A trajetória do progresso humano sempre esteve ligada à capacidade de reduzir incertezas. Desde os tempos mais remotos, o ser humano tenta compreender o mundo ao seu redor e prever o que está por vir. No entanto, apesar de todos os avanços científicos, tecnológicos e sociais, o futuro permanece inevitavelmente incerto. A imprevisibilidade continua sendo parte essencial da vida – e dos mercados. Por isso, o desenvolvimento não se deu pela eliminação da incerteza, mas pela habilidade de enfrentá-la com mais preparo e inteligência.
No mundo dos negócios e das relações internacionais, essa lógica se intensifica. A economia global está sujeita a uma série de variáveis que fogem ao controle de qualquer ator individual. Mesmo com regras claras e tratados multilaterais, os rumos de mercados inteiros podem ser alterados por decisões políticas repentinas ou por reações humanas diante de contextos inesperados. Isso vale tanto para uma mudança climática extrema quanto para o humor de um chefe de Estado.
Exemplo recente é a postura adotada pelos Estados Unidos em relação ao Brasil. Num ano em que a principal preocupação norte-americana deveria ser o gigantesco deficit comercial com a China, surpreendeu a decisão de voltar seus canhões econômicos contra um parceiro com quem, ao contrário, mantém superavit.
A justificativa apresentada – supostos problemas no sistema sanitário e institucional brasileiro – levanta mais dúvidas do que esclarecimentos. E gera um alerta: mesmo relações comerciais sólidas não estão imunes à interferência de fatores políticos.
Neste contexto, a palavra-chave passa a ser resiliência. É preciso manter a calma, absorver o impacto e buscar rapidamente rotas alternativas. Essa postura já começou a ser adotada por frigoríficos de Mato Grosso do Sul, que, ao menos neste primeiro momento, conseguiram substituir o mercado norte-americano por novos destinos para a carne bovina brasileira. Trata-se de uma resposta eficaz e necessária, que revela a
capacidade de reação de um setor que conhece os riscos das oscilações globais.
No entanto, é importante reconhecer: a substituição não anula a importância dos Estados Unidos como destino estratégico. Ter novos compradores é essencial, mas manter clientes tradicionais é ainda melhor. A diversidade de mercados fortalece o setor exportador, mas a estabilidade e a previsibilidade das relações de longo prazo continuam sendo um diferencial competitivo. Abandonar um parceiro comercial relevante por motivos alheios à economia seria um erro – e um precedente perigoso.
Por isso, o que se espera das negociações em andamento é objetividade. Que os temas em debate sejam pautados por critérios técnicos, com itens claros e de fato negociáveis sobre a mesa. A introdução de questões políticas ou tentativas de interferência em processos judiciais internos dos países apenas fragilizam o comércio e criam obstáculos desnecessários. O comércio internacional precisa de regras firmes e respeito mútuo. Sem isso, todos perdem.
A única resposta possível à instabilidade é o preparo contínuo. O Brasil deve fortalecer sua base produtiva, investir em acordos comerciais com diversos blocos e manter uma política externa coerente, que priorize resultados concretos. As incertezas continuarão a surgir, isso é inevitável, mas, com serenidade, diálogo e estratégia, elas podem ser enfrentadas com êxito. Afinal, o verdadeiro progresso não está em eliminar o imprevisto, mas em saber como lidar com ele.




