O tabuleiro político em Mato Grosso do Sul se redefiniu com as filiações de prefeitos na tríplice aliança formada por PP, PL e PSDB, consolidando uma nova arquitetura de poder em que a influência do ex-governador Reinaldo Azambuja (PL) foi decisiva para limitar o avanço do Progressistas (PP) no interior do Estado.
O PP, liderado pela senadora Tereza Cristina e que filiou recentemente o governador Eduardo Riedel, confirma um saldo de 22 prefeituras em MS, mas sofreu um revés estratégico crucial com a possível desistência da filiação do prefeito de Três Lagoas, Dr. Cassiano Maia, de ingressar no partido.
Prevista para ocorrer no sábado (04) pela manhã, a cerimônia do PP seria mais modesta do que a do PL para receber os novos filiados, incluindo os prefeitos Marcelo Pé (Antônio João), Gilson Cruz (Juti), Nelson Cintra (Porto Murtinho) e Leocir Montanha (São Gabriel do Oeste). A migração do prefeito da terceira cidade mais populosa do Estado, Três Lagoas, seria a joia da coroa para o Progressistas.
Contudo, a filiação do atual prefeito, Dr. Cassiano Maia (PSDB), que havia sido incluída em uma lista elaborada na Casa Civil do governo do Estado, foi abortada de última hora. Fontes nos bastidores atribuem a manutenção de Maia no PSDB a um pedido direto de Reinaldo Azambuja.
Com a permanência do prefeito, o PP fecha o período de filiações sem o ativo mais cobiçado no Leste de MS, mantendo-se com o total de 22 prefeitos.
A manobra de Azambuja não só impediu que o Progressistas alcançasse a simbólica marca de 23 prefeitos — o que lhe daria a dianteira numérica sobre o PSDB e empataria com o PL —, mas também garantiu que o controle do maior polo industrial do interior permanecesse na aliança comandada diretamente por Azambuja.
Como administra Campo Grande, o PP se mantém na liderança em número de eleitores em suas prefeituras. Contudo, a questão da popularidade da prefeita Adriane Lopes afasta sua imagem do comando do partido e do governo do Estado.
Com isso, os municípios comandados pelo PP são de pequeno e médio porte, com até 25 mil eleitores, enquanto os maiores, Dourados, Três Lagoas e Ponta Porã, permanecem sob comando do PSDB.
Três Lagoas: ativo econômico e eleitoral
A importância de Três Lagoas no cenário estadual é multifacetada. O município é o terceiro mais populoso, com uma população estimada em 143.500 habitantes, atrás apenas da Capital, Campo Grande (962.883 habitantes), e de Dourados (264.017 habitantes). Seu peso demográfico a torna um colégio eleitoral fundamental para qualquer projeto majoritário.
Economicamente, a cidade se consolidou como o “Vale da Celulose”, sendo reconhecida como o maior produtor e exportador mundial do setor, antes da inauguração das novas plantas em Inocência e Ribas do Rio Pardo. A injeção industrial transformou o município, cujo Produto Interno Bruto (PIB) cresceu 17 vezes em um período de expansão.
A disputa pelo comando da cidade, portanto, transcende a política eleitoral, representando o controle sobre um dos principais motores econômicos de Mato Grosso do Sul.
Azambujistão
Azambuja liderou a migração de 18 prefeitos do PSDB para o PL. Essa movimentação transformou o PL na maior força municipal do Estado, somando agora 23 prefeituras sob seu comando.
A articulação demonstra dupla capacidade de influência. Ao mesmo tempo em que fortaleceu exponencialmente o PL, Azambuja evitou o colapso do seu antigo partido, garantindo que o PSDB mantivesse uma base sólida para “respirar” com 22 prefeitos, conforme o balanço final. O foco é 2026, quando vereadores e prefeitos farão diferença na montagem de chapas para o Senado, Câmara Federal e Assembleia Legislativa.
Sua intervenção em Três Lagoas consolida a tese de que Azambuja permanece como o articulador-chave dos partidos de centro e extrema-direita estadual, definindo o teto e o chão de seus aliados.
Progressistas: popularidade e baixa exposição
Apesar da contenção no interior, o Progressistas mantém seu principal trunfo: a Prefeitura de Campo Grande. A vitória da prefeita Adriane Lopes (PP) garantiu ao partido o comando do maior colégio eleitoral do Estado.
A consolidação do PP na Capital é creditada à senadora Tereza Cristina, principal articuladora e fiadora política da campanha de Lopes. Contudo, a estratégia do partido tem sido manter a prefeita com uma exposição focada na entrega de resultados executivos, como a retomada de 28 das 33 obras paradas e o avanço em infraestrutura.
O cenário finaliza com uma virtual paridade de forças no mapa municipal: PL com 23, e PP e PSDB com 22 prefeitos cada, sinalizando uma disputa majoritária intensa e polarizada para 2026.
Procurados para comentar, Azambuja, a senadora Tereza Cristina, o dirigente Marco Aurélio Santullo e o prefeito de Três Lagoas não se pronunciaram.


