Brasil

A PASSOS LENTOS

Alunos terminam ensino médio sem saber calcular porcentagem, aponta Ideb

Houve uma leve melhora no desempenho dos anos iniciais do ensino fundamental (do 1º ao 5º ano) e ensino médio, e queda nos anos finais (do 6º ao 9º ano)

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Os resultados do Ideb 2023 mostraram o cenário de estagnação do sistema educacional brasileiro em patamares de aprendizado muito baixos. Como as deficiências vão se arrastando ao longo da trajetória escolar, os alunos terminam o ensino médio sem saber, por exemplo, como calcular porcentagem.

Os dados do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica, principal indicador de qualidade da educação, foram divulgados nesta quarta-feira (14) pelo MEC (Ministério da Educação). Eles mostraram uma leve melhora no desempenho dos anos iniciais do ensino fundamental (do 1º ao 5º ano) e ensino médio, e queda nos anos finais (do 6º ao 9º ano).

Para calcular o índice, um dos critério é o resultado das provas do Saeb (Sistema de Avaliação da Educação Básica), que medem o desempenho dos estudantes em matemática e português. As notas de 2023 mostram que a média do país segue ainda em patamares muito baixos.

Os alunos do 3º ano do ensino médio das escolas públicas obtiveram uma média de 264,6 pontos em matemática e 270,2 em língua portuguesa, o que significa que estão no nível 2 de proficiência, em uma escala que vai de 1 a 8.

Com esse nível de aprendizado, os estudantes são capazes, por exemplo, de compreender ironia em tirinhas e interpretar uma tabela.

Eles, no entanto, ainda não aprenderam a fazer cálculos de porcentagem ou resolver problemas matemáticos usando operações fundamentais (adição, subtração, multiplicação e divisão) com números naturais.

O ensino médio é considerado um dos maiores gargalos da educação básica.

Houve uma reforma da etapa aprovada em 2017, com a implementação iniciada nas salas de aula em 2022, para alunos do 1º ano. Após críticas na implementação, o governo Lula (PT) aprovou neste ano uma nova mudança na estrutura da etapa, que deve começa a valer no próximo ano.

A principal alteração feita em 2024 é o aumento da carga horária para disciplinas tradicionais, que tinha sido reduzida para dar espaço aos chamados itinerários formativos.

O baixo desempenho escolar no país, no entanto, começa ainda nos anos iniciais do ensino fundamental. O Ideb 2023 mostrou que os alunos do 5º ano das redes municipais do país obtiveram uma média de 208 pontos na avaliação de língua portuguesa, o que significa que estão no nível 4 de proficiência, em uma escala que vai de 1 a 9.

Nesse nível, os estudantes conseguem, por exemplo, entender o efeito de humor em uma piada ou identificar uma informação explícita em uma receita culinária. Porém eles não aprenderam ainda a identificar assunto e opinião em uma reportagem ou reconhecer a finalidade de um texto escrito em um cartaz.

Em matemática, a média foi de 219 pontos, o que também significa que estão no nível 4 de proficiência. Nessa faixa, os estudantes conseguem converter uma hora em minutos e interpretar horas em relógios de ponteiro.

Eles não conseguem, no entanto, calcular a área de uma figura retangular ou somar quantias diferentes de dinheiro, como moedas e cédulas de real.

Já para os anos finais do fundamental, o Ideb mostrou que os alunos do 9º ano das escolas públicas tiveram uma média de 251 pontos, em matemática, e 254,62, em português --o equivalente ao nível 3 de proficiência, em uma escala também de 1 a 9.

Nesse nível, os estudantes conseguem determinar a soma ou a diferença em operações com números inteiros, mas não sabem converter uma unidade de comprimento de metros para centímetros, por exemplo.

O Ideb é produzido a cada dois anos, com divulgação prevista sempre em anos eleitorais. Ele é calculado a partir de dois componentes: a taxa de aprovação das escolas e as médias de desempenho dos alunos em uma avaliação de matemática e português, o Saeb.

O indicador foi criado em 2007 com metas por escolas, redes e para país até 2021. Ele deveria ter sido renovado a partir desta edição, mas tanto o governo Jair Bolsonaro (PL) quanto a atual gestão Lula (PT) não construíram um novo modelo.

(Informações da Folhapress)

 

LETALIDADE POLICIAL

Aluno de medicina morto pela PM sonhava em ser pediatra

Ele foi atingido por um disparo durante uma abordagem feita por PMs na Vila Mariana, zona sul de São Paulo

21/11/2024 07h11

Marco Aurélio Cardenas Acosta, de 22 anos, é filho de pais médicos e seus dois irmãos também são médicos, e por isso sua morte gerou maior comoção

Marco Aurélio Cardenas Acosta, de 22 anos, é filho de pais médicos e seus dois irmãos também são médicos, e por isso sua morte gerou maior comoção

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Marco Aurélio Cardenas Acosta, morto aos 22 anos por um PM durante abordagem na Vila Mariana, zona sul de São Paulo, era de uma família de médicos, estava no 5º ano de medicina da Universidade Anhembi Morumbi e planejava se tornar pediatra.

Acosta se dava bem com crianças, também tinha um carreira como MC e gostava de jogar futebol, segundo descreve seu irmão mais velho, Frank Cardenas, 27, médico cirurgião. "Ele era uma boa pessoa, com um bom coração. Um filho amado e que ainda assim conseguia amar ainda mais seus pais."

Além de Marcos e Frank, outro irmão também é médico, além do pai e da mãe deles. "Era para sermos 5 médicos."
"Nossa vida acabou hoje, nossa alegria se foi com ele", resume o irmão mais velho.

