narrativa de desgoverno. Especialistas, porém, ponderam que o problema transcende a gestão atual. "A seca e o mercado global são os vilões. Lula tem pouco controle sobre isso", explica Jean Vilhena, presidente da Associação de Cultivadores de Alta Mogiana.
Ainda assim, o café caro tornou-se um símbolo do descontentamento com Lula. Em um país onde o grão já foi motor da economia e hoje é parte do cotidiano de 79% da população (segundo o Statista Global Consumer Survey de 2023), seu preço elevado alimenta a rejeição ao presidente. Com a eleição de 2026 no horizonte, o desafio de Lula será reverter essa percepção – ou arriscar ver seu legado manchado pelo custo de uma xícara de café.
Caro leitor, essa correlação é apenas uma amostra da importância de entender o contexto econômico, e que o poder de compra é o principal fator de confiança das pessoas em relação ao governo. Governo que gasta muito, gasta mal e gera inflação tem historicamente um impacto negativo direto do seu próprio eleitor.
O período de 2020-2024 foi marcado por uma trajetória de crise e recuperação. O mercado de trabalho foi um ponto positivo, com desemprego em mínimas históricas. Contudo, a inflação persistente, o aumento da Selic e a depreciação do real em 2024 indicam vulnerabilidades, agravadas por incertezas fiscais internas (como a mudança da meta fiscal de superávit para déficit zero em 2025) e externas (políticas e guerras). O agronegócio e o consumo interno foram pilares de sustentação, enquanto o investimento e a confiança do mercado oscilaram com o risco fiscal e o câmbio.
O governo Lula 3 ecoa o de Dilma em sua vulnerabilidade econômica e fiscal, com a popularidade refletindo diretamente o desempenho do PIB, inflação e confiança do mercado. Contudo, Lula evita até agora o colapso visto no governo Dilma, graças a fundamentos mais sólidos (emprego, agro) e maior habilidade política. Ainda assim, a trajetória de desgaste sugere que, sem reformas ou melhora econômica, Lula 3 pode seguir um caminho paralelo ao de sua sucessora, embora em menor intensidade.