Encabeçada pelo sul-mato-grossense Nelsinho Trad (PSD), presidente da Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional (CRE), a cúpula do Senado Federal, que está em solo americano, pretende adiar as taxações comerciais de Donald Trump, previstas para o início de agosto.
A tarifa de importação de 50% anunciada pelo governo dos Estados Unidos sobre produtos brasileiros deve entrar em vigor no já no dia 1º, com isso, a missão oficial do Senado Federal está em Washington D.C. é tentar reverter a medida. O grupo, participa nesta terça-feira (29) de reuniões no Capitólio com parlamentares norte-americanos, numa tentativa de abrir diálogo e demonstrar as perdas bilaterais provocadas pelo tarifaço.
"A gente sabe que não é aqui que vamos resolver o problema das tarifas, mas viemos mostrar que o Senado brasileiro está disposto a abrir o diálogo e construir pontes", declarou Nelsinho Trad.
Segundo o senador, a missão representa o primeiro passo para uma reaproximação institucional entre os congressos dos dois países. "Não viemos com bandeira ideológica, viemos com dados e responsabilidade. O 'não' nós já temos, viemos correr atrás do 'sim'", completou.
Também de Mato Grosso do Sul, a senadora Tereza Cristina (PP-MS) integra a comitiva e reforça o posicionamento da bancada brasileira em defesa dos interesses do país, especialmente em relação ao agronegócio, setor no qual tem forte atuação e que será diretamente impactado pelas novas tarifas.
Diálogo
A expectativa da missão é conquistar apoio tanto de parlamentares democratas quanto de representantes do Partido Republicano, legenda do presidente norte-americano Donald Trump. Um dos primeiros encontros ocorreu com o senador democrata Martin Heinrich, do Novo México, estado que importa ao menos dez produtos brasileiros. O grupo pretende sensibilizar os congressistas norte-americanos com dados sobre as implicações da tarifa nos estados que representam.
Além das reuniões no Congresso, a comitiva também entregará convites formais para que os parlamentares dos EUA visitem o Brasil e conheçam de perto os setores e produtos que serão impactados.
Apoio
Na segunda-feira (28), os senadores se reuniram com representantes da Câmara Americana de Comércio e do Conselho Empresarial Brasil-Estados Unidos. O grupo também se encontrou com executivos de grandes corporações, como Cargill, ExxonMobil, Johnson & Johnson e Caterpillar, ocasião em que os senadores manifestaram o interesse sobre o adiamento da sobretaxa.
Além de Nelsinho Trad e Tereza Cristina, participam da missão os senadores Carlos Viana (Podemos-MG), Jacques Wagner (PT-BA), Rogério Carvalho (PT-SE), Esperidião Amin (PP-SC), Astronauta Marcos Pontes (PL-SP) e Fernando Farias (MDB-AL).
Origem da tarifa
A sobretaxa foi anunciada em 9 de julho, por meio de mensagem nas redes sociais do presidente Donald Trump. Ele alega que a decisão é uma resposta à suposta perseguição judicial contra o ex-presidente Jair Bolsonaro por parte do Supremo Tribunal Federal (STF).
Para o consultor legislativo do Senado, Henrique Salles Pinto, especialista em economia e agricultura, a iniciativa do governo norte-americano tem um viés mais político e geopolítico do que comercial. Segundo ele, o temor é de que o Brasil fique isolado, enquanto os EUA negociam reduções tarifárias com outros parceiros estratégicos como União Europeia e China.
Impacto no Brasil
De acordo com Salles Pinto, o tarifaço impactará especialmente a exportação de produtos de maior valor agregado, como aviões, máquinas, equipamentos e alimentos processados, como suco de laranja. Ele alerta que a medida poderá inviabilizar as exportações brasileiras para o mercado americano, gerando prejuízos severos.
Regiões como o eixo São PauloRio de JaneiroMinas Gerais, que lideram as exportações para os EUA, devem sentir os maiores impactos em valores absolutos. A Embraer, exportadores de combustíveis do Rio de Janeiro e produtores de cafés e chás de Minas Gerais serão os mais afetados, diz Pinto.
Já em termos proporcionais, os estados mais afetados serão Ceará, Sergipe e Espírito Santo , que dependem mais da pauta de exportações para os EUA. Em Sergipe, o impacto sobre o suco de laranja pode representar um verdadeiro "embargo econômico", segundo o consultor.
Consequências para os EUA
Salles Pinto aponta ainda que os prejuízos não serão exclusivos ao Brasil. O tarifaço faz parte de um conjunto de medidas protecionistas que os EUA têm adotado contra parceiros como China, Coreia do Sul, Japão e União Europeia.
Para tentar conter o avanço da inflação, o Federal Reserve (Banco Central dos EUA) tem mantido as taxas de juros em níveis elevados, o que pode desestimular o investimento privado no país. "Se as taxas estão altas, os empresários tendem a investir menos. Isso afeta o crescimento econômico e pode aumentar o desemprego nos EUA", alerta o consultor legislativo.
A missão brasileira segue em articulação até o último momento, tentando convencer as autoridades americanas de que a tarifa de 50% imposta ao Brasil é uma decisão de "perde-perde" tanto para exportadores brasileiros quanto para consumidores e investidores norte-americanos.
Com informações de Agência Senado


