Tudo começou como uma simples brincadeira nos dormitórios de Harvard, mas cerca de sete anos depois, a rede social criada por Mark Zuckerberg já acumula mais de 500 milhões de usuários. Além de ter aumentado a sua base de usuários, nos últimos anos o Facebook também foi elevando o número de campos disponíveis a serem preenchidos. O site, que antes solicitava apenas alguns dados básicos, como nome, universidade e formas de contato, agora já permite preencher opções de preferência sexual, atividades, livros, esportes e estilos musicais favoritos e até mesmo o seu atual "status" de relacionamento. As opções para preenchimento variam bastante - só no quesito vida amorosa, é possível escolher entre solteiro, namorando, noivo, casado, separado, divorciado, viúvo, em um relacionamento aberto ou até mesmo a curiosa descrição "é meio complicado".
A questão é entender por que as pessoas se sentem compelidas a divulgar tais dados, já que nem mesmo o próprio fundador e CEO da rede social tinha se dado ao trabalho de informá-las em seu perfil. Apesar de namorar Priscila Chan desde Harvard, Mark Zuckerberg atualizou seus status para "em um relacionamento" há apenas duas semanas.
Ainda que a preocupação com a privacidade dos dados disponibilizados na internet tenha crescido nos últimos anos, nem sempre os usuários do Facebook param para refletir sobre o que costumam compartilhar na rede. O estudante Fábio Caffarello, 18 anos, não sabe explicar direito o porquê de ter disponibilizado na rede o status do seu relacionamento, mas acaba revelando o que é uma verdade para quase todos que tem perfis na rede. "Para mim serve mais para deixar os outros cientes", afirma.
Segundo a psicóloga Ékica Saab, isso pode ser explicado pela própria condição do ser humano, que é um "animal social", sentindo naturalmente a necessidade de se agrupar e estabelecer relações políticas, econômicas ou afetivas com seus semelhantes. "As redes sociais são uma extensão da nossa vida em sociedade", explica, lembrando que serviços como o Facebook surgiram em uma época em que tem se tornado cada vez mais complicado estar próximo de amigos e familiares de forma presencial. "Hoje a opção de utilizar o contato virtual para compensar a impossibilidade de presença física tem sido muito bem aceita", diz Saab.
Existe, é claro, quem acredite que disponibilizar a informação da sua "solteirice" ou do seu mais recente relacionamento estável esteja também atrelado a certos tipos de vantagens sociais. Ao saber que você está novamente sem companhia, um antigo caso pode ter na divulgação do status de relacionamento o incentivo que precisava para entrar em contato - como se fosse uma sutil mensagem "agora estou livre para alguém novo e pode ser você" -, ou o inverso, ao manter a sua rede de contatos avisada de que você está em um relacionamento e não está em busca de um novo amor.
Outro comportamento bastante comum nas redes sociais é a famosa "vingancinha civilizada", na qual quem sofreu com o término do relacionamento quer mostrar que já deu a volta por cima, informando a todos, sem muitos pudores, que está livre para curtir a solteirice. Seria como uma "oficialização¿ de um término. "Essa é uma vingança bem aceita socialmente. Funciona também com pessoas recém-saídas de um relacionamento, que passam a divulgar álbuns de fotos mostrando a sua empolgante nova vida de solteiro", conta a psicóloga.