Nestes dias, em um site, um jornalista comentava suas impressões sobre o resultado das eleições: “O melhor é que descobrimos como de fato é o brasileiro médio, seu comportamento, sua crença, sua educação, sua formação, seu preconceito, seu fanatismo e o que ele é capaz de fazer, inclusive pagar mico”.
Essa expressão antiga “pagar mico” (1950), talvez derivada do jogo popular de cartas infantil chamado “mico preto” em que em cada jogador tem de formar pares de animais e aquele que terminar com a figura do mico na mão, uma carta que não tem par, perde a rodada.
Na realidade, ele passa vergonha entre os demais jogadores, caricatura essa que foi estendida aos ditos populares, referindo-se às pessoas mal informadas, inconvenientes previsivelmente decepcionantes, que não correspondem às expectativas ou que fogem da realidade e estão sob o crivo da sociedade por estarem fora das normas, isto é “pagando mico”.
Outro termo interessante que mereceu minha atenção foi o “brasileiro médio”: figura que se refere como pertencente a uma estratificação social, termo esse afeito a pessoas ou grupos sociais que supõem ou se vangloriam de ter privilégios ou vantagens principalmente em prejuízos de outros, ou seja, se reconhecem como uma elite que os diferencia dos demais e cujas conquistas se devem a méritos próprios (meritocracia).
Não se trata de um indivíduo de classe (socioeconômica) média, mas de qualquer um pertencente a qualquer classe, no entanto desprovido de ideal corporativo ou solidariedade e que suas ações visam sempre alguma vantagem que alimente seu egoísmo, daí porque abomina toda ideia ou movimento de mudança a menos que seja para retornar a um passado em que vislumbre uma posição melhor do que a atual, resultando em um sucesso ou realização pessoal.
Quanto ao termo fanatismo, neste caso político, ele surge da ausência de proposições, de politicas públicas eficientes, formação democrática e cidadã, onde os grupamentos desrespeitam os adversários e são incapazes de agir de modo coerente, contestando as normas e os códigos da sociedade.
Os referidos fanáticos sempre criam narrativas sobre a permanente presença de inimigos ameaçadores do bem-estar, do status social adquirido, dos interesses individuais ou coletivos, motivos esses suficientemente justificáveis para manter a coesão do grupo contra inimigos inimagináveis dominadores do estado e cujas crenças os levam a atitudes ilógicas como até mesmo defenderem regimes autoritários em defesa dos seus princípios.
Esse texto resume exatamente o que estamos a ver e vivenciar quotidianamente nas notícias que relatam sobre grupos de pessoas que podemos caracterizar como esse o brasileiro médio, que se aglomeram em estradas, vias públicas e portões e muros de quartéis militares, bradando, orando, chorando, marchando, lamentando-se e pedindo alguma intervenção terrestre (militar) ou celeste (alienígenas), quiçá extraterrestres, no atendimento de reivindicações absurdas, corroboradas por narrativas ilógicas, insensatas, incongruentes, como a invalidação de resultado das eleições, da idoneidade do aparato legal eleitoral, na expectativa da reversão temporal dos fatos.
Pura loucura.
A manutenção de uma crença obsessiva incapaz de admitir a realidade e que se baseia na intolerância ou na incapacidade de se conter dentro dos limites comportamentais, emocionais, admitidos socialmente descreve o tipo desse fanatismo, aquém do político, pois tais grupos não têm a formação cidadã ou a aptidão política nas argumentações ao discutir ou externar as razões pelas quais se encontram “pagando mico”.
Esses fanáticos, por não aceitarem opiniões adversas ou mesmo a realidade e que defendem suas convicções ardorosamente, são na verdade grupos solitários, rejeitados, emocionalmente instáveis, que buscam estreitar compatibilidades com pensamentos idênticos, com a proximidade de pessoas que demostram o mesmo grau de insanidade ou de infantilidade, vivenciando uma bolha que retroalimenta suas ideias.
São capazes de rezarem em torno de pneus ou reverenciar tratores e caminhões, marchar infantilmente ao som de dobrados, hinos militares e músicas de crianças, prestando continência ao “leo”, ou reverberando com seus celulares na cabeça, mensagens enigmáticas aguardando providências extraterrestres.
Acredita-se que o fanatismo político não seja uma doença, todavia tais “idiocrasias” desses grupos que se aliam para impor suas loucuras “pagando mico” põem em risco os demais alheios às tais manifestações estapafúrdias.