"Mas, se eu pudesse dizer a principal característica, é que ele era muito carinhoso, um excelente filho. Era o único que ligava todos os dias para minha mãe no plantão. E era meu melhor amigo, a pessoa que eu mais amava nesse mundo."

Marcos foi morto com um tiro dentro de um hotel. Conforme registro policial, uma equipe da PM fazia patrulhamento na região da rua Cubatão, quando, por volta das 2h, foi acionada para atender uma ocorrência envolvendo o estudante.

No local, ainda conforme versão oficial, o rapaz parecia agressivo e desferiu um tapa no retrovisor da viatura quando os policiais tentaram abordá-lo. Na sequência, o estudante saiu correndo e entrou em um hotel próximo.

Os policiais teriam seguido Acosta até o hotel, onde entraram em confronto. A vítima derrubou um dos PMs, momento em que o parceiro efetuou um disparo, que atingiu a vítima no abdômen.

"Dois homens de 1,80 metro não conseguiram conter meu irmão de 1,60 metro? Ele nunca lutou. Não tinham alternativas?", questiona o irmão do jovem.

O estudante foi levado ao Hospital Ipiranga, mas teve duas paradas cardiorrespiratórias antes de ser submetido a uma cirurgia. Ele morreu por volta das 6h40.

Policiais informaram que a vítima não tinha passagem criminal.

A ação dos agentes deve ser analisada pela Comissão de Mitigação, que vai verificar todos os aspectos da ocorrência e apontar as eventuais falhas. O caso poderá ser usado para reorientação da tropa e, dependendo, a comissão pode sugerir o afastamento dos policiais por mais tempo.

Em nota, a Secretaria da Segurança informou que tanto a PM quanto a Polícia Civil investigam a circunstância da morte do rapaz. "Os policiais envolvidos na ocorrência prestaram depoimento, foram indiciados em inquérito e permanecerão afastados das atividades operacionais até a conclusão das apurações", diz nota.

A arma do policial responsável pelo disparo foi apreendida e encaminhada à perícia. "As imagens registradas pelas câmeras corporais serão anexadas aos inquéritos conduzidos pela Corregedoria da Polícia Militar e pelo DHPP (Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa)", finaliza a nota.
 

(Informações da Folhapress)

 

FERIADO NACIONAL

Maioria dos brasileiros admite que país é racista, diz Datafolha

Entre mulheres, 74% afirmam considerar que todos ou a maior parte dos brasileiros são racistas, número que fica em 53% entre homens

20/11/2024 07h43

A percepção de que a discriminação racial aumentou nos últimos anos atinge 45% dos entrevistados

A percepção de que a discriminação racial aumentou nos últimos anos atinge 45% dos entrevistados

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A maioria dos brasileiros diz acreditar que a maior parte do país é racista, segundo dados do Datafolha. O instituto questionou qual o tamanho da parcela da população que discrimina negros pela cor da sua pele. Para 59%, a maioria é racista, enquanto outros 5% dizem que todos são racistas. Para 30%, uma menor parte da população é racista e, para 4%, ninguém o é.

Entre mulheres, 74% afirmam considerar que todos ou a maior parte dos brasileiros são racistas, número que fica em 53% entre homens.

A percepção de que a discriminação racial aumentou nos últimos anos atinge 45% dos entrevistados, ao passo que 35% dizem que permaneceu igual e 20% que o racismo tem diminuído. Pretos se destacam entre aqueles que tem a percepção de que a discriminação racial cresceu (54%), enquanto menos brancos responderam dessa forma (37%).

Pretos também são aqueles que relatam sofrer mais com a discriminação, com 56%. Entre pardos, o índice cai para 17%, e, no caso de brancos, para 7%.

No Brasil, o racismo é crime inafiançável e imprescritível, sujeito à reclusão.

O levantamento realizado pelo Datafolha ouviu 2.004 pessoas em 113 municípios, incluindo regiões metropolitanas e cidades do interior de todas as regiões do Brasil, entre os dias 5 e 7 de novembro. A pesquisa leva em consideração pessoas com mais de 16 anos e tem margem de erro de 2 pontos percentuais para o total da amostra, 5 pontos para pretos, 4 pontos para brancos 3 para pardos.

Segundo especialistas ouvidos pela reportagem, a sensação de que a maioria do país é racista e que a discriminação racial cresceu pode ser atribuída ao aumento do debate sobre a questão no Brasil, tanto na esfera pública como na particular.

Para Flávio Gomes, professor do Instituto de História da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), o dado mostra a importância dos movimentos sociais negros, uma vez que houve um pensamento "branco, acadêmico e hegemônico" que negava o racismo no país.

"Atualmente, mesmo os setores conservadores que não consideram que a desigualdade passe pelo racismo não conseguem admitir a inexistência dele", diz.

O docente afirma que a percepção de que o racismo aumentou nos últimos anos se dá devido à melhoria de mecanismos de denúncias, como, por exemplo, vídeos de brutalidade policial e outras ações discriminatórias. "Porém, há ainda uma dificuldade de abordar como os debates sobre meio ambiente, ecologia, terra, emprego e saúde passam pela pauta do combate e eliminação do racismo", declara.
 

Flavia Rios, professora da UFF (Universidade Federal Fluminense) e pesquisadora do Afro Cebrap (Núcleo de Pesquisa e Formação em Raça, Gênero e Justiça Racial do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento), diz também que o reconhecimento do racismo auxilia na criação de políticas de enfrentamento à discriminação em diversas esferas.

"Não se trata de fazer a população reconhecer que o racismo existe, se trata de, junto com a população, pensar quais são as formas, quais são as possibilidades de superação dessa realidade racista."

(Informações da Folhapress)

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