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Para juristas de MS, PEC da Blindagem deve ser declarada inconstitucional

Caso seja aprovada pelo Senado, parlamentares só poderão ser presos, mesmo que em flagrante, após votação do Congresso

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Após manobra costurada pelo presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB) para aprovar a autorização ou não de abertura de processo criminal contra parlamentares federais, o Correio do Estado procurou os juristas Sandro Rogério Monteiro de Oliveira, André Borges e Benedicto Arthur de Figueiredo Neto para comentarem sobre a chamada PEC da Blindagem.

Eles acreditam que a referida PEC, que agora terá apenas de passar pelo Senado para começar a valer, deve ser declarada inconstitucional. 

Doutor em Direito Constitucional e professor da Faculdade de Direito (Fadir), da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), Sandro de Oliveira explicou que a exigência de autorização prévia do Congresso para o prosseguimento de ações penais contra parlamentares tende a dificultar ou mesmo impedir investigações e processos, sobretudo em contextos em que haja maioria parlamentar aliada ou conivente. 

Além disso, conforme ele, o uso do voto secreto favorece a ocultação de responsabilidades, reduzindo a transparência e impedindo que a sociedade acompanhe de forma clara a postura de seus representantes. 
“Do ponto de vista constitucional, a proposta afronta cláusulas pétreas, como a separação de Poderes, o princípio da igualdade, a dignidade da pessoa humana e o devido processo legal. Ao transferir para o Legislativo a decisão sobre a possibilidade de processamento de parlamentares, limita a atuação do Poder Judiciário e enfraquece os mecanismos de freios e contrapesos”, manifestou-se.

O professor acrescentou que há uma tendência de agravar a tensão entre os Poderes Legislativo e Judiciário, especialmente o Supremo Tribunal Federal (STF), que atualmente detém competência para julgar parlamentares em determinadas hipóteses. 

“Também pode gerar descrédito das instituições democráticas, uma vez que a medida é interpretada pela população como tentativa de autoproteção por parte do Congresso”.

Sandro de Oliveira descreveu que a tramitação de processos criminais contra parlamentares corre o risco de sofrer atrasos, já que a necessidade de deliberação das casas de Leis pode funcionar como um mecanismo de engessamento. 

“Em casos de prisão em flagrante por crimes inafiançáveis, mesmo havendo previsão de análise em até 24 horas, a ausência de deliberação pode suspender a prisão, abrindo espaço para impunidade, recursos jurídicos e até mesmo fugas”, alertou.

Ainda de acordo com ele, partes da PEC podem ser questionadas no STF, sobretudo aquelas que contrariam cláusulas pétreas ou alteram a repartição de competências estabelecida na Constituição. 

“Mesmo que seja aprovada, sua efetividade dependerá de regulamentações complementares e de interpretações judiciais, o que pode limitar ou mesmo barrar seus efeitos. A PEC, se aprovada, poderá ser aplicada pelos parlamentos estaduais, blindando do mesmo modo deputados estaduais investigados”, projetou.

Já o advogado André Borges explicou ao Correio do Estado que a PEC da Blindagem é um assunto bem polêmico. “Entre os principais pontos da PEC da Blindagem, está a ampliação do foro privilegiado para beneficiar presidentes de partidos políticos, que só poderão ser processados criminalmente no STF”, apontou.

De acordo com o advogado, “as novidades se apresentam como uma forte reação às inúmeras decisões recentes do STF contra parlamentares”. 

“A Câmara dos Deputados criou mecanismo de maior proteção: processos criminais e prisões de parlamentares dependerão da prévia autorização das câmaras alta e baixa”, disse, ressaltando que, para ele, “a PEC fortalece o exercício livre e desimpedido do mandato parlamentar”.
Borges completou que “não reputo a medida exagerada, pois os parlamentares exercem função pública de alta relevância e precisam ter ampla liberdade de fala, movimentação e ações para bem defenderem os interesses públicos”. 

“Entretanto, considerando o forte ativismo atual do STF, não é de duvidar que haverá questionamento sobre a PEC, se ela for aprovada. Podendo ser derrubada por inconstitucionalidade: violação da separação dos Poderes, porque estaria havendo participação indevida do Poder Legislativo em assunto que caberia apenas ao Poder Judiciário – prisões, medidas cautelares, processos criminais”, analisou.

O jurista Benedicto Neto comentou que a PEC da Blindagem “é o avesso do que propôs o legislador constituinte originário, quando promulgou a Constituição e fez constar no preâmbulo da Carta Magna que buscaria a solução pacífica das controvérsias”.

“O acirramento dos ânimos entre os Poderes Legislativo e Judiciário deixou de ser institucional para se pessoalizar, eis que a justificativa da PEC da Blindagem tem dois personagens envolvidos em um imbróglio já conhecido: a prisão decretada monocraticamente pelo ministro Alexandre de Moraes, do STF, contra o deputado federal Daniel Silveira (PL-RJ), e o estopim acaba sendo o julgamento do ex-presidente da República Jair Bolsonaro (PL)”, opinou.

De fato, conforme o advogado, a polarização política entre progressistas, conservadores e uma discussão polêmica sobre a imparcialidade do ministro Alexandre de Moraes está transformando a República em uma arena de gladiadores, que a cada dia mais vem destruindo a independência e a harmonia entre os 
Poderes.

