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GOLPE

Golpistas estudaram caso Marielle para evitar erros na trama para matar Lula, Alckmin e Moraes

Operação golpista que visava matar três pilares da atual política brasileira veio à tona no início dessa semana e, desde então, o ex-presidente Bolsonaro, Braga Netto e mais 35 foram indiciados

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O grupo de militares que colocou nas ruas a Operação 'Copa 2022' para monitorar o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, em dezembro de 2022, estudou minuciosamente até o caso Marielle Franco para adotar estratégias que os deixassem de fora do radar da Polícia Federal em caso de uma eventual investigação. Eles tiveram acesso a uma verdadeira apostila sobre os passos adotados por investigadores para desvendar os detalhes do assassinato da vereadora fluminense - e teriam usado os dados para evitar 'erros' que os assassinos de Marielle praticaram no crime ocorrido em 2018.

Os detalhes dos estudos realizados pelos militares sobre o caso da vereadora constam da representação de 221 páginas da Polícia Federal levada ao STF pela abertura da Operação Contragolpe, que prendeu na manhã desta terça-feira, 19, quatro militares - um general reformado e três 'kids pretos' - e um agente da Polícia Federal por envolvimento com um plano de assassinato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, do seu vice Geraldo Alckmin e do ministro do Supremo Alexandre de Moraes.

A PF encontrou nos arquivos do major Rafael de Oliveira - lotado no Batalhão de Ações e Comando e integrante da Operação 'Copa 2022', tramada para prisão/execução de Moraes no dia 15 de dezembro de 2022 - dois arquivos que teriam sido estudados pelo grupo de elite do Exército.

Os documentos indicam que o "comportamento das atividades e dos militares envolvidos não deve ser analisado de forma convencional", vez que o evento foi executado com "elevado conhecimento técnico".

A PF destaca indícios de que a Operação 'Copa 2022' foi elaborada "previamente". O evento clandestino 'Copa 2022' foi identificado a partir de diálogos armazenados no Signal (aplicativo de mensagens) de Rafael de Oliveira. O major participava de um grupo que, segundo a PF, "revela uma ousada sequência de ações realizadas por militares, nitidamente realizadas a partir de um planejamento minuciosamente elaborado"

Os investigadores consideram a operação que os 'kids pretos' colocaram nas ruas como um "verdadeiro capítulo no contexto de tentativa de golpe de Estado", apesar de o plano ter sido abortado no meio do caminho. Como mostrou o Estadão, seis investigados participaram da ação, que contou até com o uso de carros alugados e um veículo do Exército.

Segundo os investigadores, os estudos dos kids pretos dão um "relevo ainda maior" para os principais achados da Operação Contragolpe: o plano 'Punhal Verde e Amarelo', que descrevia a possibilidade de matar Lula, Alckmin e Moraes por envenenamento e explosão de bomba; e a planilha de golpe de Estado, que descrevia, em mais de 200 linhas, uma estratégia de ruptura antidemocrática.

A PF dá ênfase à "engenharia fática e circunstancial" identificada na Operação 'Copa 2022' e frisa. "Considerando as técnicas empregadas, notadamente aquelas relacionadas ao processo de anonimização de prefixos telefônicos, têm-se indicativos de que pessoas com especialização específica participaram das atividades empregadas.

"Por exemplo, após analisar o documento 'NA_cyber' apreendido com Rafael de Oliveira, a PF conseguiu identificar que o grupo estudou o uso de 'telefones frios' - aparelhos que são comprados e cadastrados com dados de terceiros, com finalidade de dificultar ou impedir qualquer tipo de identificação dos seus reais usuários.

Os investigadores perceberam que os oficiais que monitoraram Moraes e lançaram a Operação 'Copa 2022' tinham "conhecimento acima da média sobre a relação entre IMEI (aparelho telefônico) e SIM CARD (chips das operadoras de telefonia móvel)".

O documento ainda descreve que a operadora Claro exige biometria para o cadastro de seus chips, dificultando o uso para realizar a anonimização.Para a PF, o arquivo evidencia o conhecimento e o cuidado do grupo ao serem criados telefones frios. Como mostrou o Estadão, os seis militares que participaram da ação contra Moraes em dezembro do ano passado chegaram a usar codinomes em alusão a países que disputaram a Copa do Mundo de futebol, em 2022, para dificultar uma eventual identificação do grupo golpista - 'Japão', 'Brasil' e 'Alemanha', por exemplo, foram adotados pelos militares.

