De olho no Supremo Tribunal Federal (STF), a Câmara Legislativa usou ontem dois pesos e duas medidas ao decidir-se sobre os processos de impeachment de José Roberto Arruda (sem partido, ex-DEM) e Paulo Octávio (DEM), governador afastado e governador em exercício do Distrito Federal. A relatoria do processo contra Arruda foi entregue a um deputado distrital da oposição - Chico Leite, do PT, que quer pressa. A votação foi unânime. O relator do processo contra Paulo Octávio também é conhecido: será Batista das Cooperativas (PRP), um governista, que não tem pressa. A votação que formalizará o nome dele foi adiada para quinta-feira. Ao permitir que Chico Leite relate o processo de impeachment do governador eleito, a Câmara Legislativa manda um recado ao Supremo Tribunal Federal (STF) de que a disposição do Legislativo em cassar o mandato de Arruda é para valer. Ao mesmo tempo, ao controlar com torniquete a situação política de Paulo Octávio, a Câmara pretende mandar a mensagem de que o Distrito Federal vive uma rotina institucional, com a cadeia de sucessão em operação normal. A ideia é demover o STF de autorizar a intervenção federal no Distrito Federal. Nesta quinta-feira, a suprema corte analisará o mérito do pedido de habeas corpus do governador afastado, preso pela Polícia Federal por obstruir as investigações do “Mensalão do DEM”, esquema de corrupção do qual ele era o mentor. Leite terá prazo de dez dias para apresentar seu parecer que deverá ser pelo prosseguimento do processo. Se aprovado pela Comissão Especial, irá para o plenário e Arruda terá 20 dias para apresentar defesa. O deputado anunciou, no entanto, que pretende entregar o parecer ainda nesta semana. Na quinta-feira passada, quando Paulo Octávio anunciou que não renunciaria ao cargo, como havia anunciado à imprensa e aos aliados, os deputados distritais não perderam tempo. Cobraram da procuradoria da Câmara o parecer sobre os pedidos de impeachment do governador em exercício, reabriram a sessão plenária, indicaram um relator e, em quinze minutos, aprovaram a abertura de processo contra Paulo Octávio. Também citado como um dos beneficiários do esquema de corrupção local, o empresário vinha sendo poupado pelos parlamentares. O cenário mudou no final de semana, quando Paulo Octávio chamou os deputados para um almoço. Nenhum dos convidados quis falar com a imprensa depois. Alguns até negam que lá estiveram. O resultado da conversa, porém, ficou explícito anteontem, quando a análise do processo de impeachment do governador afastado foi adiada. “Eles entregaram a cabeça do Arruda para salvar a do Paulo Octávio”, resumiu um oposicionista. Pelo menos, será essa a estratégia no primeiro tempo.