ACEITOU

Moraes autoriza Bolsonaro a ser submetido a ultrassom na prisão

Exame será feito com equipamento portátil nas regiões inguinais

14/12/2025 11h30

Alexandre de Moraes aceitou o pedido da defesa do ex-presidente Jair Bolsonaro para realização de um exame de ultrassonografia dentro da prisão

Alexandre de Moraes aceitou o pedido da defesa do ex-presidente Jair Bolsonaro para realização de um exame de ultrassonografia dentro da prisão Foto: Reprodução

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O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), aceitou o pedido da defesa do ex-presidente Jair Bolsonaro para realização de um exame de ultrassonografia dentro da prisão. A decisão foi proferida na noite deste sábado (13).

Bolsonaro está preso em uma sala da Superintendência da Polícia Federal (PF), em Brasília, onde cumpre pena de 27 anos e três meses de prisão pela condenação na ação penal da trama golpista.

“Diante do exposto, autorizo a realização do exame no local onde o condenado encontra-se custodiado, nos termos requeridos pela defesa. Dê-se ciência da presente decisão à Polícia Federal. Intimem-se os advogados regularmente constituídos”, decidiu o ministro.

O pedido de autorização foi feito na última quinta-feira (11) após Moraes determinar que Bolsonaro passe por uma perícia médica oficial, que deve ser feita pela própria PF, no prazo de 15 dias.

O exame será feito pelo médico Bruno Luís Barbosa Cherulli. O profissional fará o procedimento com um equipamento portátil de ultrassom, nas regiões inguinais direita e esquerda.

A defesa disse que a medida é necessária para atualizar os exames do ex-presidente. Ao determinar a perícia, Moraes disse que os exames apresentados por Bolsonaro para pedir autorização para fazer cirurgia e cumprir prisão domiciliar são antigos.

Na terça-feira (9), os advogados de Bolsonaro afirmaram que o ex-presidente apresentou piora no estado de saúde e pediram que ele seja levado imediatamente ao Hospital DF Star, em Brasília, para passar ser submetido a cirurgia.

Espera

Motta aguarda assessoria jurídica da Câmara para definir posse de suplente de Zambelli

Primeira Turma do STF confirmou, ontem, 12, a decisão do ministro Alexandre de Moraes que decretou a perda imediata do mandato de Zambelli

13/12/2025 21h00

Presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta

Presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta Foto: Câmara dos Deputados

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O presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), espera uma resposta da assessoria jurídica da Casa para definir o destino do mandato da deputada federal Carla Zambelli (PL-SP) até segunda-feira, 15.

A equipe de Motta afirmou à reportagem que a decisão deve tratar não necessariamente da cassação de Zambelli, mas da posse de Adilson Barroso (PL-SP). O prazo de 48 horas dado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) à Câmara menciona especificamente a posse do suplente, não a cassação da titular.

A Primeira Turma do STF confirmou, ontem, 12, a decisão do ministro Alexandre de Moraes que decretou a perda imediata do mandato de Zambelli. O colegiado também chancelou a determinação para que a Mesa da Câmara dê posse ao suplente da deputada em até 48 horas, como prevê o regimento interno da Casa.

A decisão anulou a deliberação da própria Câmara de rejeitar a cassação de Zambelli, o que foi visto como afronta ao STF. Foram 227 votos pela cassação, 170 votos contrários e dez abstenções. Eram necessários 257 votos para que ela perdesse o mandato.

Moraes disse em seu voto que a deliberação da Câmara desrespeitou os princípios da legalidade, da moralidade e da impessoalidade, além de ter "flagrante desvio de finalidade".

O ministro afirmou que a perda do mandato é automática quando há condenação a pena em regime fechado superior ao tempo restante do mandato, já que o cumprimento da pena impede o trabalho externo.

Nesses casos, cabe à Casa legislativa apenas declarar o ato, e não deliberar sobre sua validade.

O STF condenou Zambelli em maio pela invasão de sistemas e pela adulteração de documentos do Conselho Nacional de Justiça (CNJ). A pena é de 10 anos de prisão em regime inicial fechado, e tem como resultado a perda do mandato na Câmara.

A deputada, no entanto, fugiu do País antes do prazo para os recursos. Ela hoje está presa preventivamente na Itália, e aguarda a decisão das autoridades italianas sobre a sua extradição.

A votação em plenário na madrugada da quinta-feira, 11, contrariou a decisão da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Casa, que, na tarde desta quarta-feira, 10, tinha aprovado a cassação.

Zambelli participou por videoconferência da deliberação da CCJ e pediu que os parlamentares votassem contra a sua cassação, alegando ser inocente e sofrer perseguição política. "É na busca da verdadeira independência dos Poderes que eu peço que os senhores votem contra a minha cassação", disse.

No plenário, a defesa ficou com Fábio Pagnozzi, advogado da parlamentar, que fez um apelo para demover os deputados. "Falo para os deputados esquecerem a ideologia e agir como seres humanos. Poderiam ser o seus pais ou seus filhos numa situação dessas", afirmou. O filho da parlamentar, João Zambelli, acompanhou a votação. Ele completou 18 anos nesta quinta-feira.

O líder do PT na Câmara, Lindbergh Farias (RJ), discursou pedindo pela cassação. "Estamos aqui para votar pela cassação que já deveria acontecer há muito tempo", disse.

O PL trabalhou para contornar a cassação, para esperar que Zambelli perca o mandato por faltas. Pela regra atual, ela mantém a elegibilidade nessa condição.

Caso tivesse o mandato cassado, ficaria o tempo de cumprimento da pena mais oito anos fora das urnas. Ela só poderia participar de uma eleição novamente depois de 2043. Estratégia similar foi feita com Eduardo Bolsonaro (PL-SP), que deverá ter a perda do mandato decretada pela Mesa Diretora.

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