Em resposta ao debate proposto pela querida companheira (de Ativismos pela “Inclusão(?)” da Pessoa com Deficiência) Eliza Cesco, lançado em seu Artigo “Acessibilidade: Um Caminho Nem Sempre Acessível” (publicado por este nosso CORREIO DO ESTADO em 10/3 pp), sinto-me estimulado a aqui alimentá-lo com o “explicitar de Percepções Pessoais” sobre a questão (por mim precariamente) sintetizada com o título acima - que adiante desenvolverei, com base na minha vivência de 52 anos com uma Paralisia Cerebral e de 31 anos de Militâncias pela Construção de Ambientes Coletivos mais receptivos às Especificidades Funcionais (de cada um dos nossos quadros de Deficiências).
Como primeiro passo (dessa, acredito, que subsidiadora explicitação de “Percepções Pessoais” que - à frente - aqui me proponho a fazer), acho honesto esclarecer ao Leitor que com este Artigo, não pretendo aqui formular nenhuma “pré-visão (futurológica)” - que, pretensa e profeticamente, responda (objetivamente): quando disporemos das condições de Acessibilidades adequadas para viabilizar o Exercício de Cidadania possível a cada um de nós!!!
Meu alvo aqui, ao tentar sintetizar o foco da acima proposta “explicitação testemunhal” através da questão título do presente Artigo, não é outro senão: o de apenas, intitular (sinteticamente) um elencar - concatenado - de percepções minhas sobre que tipos de “Revisões Comportamentais” (baseadas estas: em necessárias “Resignificações Conceituais”) que poderiam - cultural e psicologicamente - cooperar para que passe, a Sociedade Brasileira, a se nortear por novos Padrões de interação com nossas Deficiências? E, desta forma, capazes esses de contribuir - mais fraternalmente - para que nos tornemos Indivíduos mais integrados e participativos nas Vidas Familiar e Comunitárias que nos rodeia?
Em primeiro lugar, por tudo que tenho vivido com minha Paralisia Cerebral (e, a partir desta, criticamente elaborado com minhas leituras como Militante) me parece que: mais do que uma Sociedade com Acessibilidades (apenas urbanas ou material), necessitamos é de Ambientes Comunitários mais cultural e eticamente preparados não para (partenal ou/e filantopicamente) nos “conceder” alguma “Cidadania”! Mas sim é de: Ambientes (Familiares e Sociais) mais Acolhedores, Compreensivos e Colaborativos para com os esforços de cada um de nós, na autoconstrução da própria individualidade pessoal; e que assim, simultaneamente: não apenas nela nos apóie, mas também conosco a vivencie, e compartilhem igualmente de nosso Crescimento Pessoal dela resultante!
Aponto essa necessidade com base em, talvez, uma das mais profundas percepções (inclusiva, quem sabe?) que colhi dos meus longos anos de Militâncias já quantificados; a de que: a convivência (Pessoal, Familiar ou Comunitária) com nossas Deficiências antes de ser um “desafio Ético e Político” – na perspectiva Coletiva; apresenta-se como uma “Questão Existencial”’ (e, portanto, de trato prioritariamente Pessoal e Familiar) quando para ela se sente alguma necessidade objetiva de se encontrar alguma saída concreta! Necessidades essas capazes de, no caso: de nos oferecer – ou de juntos conquistarmos (todos os Interessados) – adequados suportes (materiais e, principalmente Éticos e Afetivos) para que cada um de nós – à sua maneira – encontre adequados “Instrumentos” e “motivações” para que tenhamos condições de transformar nossas respectivas “Deficiências” (ou Limitações Funcionais) em “Utensílio Existencial para o nosso Crescimento Pessoal compartilhado”!
No entanto, para que os nossos Familiares e co-Cidadãos se tornem capazes de nos respaldar com estes – e inúmeros outros tipos de “Suportes (para que, cada vez mais, passemos a conviver mais Construtiva e Produtivamente com a Deficiência), penso que é preciso que não só eles, mas como também todos nós nos empenhemos em reavaliar e a reelaborar Concepções Culturais, Éticas, e até Políticas que ainda nos orientam na relação com Realidades específicas das Pessoas com Deficiências (seus Diferenciais e Possibilidade de Desenvolvimento, e Necessidades Humanas; assim como com seus potenciais de contribuição com desejáveis “Avanços” Coletivos e Interpessoais).
Concepções – hoje bastante generalizada no País, como a de que: a efetivação da nossa efetiva Cidadania só se tornará uma realidade automática e consolidada quando a Sociedade Brasileira passar a lidar com nossos anseios de Cidadania apenas fielmente norteando suas Ações “Inclusivas(?)” em preceitos modeladores do Paradigma da “Garantia de Direitos”(!!!); denunciam-me entendimentos explicitamente superficiais sobre as realidades Humanas e Demandas Políticas das Pessoas com Deficiência!!! Se não, respondam-me: como poderíamos nos orientar (basicamente) a construção e o exercitar das nossas ansiadas participações comunitárias predominantemente na “reivindicação de Direitos Individuais”, se o que as nossas individuais “Limitações Funcionais” nos levam a desejar (de todos os que nos rodeiam) é, basicamente, o acolhimento e o compartilhar com as nossas Diferenciadas possibilidades de Realização Humana?
Infelizmente (na minha ótica, e para a concretização das condições de “buscas compartilhadas” – que sinto nos faltar, para afetivamente nos tornar satisfatoriamente instrumentalizados para que conquistemos um efetivo Participar Socioprodutivo), como as minhas vivências me levam a acreditar que: respostas consensuais e adequadas para questões com tal grau de profundidade (e todas que dela são correlatas ou decorrentes, com a mesma abrangência Cultural e Ética) me parece longe de serem alcançadas; é que me pareceu que a melhor contribuição que a minha perspectiva “experiencial” poderia agregar ao debate jornalístico deflagrado pelo oportuno Artigo da Professora Eliza Cesco seria, apenas, a de lançar – com o título da presente colaboração – um questionamento. Cujas respostas só terão conteúdo para oferecer soluções adequadas se forem delineadas a partir de “empenhos coletivos e interativos” de Interessados!!!
E, indago ao Leitor (e, desejado Parceiro): que ambiente mais adequado para viabilizar tal transformador esforço, do que um interativo Debate Jornalístico – publicamente veiculado em Periódicos ou em Páginas eletrônicas de acesso da comunidade (potencialmente) interessada???
João Carlos Andrade, (O “João da Moto”) - [email protected]