Era uma vez um jovem que encontrou uma garrafa na praia. Dentro dela, um gênio prometia realizar três desejos. No mundo das apostas on-line, esse gênio não mora mais nas areias das lendas, mas nos celulares de milhões de brasileiros, prometendo mudar vidas com um simples clique. O fenômeno das apostas não se sustenta apenas na lógica do risco e da recompensa, mas em algo mais profundo: a pulsão do desejo, aquilo que o psicanalista Jacques Lacan – um dos grandes teóricos do inconsciente humano – descreve como um motor invisível que nos move em busca do inalcançável. A cada giro da roleta ou palpite certeiro no futebol, a ilusão do controle e da grande virada de vida se mistura à velha esperança de ser o escolhido pelo destino.
O que nos faz seguir apostando, mesmo quando sabemos que as chances são mínimas? O cérebro humano é uma máquina de antecipação e, diante da possibilidade de um grande prêmio, ativa o sistema de recompensa, liberando dopamina – o neurotransmissor do prazer. Mais do que dinheiro, buscamos a sensação da conquista, o êxtase de ver o improvável acontecer.
Mas também há outro fator em jogo: o medo de ficar para trás. Quando vemos alguém ao nosso redor ganhando, experimentamos o famoso medo de perder a oportunidade (Fomo – Fear of Missing Out), um mecanismo que nos faz agir impulsivamente para evitar o arrependimento de não ter tentado.
No Brasil, onde a esperança sempre foi moeda corrente, as apostas on-line encontram terreno fértil. Nossa cultura já abraça a sorte como parte da vida – do bilhete da loteria na gaveta da avó ao jogo do bicho na esquina. Mas, diferentemente dessas tradições, as novas plataformas digitais transformam o jogo em uma experiência ininterrupta, criando uma armadilha sofisticada para o cérebro. Afinal, se antes se apostava no bicho do dia, agora há um bicho novo a cada segundo, piscando na tela, pronto para devorar a atenção e o dinheiro de quem não resiste à tentação.
Esse fenômeno não é apenas sobre estatísticas ou probabilidades, é sobre a psique humana e sua relação com o desejo. Mas também é sobre narrativa e persuasão – elementos fundamentais da publicidade, que moldam nossa percepção sobre risco, sucesso e oportunidade. Entender esses mecanismos é um exercício de pensamento crítico, algo que sempre buscamos desenvolver no curso de Publicidade e Propaganda da UCDB, o mais premiado do Estado e que prima pela ética profissional.
No fim, o que estamos realmente buscando quando clicamos em “apostar agora”? Será a fortuna, a adrenalina ou simplesmente a ilusão de que temos o controle sobre o próprio destino? Como na fábula do gênio da lâmpada, talvez o terceiro desejo seja sempre o mesmo: pedir mais três chances para tentar de novo.