Instituto Nacional de Meteorologia verificou temperatura média de 25,02ºC, a maior desde quando iniciou-se o registro, em 1961
O ano de 2024 foi o mais quente já registrado no Brasil, segundo dados do Inmet (Instituto Nacional de Meteorologia). A média de 25,02°C verificada para o ano passado é a maior desde 1961, ponto de partida da série histórica do órgão oficial de meteorologia brasileiro.
A diferença em relação à média de temperatura foi de 0,79°C, considerando a série de 1991 a 2020.
Os dados completos confirmam a tendência apontada em informações parciais, com dados até novembro, de que 2024 tomaria o lugar de 2023 como o ano mais quente do país, como mostrou reportagem da Folha de S.Paulo da última segunda-feira (30). Em 2023, a média foi de 24,92°C.
De acordo com comunicado do Ministério da Agricultura e Pecuária, ao qual o Inmet é vinculado, foi verificada uma tendência de aumento estatisticamente significativo das temperaturas ao longo dos anos nos desvios de temperaturas médias, "que pode estar associada à mudança no clima em decorrência da elevação da temperatura global e mudanças ambientais locais."
A anomalia é uma variação positiva ou negativa de uma temperatura em relação à linha de base. No caso, a mais alta até então havia sido a de 2023, com 0,69°C. Essa média é feita com ao menos 30 anos de dados, segundo a meteorologista Andrea Ramos, e é usada para fazer as observações de desvios.
"É importantíssima, é a anomalia que define o quanto ficou acima ou abaixo da média, seja em temperatura ou em chuva e umidade. A partir de uma estação meteorológica convencional, que tem mais de 30 anos de dados, podemos gerar essa climatologia, com valores de referência", explica a especialista.
Para além das ondas de calor, dois fenômenos que marcaram o ano passado, lembra Ramos, foram os incêndios florestais em diversas regiões do país e as chuvas que devastaram o Rio Grande do Sul e isso sem a ocorrência de um super El Niño, ela destaca.
A chuva minguou e antecipou a temporada de seca e fogo, como visto no pantanal.
"Tivemos tempo e solo secos, com déficit hídrico e aumento de biomassa, pelas folhas secas. A partir de abril e maio começaram os incêndios, seja por questões naturais ou humanas, mais plausíveis para o que passamos, com toda aquela intensidade. Quando chegou o inverno, o caos já estava acontecendo", recorda a meteorologista.
Somou-se à situação a ocorrência dos bloqueios atmosféricos por sistemas de alta pressão com tempo quente e seco, que não permitiam o trânsito de umidade para o Centro-Oeste. Como as frentes frias ficavam estacionadas no Sul, a região viu os temporais caírem com violência.
"Então esses dois fenômenos foram bem típicos dessa era dos extremos, algo que a OMM [Organização Meteorológica Mundial] já estabeleceu. Anos quentes, secos e com chuvas previstas para o mês ocorrendo em dias ou horas, como aconteceu no Rio Grande do Sul."
Já era esperado que 2024 estivesse entre os anos de calor recorde, situação que pode ser explicada pela combinação de oceanos e continentes mais quentes, em razão das mudanças climáticas e pelos efeitos do El Niño, entre outros fatores.
Um possível refresco com o La Niña, caracterizado pelo resfriamento da superfície do oceano nas porções central e oriental do Pacífico Equatorial, fica cada vez mais fraco e distante, segundo previsões da OMM, agência ligada à ONU (Organização das Nações Unidas).
No Brasil, geralmente o La Niña muda a distribuição de chuvas, com precipitação maior nas regiões Norte e Nordeste e menor no Sul e Centro-Oeste. As temperaturas costumam ficar mais baixas no país.
No cenário mundial, já é dado por certo que 2024 será o ano mais quente da história da humanidade, segundo o observatório Copernicus, da União Europeia.
Com a confirmação de que novembro foi mais um mês com temperaturas escaldantes no planeta, os cientistas do órgão calcularam ser impossível que 2024 não supere a marca anterior, que é de 2023.
Os números oficiais serão divulgados na próxima semana pelo observatório europeu e também pela Nasa (Agência Espacial Americana) e pela Noaa (Administração Oceânica e Atmosférica Nacional dos EUA).
Os pesquisadores europeus apontam que a marca será a maior dos últimos 125 mil anos. A conclusão inclui a análise de vestígios do ambiente pré-histórico, necessária para saber as temperaturas da Terra muito antes da existência dos termômetros.
O ano de 2024 será lembrado também por ser o primeiro a terminar com média de temperatura acima de 1,5°C em relação aos níveis pré-industriais.
Esse limite é considerado pelos cientistas como o teto para impedir as piores consequências do aquecimento global, como o desaparecimento de países insulares. Ele é também o valor preferencial pactuado no Acordo de Paris, de 2015.
A marca não significa, no entanto, que o planeta já rompeu definitivamente a barreira de 1,5°C e as metas do acordo, explicam cientistas. Para considerar que o limite foi definitivamente violado, seriam necessários vários anos com os termômetros acima desse patamar.
Por Folhapress