Política

Relação bilateral

Brasil e Paraguai mantêm impasse sobre Itaipu; Lula sugere reunir-se com Peña em Porto Murtinho

Tarifa que Brasil paga ao Paraguai pela energia gerada pela usina é motivo do impasse; vizinhos querem receber mais

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Durante o encontro dos presidentes do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e do Paraguai, Santiago Peña, para discutir e renegociar o tratado de Itaipu terminou sem acordo, em Brasília, o mandatário propôs novos encontros: uma nova rodada de negociações na capital paraguaia, Assunção, e um encontro para celebrar o acordo em Porto Murtinho (MS), na Ponte da Integração que está sendo construída sobre o Rio Paraguai, e que liga a cidade sul-mato-grossense à cidade paraguaia de Carmelo Peralta. 

No encontro desta segunda-feira (15), Lula e Peña ficaram reunidos por quase cinco horas no Palácio do Itamaraty. Ao fim do encontro, Lula reconheceu que a principal divergência que impede o acordo é o valor da tarifa da energia elétrica produzida por Itaipu: o Brasil quer pagar menos (o preço do mercado local), enquanto o Paraguai quer cobrar o que vende ao Brasil um valor maior, para poder investir o excedente em infraestrutura. 

Por causa do impasse que se arrasta desde agosto do ano passado, o Paraguai bloqueou a aprovação do orçamento de 2024 da empresa binacional. Isso provocou problemas para que a Itaipu fizesse seus pagamentos em dia, embora não houvesse falta de caixa. Os atrasos pressionaram politicamente os presidentes a realizar a reunião nesta segunda.

A usina tem 12 diretores, seis de cada país-sócio. O conselho de adminsitração se reúne a cada dois meses. Mas, no segundo semestre do ano passado, os representantes paraguaios passaram a protelar decisões e diziam aguardar pela definição do valor da tarifa, segundo os gestores brasileiros.

Assinado em 1973 pelos governos militares, o Tratado de Itaipu estabeleceu as bases para a construção, a operação e o pagamento da dívida contraída para financiar a obra da usina. Cada país ficou com metade da energia gerada, mas o Brasil compra, com exclusividade, do Paraguai mais 30%, pelo mesmo valor. O Anexo C trata dos termos financeiros.

“Temos que fazer uma discussão profunda sobre o Anexo C. Tenho muito interesse que isso seja feito o mais rápido possível e que a gente possa trabalhar para apresentar tanto ao Paraguai quanto o Brasil uma solução definitiva de novas relações entre Paraguai e Brasil na gestão de nossa importante empresa Itaipu”, afirmou Lula, em breve declaração após o fim da visita de trabalho do paraguaio.

“Nós vamos rediscutir a questão das tarifas de Itaipu Nós temos divergência na tarifa, mas estamos dispostos a encontrar uma solução conjuntamente e nos próximos dias vamos voltar a fazer uma reunião.”

Lula afirmou que agora é o Brasil quem deve fazer uma reunião em Assunção, como visitante, para retomar as tratativas em busca da “solução definitiva” a respeito da tarifa de Itaipu, e sugeriu um encontro conjunto em Porto Murtinho (MS), na Ponte da Integração. “Espero que na próxima reunião a gente possa dizer o que aconteceu de fato e o acordo que fizemos”, afirmou o petista.

Peña disse que deseja receber a visita de Lula, mas que pretende voltar ao País muitas vezes e conversar com toda a classe política para “mudar a visão que o Brasil tem do Paraguai”. “O Paraguai é um parceiro, um amigo do Brasil, e um trabalho que temos que fazer é mudar a visão que o Brasil tem sobre o Paraguai. Quero trabalhar nisso, em todas as regiões, e com a classe política, claro. É meu desejo falar com o Congresso Nacional. É um desejo muito importante para mim falar com os senadores, deputados e governadores, nesse processo de construção juntos”, afirmou Peña.

