Quando o CEO da maior empregadora do mundo afirma que a Inteligência Artificial (IA) “mudará literalmente todos os empregos”, o mercado de trabalho global é colocado em estado de alerta.
A declaração de Doug McMillon, líder do Walmart, serve como um chamado à ação para o mundo corporativo, sublinhando a urgência de uma adaptação proativa, na qual as empresas devem assumir um papel central na capacitação de seus colaboradores e na construção de um futuro em que a tecnologia e o trabalho humano coexistem de forma produtiva e ética.
Diante dessa revolução iminente, é imperativo que as empresas invistam na requalificação de sua força de trabalho. O exemplo do Walmart, que busca identificar as competências do futuro e treinar seus funcionários para essa nova realidade, ilustra o caminho a ser seguido.
As corporações devem se tornar centros de aprendizado contínuo, oferecendo programas de capacitação que preparem os empregados não apenas para operar novas ferramentas de IA, mas para colaborar com elas, focando em habilidades essencialmente humanas como pensamento crítico, criatividade e inteligência emocional, que a automação não pode replicar.
Paralelamente à capacitação, a implementação de programas robustos de governança de IA emerge como um pilar fundamental para o uso adequado e responsável da tecnologia. Não basta adotar a IA, é preciso garantir que sua aplicação seja ética, transparente e alinhada aos valores da empresa e da sociedade.
Isso implica a definição de diretrizes claras sobre o uso ético e responsável da tecnologia e no estabelecimento de mecanismos de responsabilidade.
Uma governança eficaz assegura que a IA seja uma ferramenta para o progresso, evitando armadilhas como a precarização do trabalho, uso inadequado e exposição de dados confidenciais da empresa.
No entanto, as empresas brasileiras enfrentam um desafio adicional nesse percurso: a ausência de uma lei específica que regulamente o uso da Inteligência Artificial no País. Essa lacuna legislativa cria um ambiente de incerteza jurídica que dificulta a elaboração de programas de governança corporativa.
Sem diretrizes nacionais claras, as empresas que desejam inovar de forma responsável são forçadas a navegar em uma zona cinzenta, baseando suas políticas em frameworks internacionais ou em interpretações da legislação existente, o que pode gerar insegurança e falta de padronização.
O desafio, portanto, é duplo. Exige às empresas brasileiras não apenas liderem com a agenda de capacitação e governança de IA, mas que o façam em um vácuo regulatório. A construção de uma governança de IA a partir de um framework legal nacional ainda é uma aspiração.
Cabe ao setor privado, em diálogo com a sociedade civil e o poder público, pressionar por avanços na legislação e, ao mesmo tempo, agir proativamente, estabelecendo seus próprios padrões éticos e de governança. A transformação, como alertou o CEO do Walmart, é inevitável.
A forma como nos preparamos para ela definirá os contornos do futuro do trabalho no Brasil e no mundo.