O documento 'Apostila Anonimização' relata uma análise circunstancial sobre a investigação do assassinato de Marielle e de seu motorista Anderson Gomes, em 2018.

O arquivo indica que os militares estudaram o homicídio da vereadora para verificar como o crime foi elucidado - e então tentar evitar 'erros' cometidos pelos assassinos que levaram a sua identificação.O arquivo mostra que, no caso Marielle, "houve a utilização de antenas de celular para ajudar na elucidação" do crime. E relata que "investigadores forenses irão se munir das mais variadas formas para desvendar a autoria das ações cibernéticas".

"Um exemplo bastante conhecido da utilização dessas técnicas ocorreu na elucidação no caso do assassinato da vereadora Marielle Franco. Apesar de não se tratar de um crime cibernético propriamente dito, dá para se ter uma ideia aqui de como se deram as investigações para chegar até os assassinos, principalmente porque nas fases anteriores ao crime houve uso de celular e pesquisas na internet que serviram de pista e de provas para a condenação dos assassinos", registrou o documento no tópico 'análise circunstancial'.

democracia

Gilmar Mendes vê crime consumado de tentativa de golpe

"Quando se faz o atentado contra o Estado de Direito e ele se consuma, ele já não mais existe. Então é óbvio que o se pune é a própria tentativa", afirmou o ministro do SFT

21/11/2024 13h08

Gilmar Mendes também fez questão de condenar as tentativas de anistiar os envolvidos com os atos do dia 8 de janeiro do ano passado em Brasília

Gilmar Mendes também fez questão de condenar as tentativas de anistiar os envolvidos com os atos do dia 8 de janeiro do ano passado em Brasília

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O ministro Gilmar Mendes (STF) afirmou que a tentativa de golpe de Estado já é em si um crime consumado. A declaração foi dada a jornalistas em congresso da Abramge (Associação Brasileira de Planos de Saúde), na manhã desta quinta-feira (21).

O decano do Supremo foi questionado sobre as evidências golpistas para manter Jair Bolsonaro (PL) no poder e impedir a posse de Lula (PT), que incluíam um plano de assassinato de autoridades, segundo a Polícia Federal.

"Quando se faz o atentado contra o Estado de Direito e ele se consuma, ele já não mais existe. Então é óbvio que o se pune é a própria tentativa de atentar contra o Estado de Direito", afirmou Gilmar.

O ministro ainda declarou que "não faz sentido se falar em anistia" para os condenados pelo ataque golpista do 8 de janeiro de 2023 diante da atual conjuntura.

Presente no mesmo evento, o presidente do STF, ministro Luís Roberto Barroso, também voltou a se posicionar contra a anistia.

"A alma nacional começa a ficar com pena, a gente não pune na medida certa, e as pessoas não se corrigem. Aí na próxima eleição vão fazer de novo" disse.

"No Brasil as pessoas querem anistiar antes de julgar, o que aconteceu ali não foi banal. Nós tivemos um episódio grande de extremismo que o Supremo precisou enfrentar."

Barroso afirmou ainda que o país voltou à normalidade institucional e disse que "essas atitudes de desrespeito de Estado de Direito são pessoas que resgataram um filme muito velho, muito triste".

"Felizmente as Forças Armadas não embarcaram nessa aventura. Nós passamos no teste da institucionalidade. Tem que punir quem tem que punir." 

Indagado se há uma tentativa de amenizar fatos recentes, disse que as pessoas às vezes estão numa realidade paralela, mas a gente tem que trabalhar com fatos objetivos

Pesquisa deste ano do Datafolha mostrou que a proposta de anistia aos envolvidos no 8 de janeiro é rejeitada por 63% dos brasileiros. São a favor do perdão 31% dos ouvidos, ante 2% que se dizem indiferentes e 4% que não opinaram.

A Polícia Federal realizou na ultima terça-feira (19) uma operação que prendeu cinco suspeitos de atuar em um plano de golpe de Estado no Brasil, no fim de 2022, que envolveria matar o então presidente eleito, Lula, o seu vice, Geraldo Alckmin (PSB), e o ministro Alexandre de Moraes, do STF.

Como mostrou a Folha de S.Paulo, as condutas dos cinco presos pela Polícia Federal podem ser enquadradas como crimes contra a democracia, segundo 4 de 5 especialistas em direito penal ouvidos pela reportagem.

Há, porém, uma corrente divergente que entende as ações dos suspeitos como atos meramente preparatórios, o que levaria as condutas a não serem passíveis de punições no campo criminal.