Após 50 anos, a dívida total de US$ 63,5 bilhões foi quitada em fevereiro do ano passado. E o acordo previa que, em 13 de agosto de 2023, venceriam as condições do Anexo C, que poderiam ser mantidas ou renegociadas durante a revisão. A tratativa é coordenada pelas chancelarias dos países.

“Os objetivos (do tratado) foram alcançados. Tem muita gente que estudou os ganhos e perdas, mas a hidrelétrica está lá”, afirmou Peña. “Paraguai e Brasil são campeões do mundo em geração de energia elétrica, mas temos que olhar o futuro e sou muito ambicioso no que podemos atingir. A reunião de hoje foi muito importante, transmitimos a visão do Paraguai, escutamos a posição do Brasil, que tem muito para contribuir nesse processo".

Em sua primeira visita do País, ainda como presidente eleito, Peña afirmou que defendia a necessidade de revisar e renegociar o Anexo C.

Anexo C prevê que cada país tem direito à metade da energia gerada pela usina e venda ao outro o que não utilizar. O Paraguai já defendeu, por exemplo, que o excedente possa ser comercializado com outros países - o que foi contestado pelo lado brasileiro - e argumentou que o Brasil paga muito barato pela energia excedente que compra.

Entenda o impasse

No anexo, estão as condições de suprimento de energia, o custo do serviço de eletricidade, a receita e outras disposições que compõem as bases financeiras e de prestação dos serviços de eletricidade, conforme a empresa.

As decisões do conselho de administração precisam ser tomadas por consenso, mas há interesses opostos na definição da tarifa de Itaipu. Ela é calculada pelo Cuse (custo unitário dos serviços de eletricidade), composto por dívidas, despesas de operação, caixa e os encargos do Anexo C, que está em revisão, entre eles rendimentos de capital, royalties, ressarcimento e cessão de energia.

O objetivo não é o lucro, mas somente cobrir os custos de operação.

Com dupla gestão, a usina responde atualmente por 86,4% de toda a energia elétrica consumida no Paraguai - e não há mais demanda No Brasil, a proporção é de 8,7%. Para comparação, em 2008, por exemplo, a usina era responsável por fornecer 20% de toda a energia elétrica consumida no território brasileiro.

O Brasil entende que a tarifa deve ser estabelecida levando em conta uma nova realidade global e outras fontes de energia renovável em expansão. A tarifa de Itaipu acaba por impactar o custo de energia interno no País.

O governo reclama que há forte pressão política e da sociedade paraguaia por ganhos e que isso torna a negociação mais complexa Desde sua eleição, em abril de 2023, Peña trata diretamente com Lula, sempre que se encontram, sobre a necessidade de revisão do tratado. O assunto é considerado uma “causa patriótica” no país.

A negociação é complexa, segundo diplomatas, porque os ganhos com a venda de energia de Itaipu representam uma grande parte do orçamento do Paraguai. Um diplomata brasileiro afirmou que o assunto é tão sensível que pode “derrubar um governo” no país vizinho.

Em 2019, os países assinaram um acordo secreto estabelecendo as condições da compra da energia até 2022. Na prática, os termos acordados elevariam custos à Ande, estatal de energia paraguaia, em cerca de US$ 200 milhões. Por isso, levou a um pedido de impeachment do então presidente paraguaio Mario Abdo Benítez.

Entre 2009 e 2021, o valor ficou fixado em US$ 22,60/kW.mês (quilowatt-mês). Em 2022, o governo Jair Bolsonaro conseguiu reduzir para US$ 20,75/kW.mês (quilowatt-mês).

No ano passado, o governo Lula conseguiu uma redução ainda maior, e passou a vigorar a tarifa de US$ 16,71/kW.mês (quilowatt-mês), queda de 8% em relação ao a 2022 e de 26% em relação à tarifa que vigorou por 12 anos.

