Gabriel Menino engoliu Gérson no duelo dos volantes na Supercopa, entre Palmeiras e Flamengo.
Os dois disputaram a maior parte do jogo um contra o outro; Menino controlando a saída de bola do meio-campista rubro-negro, que o vigiava, sem sucesso.
Não dá para saber se a temporada valorizará Menino nesta mesma medida.
De todo jeito, sua atuação contrasta com as críticas à política de contratações.
Gérson custou R$ 92 milhões, maior valor já pago por um time brasileiro, enquanto o escolhido por Abel Ferreira era símbolo de suposta avareza do Palmeiras.
Nem sempre quem paga mais tem os melhores resultados.
Time bom consagra jogador ruim e equipe ruim enterra jogador bom.
No caso de Palmeiras 4 x 3 Flamengo, a base consolidada por 27 meses de trabalho de Abel Ferreira resultou em atuação mais coesa do que conseguiu Vítor Pereira, recém-chegado ao Ninho do Urubu.
Há duas semanas, o lateral rubro-negro, Filipe Luís, disse que o sistema de seu treinador não é simples.
Referiu-se ao método de periodização tática, usado por Vítor Pereira e que Filipe só viveu com José Mourinho, no Chelsea, e Domenec Torrent, no Flamengo.
O problema não é a metodologia, mas o tempo disponível para treinar e dar compreensão aos jogadores.
Abel Ferreira também respeita a teoria da periodização, difundida pelo professor Vítor Frade, seu compatriota.
A diferença passa por estar no Palmeiras há mais de dois anos, o que lhe dá conhecimento das características de seus atletas, das razões de suas oscilações e das necessidades de mercado.
Dá também ao elenco capacidade de pensar de acordo com o que se faz diariamente.
O Flamengo tem mais atacantes capazes de inventar gols, o Palmeiras tem mais repertório tático.
Em Brasília, Abel inverteu a saída de jogo, prendeu Piquerez junto aos zagueiros e liberou Marcos Rocha para iniciar às jogadas mais à frente do que de costume, porque De Arrascaesta seria incapaz de persegui-lo.
Rocha respondeu com disciplina no apoio e brilho no setor defensivo.
Seu pé direito foi decisivo, ao desarmar Pedro, no contra-ataque em que o centroavante estava pronto para marcar.
Raphael Veiga foi o destaque individual da Supercopa, porque compreendeu cada etapa de seu trabalho, tanto no aspecto ofensivo, quanto defensivo.
A vitória palmeirense não pode – e não vai – gerar acomodação.
O clube vai contratar. Por outro lado, o atual elenco, com o reforço de Endrick e a capacidade de jogar em conjunto farão do Palmeiras candidato a todos os títulos.
Vai dar menos trabalho para Abel se manter nas disputas do que para Vítor Pereira pôr em prática sua filosofia.
Não se trata de pagar mais caro nem de contar com os jogadores mais famosos.
Trata-se de equilibrar peças, treiná-la para estarem no posicionamento correto e dar confiança para explorar o máximo de cada um.
Tudo o que Abel Ferreira possui.
Injustificáveis os protestos e os muros pichados depois do empate do Palmeiras contra o São Paulo. Só seriam plausíveis se as letras trouxessem reivindicações sinceras.
Por exemplo: "Leila, dê dinheiro para nossa Escola de Samba."
Abel constrói um time com treinos. Ele construiu uma relação com a torcida à base de respeito, não de doações.