Em debate estão principalmente os delitos de tentativa de golpe de Estado e de tentativa de abolição do Estado democrático de Direito, ambos com emprego de violência ou grave ameaça.

Nesta quinta-feira, Gilmar ainda revelou que, depois dos últimos acontecimentos, o clima entre os ministros é de tensão. Eles adotaram medidas mais rígidas de segurança após o atentado com explosivos diante do tribunal na semana passada, em Brasília.

O grupo especial para lidar com situações de risco da Polícia Civil foi acionado para realizar uma varredura antibombas no local onde acontecia o congresso. Essa não era uma prática comum antes do episódio de violência ocorrido em Brasília.

Além de Gilmar, os ministros Dias Toffoli e Luís Roberto Barroso, presidente do STF, também estavam presentes no evento.
 

LETALIDADE POLICIAL

Aluno de medicina morto pela PM sonhava em ser pediatra

Ele foi atingido por um disparo durante uma abordagem feita por PMs na Vila Mariana, zona sul de São Paulo

21/11/2024 07h11

Marco Aurélio Cardenas Acosta, de 22 anos, é filho de pais médicos e seus dois irmãos também são médicos, e por isso sua morte gerou maior comoção

Marco Aurélio Cardenas Acosta, de 22 anos, é filho de pais médicos e seus dois irmãos também são médicos, e por isso sua morte gerou maior comoção

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Marco Aurélio Cardenas Acosta, morto aos 22 anos por um PM durante abordagem na Vila Mariana, zona sul de São Paulo, era de uma família de médicos, estava no 5º ano de medicina da Universidade Anhembi Morumbi e planejava se tornar pediatra.

Acosta se dava bem com crianças, também tinha um carreira como MC e gostava de jogar futebol, segundo descreve seu irmão mais velho, Frank Cardenas, 27, médico cirurgião. "Ele era uma boa pessoa, com um bom coração. Um filho amado e que ainda assim conseguia amar ainda mais seus pais."

Além de Marcos e Frank, outro irmão também é médico, além do pai e da mãe deles. "Era para sermos 5 médicos."
"Nossa vida acabou hoje, nossa alegria se foi com ele", resume o irmão mais velho.

"Mas, se eu pudesse dizer a principal característica, é que ele era muito carinhoso, um excelente filho. Era o único que ligava todos os dias para minha mãe no plantão. E era meu melhor amigo, a pessoa que eu mais amava nesse mundo."

Marcos foi morto com um tiro dentro de um hotel. Conforme registro policial, uma equipe da PM fazia patrulhamento na região da rua Cubatão, quando, por volta das 2h, foi acionada para atender uma ocorrência envolvendo o estudante.

No local, ainda conforme versão oficial, o rapaz parecia agressivo e desferiu um tapa no retrovisor da viatura quando os policiais tentaram abordá-lo. Na sequência, o estudante saiu correndo e entrou em um hotel próximo.

Os policiais teriam seguido Acosta até o hotel, onde entraram em confronto. A vítima derrubou um dos PMs, momento em que o parceiro efetuou um disparo, que atingiu a vítima no abdômen.

"Dois homens de 1,80 metro não conseguiram conter meu irmão de 1,60 metro? Ele nunca lutou. Não tinham alternativas?", questiona o irmão do jovem.

O estudante foi levado ao Hospital Ipiranga, mas teve duas paradas cardiorrespiratórias antes de ser submetido a uma cirurgia. Ele morreu por volta das 6h40.

Policiais informaram que a vítima não tinha passagem criminal.

A ação dos agentes deve ser analisada pela Comissão de Mitigação, que vai verificar todos os aspectos da ocorrência e apontar as eventuais falhas. O caso poderá ser usado para reorientação da tropa e, dependendo, a comissão pode sugerir o afastamento dos policiais por mais tempo.

Em nota, a Secretaria da Segurança informou que tanto a PM quanto a Polícia Civil investigam a circunstância da morte do rapaz. "Os policiais envolvidos na ocorrência prestaram depoimento, foram indiciados em inquérito e permanecerão afastados das atividades operacionais até a conclusão das apurações", diz nota.

A arma do policial responsável pelo disparo foi apreendida e encaminhada à perícia. "As imagens registradas pelas câmeras corporais serão anexadas aos inquéritos conduzidos pela Corregedoria da Polícia Militar e pelo DHPP (Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa)", finaliza a nota.
 

(Informações da Folhapress)

 

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