O governo do Paraguai quer a volta da tarifa a US$ 20,75, enquanto o Brasil pretende manter o mais baixo possível. Como não houve acordo até o fim do ano, a Cuse permaneceu provisoriamente em US$ 16,71, o que a gestão brasileira considera positivo manter.

Em outubro do ano passado, o diretor-geral de Itaipu pelo lado brasileiro, o petista Enio Verri, disse que a Cuse deveria ser de US$ 12,47, o que permitiria a realização de investimentos mínimos. Ele reconheceu, porém, que a prioridade do Paraguai é aumentar a tarifa, enquanto a do Brasil é reduzir.

Os paraguaios defendem novas formas e mais liberdade de uso de sua cota na energia gerada pela usina, como forma de pressão. Ou cobram a elevação da tarifa, que permite investimentos do governo paraguaio em infraestrutura e geração de empregos internamente, como também vem fazendo o Brasil.

Esse é um interesse político comum e cada vez mais usual, por meio do caixa de Itaipu.
 

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CADEIRA COBIÇADA

Quatro deputados estaduais "brigam" por Primeira-Secretaria da Assembleia

Para a presidência da Casa de Leis, o nome de Gerson Claro (PP) é consenso para ficar por mais dois anos no comando

18/09/2024 08h00

A nova composição da Mesa Diretora da Assembleia Legislativa está na pauta dos parlamentares

A nova composição da Mesa Diretora da Assembleia Legislativa está na pauta dos parlamentares Foto: Luciana Nassar/alems

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Mesmo com as eleições municipais tomando a maior parte das agendas dos deputados estaduais, as articulações para a escolha dos novos componentes do segundo mandato da Mesa Diretora da Assembleia Legislativa de Mato Grosso do Sul (Alems) continuam movimentando os bastidores da Casa de Leis.

Se no fim do mês de maio o Correio do Estado divulgou com exclusividade que o assunto já estava a todo vapor nos gabinetes e nos corredores da sede do Poder Legislativo, agora, faltando apenas cinco meses para o fim do primeiro mandato de dois anos, a questão entrou em ebulição, e há quatro nomes interessados na Primeira-Secretaria da Alems.

Segundo informações obtidas pela reportagem, o atual presidente, deputado estadual Gerson Claro (PP), será reconduzido ao cargo, porém, mais uma vez, não há consenso sobre o segundo cargo mais importante da Casa de Leis, que hoje é ocupada pelo deputado estadual Paulo Corrêa (PSDB), que está tentando continuar na cadeira.

FOGO AMIGO

O Correio do Estado apurou que, para infelicidade do parlamentar tucano, pelo menos até o momento, o seu nome não é consenso, e ele enfrenta concorrência dentro do próprio ninho, pois tanto o deputado estadual Zé Teixeira quanto o deputado estadual Jamilson Name estão em plena campanha pela Primeira-Secretaria.

Até maio, a deputada estadual Mara Caseiro, também tucana, estaria propensa a ingressar nessa “briga”, mas decidiu pensar melhor e teria informado aos colegas que não tem mais esse interesse.

Porém, em seu lugar surgiu um novo nome, e com grandes chances de embolar a disputa: o deputado estadual Coronel David (PL).

A indicação do nome do parlamentar nem partiu do próprio, mas de um grupo de colegas do Legislativo que enxergam no oficial da Polícia Militar a melhor opção e já teriam conseguido convencê-lo da empreitada. 
Portanto, a “guerra” pelo cargo terá pesos pesados no fronte, dificultando a construção de uma chapa de consenso.

FIM DE CICLO

Se Coronel David representa o novo dentro da Casa de Leis, o mesmo não pode ser dito do atual primeiro-secretário, Paulo Corrêa, nem de um dos postulantes, o deputado estadual Zé Teixeira.

