O fortalecimento do nome da senadora Simone Tebet (MDB-MS) para ser a candidata do partido à Presidência da República em 2026 já ligou um sinal de alerta dentro do PT e dos partidos aliados ao presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva.
Com receio de turbinar as pretensões eleitorais da senadora sul-mato-grossense, integrantes do entorno de Lula tentam “barrar” a nomeação dela para o Ministério da Cidadania, que passará a ser chamado de Ministério do Desenvolvimento Social.
Segundo reportagem do jornal Extra, a avaliação é que, ao comandar a pasta de orçamento bilionário responsável pelo Bolsa Família, Simone Tebet teria condições para criar conexões com a população de baixa renda e, assim, elevar o seu capital político, pois, Lula já reafirmou que não disputará a reeleição em 2026.
O desejo de parte dos petistas é ver a senadora no Mapa (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento), ideia rejeitada por ela, que durante toda a campanha tentou descolar sua imagem do agronegócio.
Aliados de Tebet entendem que a indicação para a pasta seria um jeito de o PT colocá-la numa “caixinha” e evitar que seu nome ganhe projeção para 2026. Também não faria sentido do ponto de vista estratégico, uma vez que o agronegócio dialoga mais com o Centro-Oeste, seu reduto eleitoral, e o Sul do País.
Diante do impasse, uma opção seria escalar Simone Tebet na Educação, mas ela também não demonstra entusiasmo. Apesar de seu peso político pós-eleição, a senadora tem dito a aliados que o ministério concentra muitos interesses privados e não tem grande poder de execução.
Opinião
Com espírito crítico, Tebet também tem falado sobre a economia do governo, o que tem gerado ruídos com o comando da futura gestão. No dia 11, ela disse que o primeiro ministro a ser anunciado por Lula deveria ser o da Fazenda.
Essa, na sua opinião, seria uma forma de evitar ruídos causados “a cada fala” política de Lula, que deixou claro a aliados que não gostou dessa declaração de Tebet sobre a ordem de anúncio de ministros, começando pelo da Fazenda. A desenvoltura em palpites públicos sobre a montagem do novo governo fez a emedebista ser criticada em conversas de dirigentes petistas.
Mais recentemente, ventilou-se a possibilidade de a senadora ocupar o Meio Ambiente. Interlocutores de Tebet, porém, acreditam que a ideia perde força com a criação da Autoridade Climática, vaga que pode ser ocupada pela deputada federal eleita Marina Silva (Rede-SP), que já é referência na área.
A indicação da emedebista para esse ministério criaria mais conflito do que solução, avaliam seus interlocutores.
Um dos aliados mais próximos de Lula diz que o presidente eleito não entregaria o comando dos programas sociais a uma possível adversária do PT na próxima eleição presidencial.
Ele não vê possibilidade de o partido abrir mão de indicar o sucessor de Lula. O ex-prefeito Fernando Haddad e o governador da Bahia, Rui Costa, são citados como possíveis candidatos a presidente em 2026.
O entendimento, porém, não é unânime. Segundo alguns petistas, Tebet terá o ministério que desejar porque, diante do cenário político tenso, não podem haver deserções na frente ampla criada no segundo turno da eleição.
A possibilidade de o próprio Lula, ao fim do seu governo, decidir por apoio a Tebet não é descartada nesse grupo. A decisão romperia com uma postura que os aliados do PT classificam como hegemônica por parte do partido.
De acordo com a avaliação de uma liderança do PT, na montagem do governo Lula começará a indicar os caminhos para a sua sucessão.
Os primeiros nomes devem ser anunciados nos próximos dias. Um outro caminho considerado possível por integrantes do entorno de Lula é uma candidatura presidencial encabeçada pelo vice Geraldo Alckmin (PSB).
Em face da possibilidade de ter a área social vetada pelo PT, o MDB já trabalha com um cenário no qual Tebet não será ministra no governo Lula.
O presidente do MDB, deputado federal Baleia Rossi, disse que a senadora saiu “muito forte” da eleição e com certeza terá admiração e apoio do partido “independentemente” de sua participação no governo Lula.
A senadora já integra o grupo técnico de Desenvolvimento Social na transição de governo. Ela recebeu uma espécie de cheque em branco de Alckmin para escolher a sua participação na equipe.
A emedebista entende que pode contribuir no futuro governo na área social. Não à toa, o tema foi central em seu programa de governo.
O martelo sobre sua participação no governo deve ser batido nesta semana, quando a senadora terá sua primeira conversa com Lula após o resultado das eleições.
Na transição, Tebet já fala em ampliar as contrapartidas para a transferência de renda, a exemplo de uma bolsa para estudantes que concluírem o ensino médio, criar uma política mais estruturada para a população de rua de grandes centros urbanos e ampliar o Cadastro Único e recuperar o Sistema Único de Assistência Social (SUAS).
A senadora sul-mato-grossense foi procurada pela reportagem do Correio do Estado, mas, por meio de sua assessoria de imprensa, informou que prefere não comentar esse assunto no momento.


