Na estética, a palavra flacidez desperta atenção imediata. É um dos maiores fantasmas: a pele perde firmeza, o contorno do rosto cede, e logo aparecem promessas – cremes, radiofrequência, bioestimuladores, fios de sustentação e cirurgias.
Mas há uma outra flacidez, ainda mais perigosa, que nenhum laser corrige: a flacidez das condutas de certos (pseudo)profissionais.
Uma operação recente da Anvisa escancarou o problema. De 38 clínicas fiscalizadas no Distrito Federal e em estados como São Paulo, Ceará, Amazonas e Piauí, apenas três estavam em conformidade (compliance) com as normas sanitárias.
As demais apresentaram falhas como esterilização precária, uso irregular de medicamentos e procedimentos invasivos em locais sem estrutura mínima para emergências.
O setor vive uma contradição: clínicas que prometem firmeza à pele, mas operam com condutas frouxas. Fachadas de luxo escondendo protocolos frágeis. Ambientes esteticamente firmes, mas eticamente flácidos.
E não é novidade. A Sociedade Brasileira de Dermatologia havia alertado para abusos no setor. Desde 2017, acumulava mais de 1.200 denúncias contra práticas irregulares – prova de que a flacidez ética é recorrente.
O compliance sanitário, nesse contexto, deveria ser o verdadeiro bioestimulador – não de colágeno, mas de ética. Não falamos de burocracia, mas de algo essencial: transformar ética em prática diária.
E é exatamente para isso que existe um instrumento de gestão chamado programa de compliance, capaz de organizar protocolos e garantir que a clínica não dependa apenas da ética individual, mas de um sistema que protege vidas.
A ética é o critério que qualifica qualquer especialidade técnica. Esse critério precisa estar na clínica. Afinal, entre as irregularidades flagradas, havia também médicos especialistas em estética – mas que foram antiéticos. O diploma ou a técnica não bastam quando a conduta é frouxa.
O programa de compliance garante que a clínica ofereça mais do que resultados estéticos – ofereça segurança à vida de cada paciente. É o que separa quem apenas vende procedimentos de quem constrói confiança.
Compliance não é burocracia, é governança. É a sustentação invisível que dá firmeza ao setor e protege quem confia nele.
Como lembra Mario Sergio Cortella, “a ética não é cosmética, não pode ser uma coisa de fachada”.
E o que as fiscalizações revelaram foi exatamente isso: maquiagem corporativa tentando encobrir falhas que não se corrigem com filtro de Instagram.
Pierre Reverdy dizia que “a ética é a estética de dentro”. E é justamente isso o que falta em muitas dessas empresas: um padrão de beleza interior. Porque, se a estética trata do que passa rápido, a ética cuida daquilo que permanece. Sem essa base, o setor corre o risco de ficar com a imagem flácida, ainda que as paredes reluzam e as redes sociais filtrem imperfeições.
A questão é direta: clínicas de estética não podem se sustentar em promessas sem lastro ético. E consumidores – em especial as mulheres, que sustentam a maior parte desse mercado – precisam aprender a exigir mais do que um preço atraente ou uma sala instagramável.
É preciso perguntar: essa clínica cumpre protocolos que me protegem? Clínicas com programa de compliance podem responder a isso com segurança.
A verdadeira firmeza que buscamos não está apenas na pele. Está na conduta.
Nenhum laser do mundo consegue corrigir isso.


