De graça
Vejo na MTV o programa "Na pista", que mostra pontos noturnos de diversão nas principais cidades brasileiras. A apresentadora, uma tal de Kika Martinez – desculpem minha ignorância –, da qual nunca tinha ouvido falar, entrevista donos de bares e boates, frequentadores e alguns conhecidos, de forma superficial. Funciona. O programa é leve e divertido. O resultado aproxima-se mais da publicidade do que do jornalismo. O motivo da lembrança não é para uma crítica e, sim, e, virtude de uma observação ocorrida durante uma entrevista exibida na edição da quarta-feira, quando a cidade enfocada era Porto Alegre. Em determinado trecho, foi destacado o Bar Ocidente, mítico espaço destinado ao rock na capital gaúcha. Surgido na década de 80, foi o local onde Replicantes, De Falla e tantos outros deram os primeiros passos. Além do proprietário da casa, foi ouvida a filha dele, Julia Barth, também vocalista dos Replicantes. Ela comentou que a cena roqueira da cidade já tinha sido melhor e que o público local não queria mais pagar para ver bandas tocando. Pagavam para ir em festas, mas não para acompanhar performances de músicos. Simplificando, queriam música de graça. No fundo, o que Julia aponta é algo real. O motivo é a própria facilidade que se tem na atualidade para consumir música, seja ao vivo ou em gravações.
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Se por um lado a internet é o caminho mais rápido e eficaz para o acesso a músicas, por outro, a profusão de patrocínio para shows, principalmente aqueles de grande proporção, torna tudo mais fácil para produtores e público. Mas a situação causa certo questionamento. Recentemente, o Ministério Público pediu explicações pelo fato de os organizadores da mais recente Exposição Agropecuária de Campo Grande cobrar ingresso para os shows. Isso, porque o valor das apresentações tinha sido custeado por patrocínio federal. Isso é cada vez mais comum. É como se o público tivesse que pagar pela atração duas vezes. Afinal, o dinheiro público é proveniente de impostos. O leitor mais atento também pode dizer que isso acontece no cinema brasileiro. E acontece mesmo. São raras as produções que são feitas sem dinheiro estatal. Isso significa o quê? Antes do filme chegar às telas, os envolvidos receberam pelo trabalho que fizeram. O dinheiro originário da bilheteria é mais grana no bolso do produtores. Isso explica porque diretores que assinam fracasso após fracasso de bilheteria, continuam obtendo financiamento para suas realizações. Não é realidade somente brasileira. Tirando a Índia e os Estados Unidos, o restante dos países tem sua produção cinematográfica bancada por dinheiro público. No caso dos Estados Unidos, é um caso à parte. Mesmo sem dinheiro público direito, há uma forma de protecionismo do produtor cinematográfico americano, imposto a vários mercados. Voltando à música, o novo momento, como foi apontado em outras ocasiões nesta mesma coluna, exige de produtores e artistas postura diferente. É comum, ainda, encontrar artistas achando que precisam ser descobertos. Pelo jeito, o público não quer mais pagar por essas descobertas.
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A questão do patrocínio cultural ainda é assunto polêmico. Isso, porque na música, por exemplo, nomes como Ivete Sangalo, Caetano Veloso e Maria Bethânia entram na disputa por dinheiro público para a realização de projetos com qualquer artista menos conhecido. Direito essa galera tem de pedir dinheiro público, mas se eles não conseguem dinheiro privado para suas produções, quem vai conseguir?
Pop perfeito
Fenômeno na década de 1980, o inglês Ritchie foi sendo descartado pelo mercado fonográfico ao longo dos anos. O DVD "Outra vez: ao vivo no estúdio", direção de Paulo Henrique Fontenelle, lançado no ano passado, colocou as coisas no devido lugar: o músico é um grande artesão pop, lapidando melodias acessíveis e de grande beleza. Os arranjos presentes ressaltam as qualidades da canções. Mesmo quem tenha enjoado de "Menina veneno", dê uma chance às outras. De quebra, um bom documentário sobre a trajetória do músico resume tudo. Há previsão do músico tocar em Campo Grande em abril.