Entretanto, Zé Teixeira, apesar da idade, não enfrenta a rejeição de Paulo Corrêa junto aos demais parlamentares. Para a maioria dos deputados estaduais, o ciclo do atual primeiro-secretário já teria acabado e chegou a hora de renovação, abrindo espaço para um novo nome dentro da atual legislatura.

Para ser o escolhido em fevereiro de 2023, fontes ouvidas pelo Correio do Estado garantem que Paulo Corrêa teve de recorrer ao ex-governador Reinaldo Azambuja, presidente estadual do PSDB, para que os colegas Jamilson Name e Mara Caseiro abrissem mão da disputa pela Primeira-Secretaria da Casa de Leis.

SEM CARTA NA MANGA

Na época, a reportagem foi informada que Azambuja teria dito para Corrêa que aquele teria sido o derradeiro pedido dele, portanto, nas próximas eleições da Mesa Diretora da Assembleia Legislativa, marcadas para fevereiro de 2025, o parlamentar não terá a quem recorrer e será obrigado a enfrentar uma disputa no voto.

A reportagem ainda recebeu informações de que também poderá haver trocas nos demais cargos da Mesa Diretora, que hoje tem, além de Gerson Claro e Paulo Corrêa, os deputados Renato Câmara (MDB), como 1º vice-presidente, Zé Teixeira (PSDB), como 2º vice-presidente, Mara Caseiro (PSDB), como 3ª vice-presidente, Pedro Kemp (PT), como 2º secretário, e Lucas de Lima (PDT), como 3º secretário.

ENTENDA

Conforme o artigo 25 do regimento interno da Assembleia Legislativa, os deputados que compõem a Mesa Diretora são escolhidos pelo corpo parlamentar por meio de votação nominal e aberta. Os eleitos cumprem mandato de dois anos, permitida a reeleição.

O ano de 2025 não é de encerramento da Legislatura, mas é de encerramento de mandato da atual Mesa Diretora e, por isso, será necessária a realização de uma nova eleição. 

Saiba

O primeiro-secretário é responsável pelos serviços administrativos e por supervisionar procedimentos ligados à gestão interna da Casa de Leis, tais como a fiscalização das despesas, a inspeção dos trabalhos, a verificação de comparecimento dos parlamentares, a leitura de ofícios das autoridades e, também, o recebimento das correspondências destinadas à Assembleia Legislativa.

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Política

CNJ autoriza recurso do Judiciário para combate às queimadas

Repasse será arrecadado com multas e penas pecuniárias

17/09/2024 20h00

CNJ autoriza recurso do Judiciário para combate às queimadas

CNJ autoriza recurso do Judiciário para combate às queimadas Rafa Neddermeyer

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O Conselho Nacional de Justiça (CNJ) autorizou nesta terça-feira (17) o repasse de recursos arrecadados pelo Poder Judiciário com multas e penas pecuniárias para o combate às queimadas em todo o país.CNJ autoriza recurso do Judiciário para combate às queimadasCNJ autoriza recurso do Judiciário para combate às queimadas

Durante a sessão de hoje, o CNJ também decidiu que juízes de todo o país deverão dar prioridade ao julgamento de processos sobre a punição de infrações ambientais e de medidas cautelares para busca a apreensão e prisões preventivas envolvendo o tema.

O repasse dos valores deverá ser feito nos moldes do modelo adotado pelo Judiciário para socorrer a Defesa Civil do Rio Grande do Sul, órgão que ficou responsável pela assistência aos atingidos pelas fortes chuvas que inundaram parte do estado em maio deste ano. Cerca de R$ 198 milhões foram repassados.

Ontem (16), o presidente do CNJ, ministro Luís Roberto Barroso, cobrou seriedade do Poder Judiciário no combate às queimadas criminosas no país.

Durante discurso proferido na abertura da reunião do Observatório do Meio Ambiente e de Mudanças Climáticas do conselho, Barroso disse que recebeu um telefonema do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que demonstrou preocupação com a impunidade de quem pratica queimadas dolosas.

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