A Procuradoria-Geral de Justiça do Ministério Público de Mato Grosso do Sul (MPMS) denunciou 26 pessoas, incluindo o prefeito de Terenos, Henrique Wancura Budke (PSDB), por formarem uma “robusta organização criminosa” que, segundo as investigações, transformou a prefeitura em balcão de negócios desde 2022 para fraudar licitações e desviar dinheiro público. A denúncia é resultado da “Operação Spotless”, que, em setembro de 2025, levou à prisão de 16 envolvidos, entre eles o próprio prefeito, reeleito em 2024.
As investigações, conduzidas pelo GAECO (Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado), revelaram o domínio quase absoluto do grupo sobre os contratos públicos. Entre 2021 e 2023, as empresas da organização venceram 94% das licitações na modalidade Tomada de Preços. Nas Cartas-Convite, o domínio foi de 85% em 2021, 80% em 2022 e chegou a 100% em 2023.
De acordo com a denúncia, a organização era liderada por Budke e atuava desde 2021, primeiro ano de sua gestão, de forma sistemática para direcionar licitações de obras de engenharia. O grupo, composto por servidores públicos de alto escalão, um policial militar e 22 empresários, operava um esquema de “rodízio”, no qual as empresas combinavam quem venceria cada certame, enquanto as outras participavam como “cobertura”, simulando uma falsa concorrência.
O procedimento investigatório teve início a partir de uma denúncia anônima enviada ao MPMS em julho de 2022, que citava o fato de Tiago Lopes de Oliveira, ex-chefe de gabinete, ter pedido exoneração e montado uma empresa para participar de licitações — a D’aco Construções e Logística, junto de Hander Grote, com a HG Empreiteira.
Investigação
A denúncia detalha minuciosamente como as fraudes eram arquitetadas. Em um dos casos, referente à reforma de uma escola no valor de R$ 1,1 milhão, os empresários Sandro José Bortoloto e Cleberson José Chavoni, em conluio com o então chefe de gabinete Tiago Lopes de Oliveira e o secretário de Obras Isaac Cardoso Bisneto, teriam montado todo o processo licitatório 20 dias antes de sua publicação oficial. O esquema incluía a contratação de uma engenheira para elaborar os projetos como se fossem da prefeitura.
Conversas interceptadas e dados de quebras de sigilo bancário e telemático comprovam, segundo o MP, o pagamento de propina ao prefeito Henrique Budke. Em um dos episódios, após o pagamento de uma medição de obra, o empresário Sandro Bortoloto sacou R$ 30 mil em espécie no mesmo dia e se encontrou com o prefeito.
Uma mensagem de áudio enviada ao seu sócio confirma o repasse: “Você viu que eu mandei os trinta do ‘homi’, né?” A investigação aponta que o prefeito recebeu R$ 60 mil em propina neste contrato.
A denúncia ressalta que, mesmo após a deflagração da “Operação Velatus”, a organização criminosa continuou a firmar contratos e aditivos com a Prefeitura de Terenos, movimentando mais de R$ 16,5 milhões.
Durante o cumprimento da Operação Spotless, foram apreendidos cheques de R$ 200 mil na casa de um dos empresários e R$ 11,3 mil em espécie na casa do prefeito.
Os 26 denunciados responderão pelos crimes de organização criminosa, fraude à licitação, corrupção ativa, corrupção passiva e lavagem de capitais.
Lavagem de dinheiro e enriquecimento ilícito
Além da corrupção, a denúncia aponta para um elaborado esquema de lavagem de dinheiro chefiado por Henrique Budke. A investigação revela um aumento patrimonial incompatível com sua renda. Em 2020, ele declarou à Justiça Eleitoral um patrimônio de R$ 776 mil. Já em 2024, ano de sua reeleição, o valor saltou para R$ 2,4 milhões.
No entanto, a apuração do MPMS indica que o patrimônio real do prefeito, considerando bens subavaliados e ocultos, ultrapassa os R$ 6,1 milhões — um crescimento de 691%.
Entre os bens está uma fazenda em Aquidauana, avaliada em R$ 4,3 milhões, mas declarada por apenas R$ 1,5 milhão. Para justificar a origem do dinheiro, o prefeito utilizaria contratos simulados de parcerias pecuárias com familiares, como o sogro e o pai.


