Antigo conhecido do município, o servidor faz parte do quadro de contratados desde a gestão anterior
Cerca de 25 anos após a prefeita de Mundo Novo, Dorcelina Folador (PT), ter sido morta a tiros aos 36 anos, o mandante do crime, J.M.D.S., retornou à prefeitura, ocupando o cargo de fiscal da Vigilância Sanitária do município.
A reportagem entrou em contato com a atual prefeita de Mundo Novo, Rosária de Fátima Ivantes Lucca Andrade (PSDB), que relatou que J.M.D.S. está contratado desde a gestão anterior, em que ela era vice de Valdomiro Sobrinho.
Ainda conforme a gestora, por decisão judicial, foi determinado que o município não realizasse novas contratações e conduzisse aos cargos os servidores públicos que compunham a gestão, até que fosse realizado um concurso público.
No Portal da Transparência, o servidor em questão consta como contratado desde o dia 19 de março de 2024, com salário de R$ 2.480,55, de acordo com o portal, que é de consulta pública.
Conforme o relato da prefeita Rosária de Fátima, cumprindo a determinação da Justiça, J.M.D.S. teve que ser religado ao quadro de servidores, e o vínculo com o município iniciou no dia 17 de fevereiro deste ano, mantendo o soldo do ano anterior.
Dessa forma, por decisão do juiz Guilherme Henrique Berto de Almada, cabe ao município de Mundo Novo realizar o concurso público, assim como:
- Encaminhar uma lista detalhada com os nomes, funções desempenhadas e lotação das pessoas contratadas via processo seletivo;
- Realizar a recontratação temporária com prazo limite de 30/11/2025;
- Apresentar o projeto de lei para a criação dos cargos públicos necessários para os serviços a serem desempenhados pelo Executivo Municipal até 30/04/2025.
Com a aprovação da lei que cria os cargos públicos, a Prefeitura de Mundo Novo terá até o dia 31 de maio para contratar a empresa responsável pela organização do concurso.
Contratação
Sobre a situação do servidor que respondeu à Justiça como mandante do "crime de pistolagem" que tirou a vida de Dorcelina Folador, a prefeita Rosária de Fátima justificou dizendo que "ninguém pode questionar" essa situação.
"Temos um presidente que foi preso por roubar uma nação, e o que a gente vai falar sobre isso? Ele [o mandante da morte de Dorcelina] cumpriu a pena, fez o processo seletivo como todos os demais. Cumpriu toda a pena, passou e foi contratado", explicou a prefeita, que completou:
"Não só ele, como cento e vinte e três funcionários que tivemos que recontratar a pedido da Justiça até a realização do concurso, possivelmente no mês de julho."
Outro lado
Em resposta, por meio de nota, o Diretório Municipal do Partido dos Trabalhadores de Mundo Novo repudiou a fala da prefeita Rosária de Fátima Lucca, concedida ao Correio do Estado, e também a nomeação do mandante do assassinato de Dorcelina.
O diretório afirmou que ingressará com um pedido de desligamento do servidor e rebateu a fala da prefeita, que usou a presença servidor em questão para "ofender" o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e "justificar uma decisão dela".
Leia a nota na íntegra:
"O Partido dos Trabalhadores e das Trabalhadoras de Mundo Novo – MS vem a público expor a seguinte nota:
Repudiamos a contratação do principal culpado pelo assassinato de Dorcelina Folador para exercer um cargo que está no organograma da prefeitura como cargo efetivo, para ser preenchido através de concurso público;
Justamente no mês em que foi designado para lembrar as lutas das mulheres, causa transtorno e revolta esse ato da Prefeita premiando o mandante do assassinato de Dorcelina com um cargo na prefeitura;
É inadmissível que uma prefeita ofenda publicamente o presidente da república para justificar um ato seu.
O Partido dos Trabalhadores e das
Trabalhadoras tomará as medidas cabíveis para responsabilizar a prefeita por calúnia e injúria.
Para finalizar, solicitará a imediata demissão do mandante do assassinato da Companheira Petista Dorcelina de Oliveira Folador do quadro de contratados da prefeitura de Mundo Novo-MS"
Relembre
Em janeiro de 1997, Dorcelina Folador assumiu o mandato à frente do Executivo Municipal de Mundo Novo. Entretanto, dois anos depois, no dia 30 de outubro de 1999, foi assassinada em um "crime de pistolagem".
Dorcelina foi alvejada a tiros na varanda de sua residência, aos 36 anos. A investigação apontou J.M.D.S. como mandante do crime. À época, ele confessou ter contratado o pistoleiro G.M. por R$ 35 mil para cometer o assassinato.
No dia 30 de outubro de 2024, o crime completou 25 anos.
Natural de Guaporema, no Paraná, Dorcelina nasceu em 27 de julho de 1963. Em 1976, mudou-se para Mundo Novo e iniciou sua militância na Pastoral da Juventude em 1980.
Em 1987, participou da fundação do Partido dos Trabalhadores e se candidatou a vereadora, sendo eleita prefeita posteriormente. Entre suas lutas, destaca-se a fundação da Associação Mundonovense dos Portadores de Deficiência Física (AMPDF).
Dorcelina era artista plástica e, em 1989, engajou-se no Movimento Sem Terra, chegando a compor a equipe de direção do movimento em Mato Grosso do Sul.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva reconheceu a luta de Dorcelina, destacando sua atuação política:
"Foi uma companheira de um valor político extraordinário, de uma garra excepcional. Uma daquelas mulheres que brigava 24 horas por dia pelo que acreditava. E foi exatamente por ser assim, por ter esse comportamento desafiador, que ela foi assassinada dentro de sua casa", disse Lula.
** Matéria atualizada 21h30 para inserção de informações
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