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A ilusão de virar milionário com uma aposta

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O Brasil parece viver um déjà vu na arena das apostas. Nos anos 1970 e 1980, tínhamos a famosa Loteca, a Loteria Esportiva, com seus 13 jogos decisivos, e a rede Globo apresentava a “zebrinha” nas noites de domingo, que prendia milhares na frente do televisor. Uma febre nacional que levava milhares a sonhar com a glória de acertar os resultados do futebol e, quem sabe, mudar de vida.

Mas quem conhece a Loteca sabe: os vencedores são tão raros quanto os cometas. E assim, essa “loteria da esperança” se mantinha no imaginário popular, mas com uma limitação controlada. Hoje, porém, o cenário é mais alarmante, e o sonho de enricar ficou mais acessível – e, paradoxalmente, mais devastador.

A Caixa Econômica Federal opera, oficialmente, 11 tipos de loterias: Mega Sena, Lotofácil, Quina, Lotomania, Timemania, Dupla Sena, Dia de Sorte, Super Sete, Loteria Federal (criada em 1962), Loteca (Loteria Esportiva) e Lotogol (temporariamente suspensa). Loterias que variam em formato, premiação e frequência de sorteios e que são as principais modalidades oficiais de apostas operadas pela Caixa no País. Cada cidade tem, ao menos, um ponto de Loteria que opera legalmente e serve até como agência bancária.

O que antes eram 14 jogos semanais virou uma verdadeira cascata de oportunidades com as apostas esportivas on-line, as famigeradas bets. Elas inundaram o mercado com possibilidades tão diversas que cobrem desde os campeonatos de série D e divisões regionais até jogos amadores de países que mal sabemos que existem.

E o mais alarmante: algumas dessas plataformas chegam a criar partidas fictícias, dando a falsa impressão de que as chances de ganhar são infinitas. Tem gente apostando até em torneios de esportes eletrônicos criados sob demanda. Pode parecer inofensivo para alguns, mas a verdade é que estamos diante de um problema muito mais profundo.

Dados recentes revelam que 25 milhões de brasileiros apostaram nos últimos seis meses, e só em agosto foram movimentados R$ 20,8 bilhões. No entanto, 86% desses jogadores já estão com dívidas, e muitos veem as apostas como “investimento financeiro”, uma lógica completamente distorcida.

Afinal, não há investimento real quando a casa sempre ganha. Como não lembrar da Loteca? Se antes já havia poucos vencedores em um universo limitado de apostas, imagine agora, com milhares de jogos por minuto?

O impacto desse vício vai muito além das finanças. Trabalhadores, que já enfrentam uma carga pesada com salários baixos, aluguéis impagáveis, contas de luz e água e juros exorbitantes de cartões de crédito estão jogando fora suas últimas esperanças e seu futuro. Muitos gastam 20% de seus salários em apostas, e isso em um cenário de extrema vulnerabilidade econômica.

Famílias se desestruturam, os lares se tornam campos de batalha e, como se não bastasse, o devedor de pensão alimentícia, já encurralado pela situação financeira, pode acabar atrás das grades.

E a saúde mental? Esse é outro ponto crítico. A ansiedade dispara, a depressão cresce e a produtividade despenca. Apostadores compulsivos não conseguem focar em suas atividades profissionais, atormentados pelas dívidas e pelas promessas não cumpridas de “sorte”. O resultado? Uma classe trabalhadora ainda mais desgastada e sem perspectivas reais de melhorar.

Recentemente, 193 bets receberam autorização para funcionar no País. Aquelas que não se regularizaram serão retiradas do ar, com o auxílio da Anatel, até 11 de outubro. É uma medida importante, mas que chega tarde para muitos. O estrago já foi feito, e os mecanismos de controle deveriam ter sido pensados antes.

O mais triste de tudo é ver como as apostas on-line se tornaram a última esperança de quem já perdeu quase tudo. Não temos mais a loteria esportiva inocente, com seus palpites de fim de semana. Agora, temos um mar de ilusões digitais, em que o trabalhador brasileiro, cada vez mais desesperado, joga seus sonhos no lixo e vê a vida desmoronar.

Onde buscar socorro? Talvez no Estado, que tem de ser mais firme na regulamentação, nas empresas, que precisam entender que a saúde mental de seus colaboradores está em risco, e na sociedade, que precisa aprender a lidar com as armadilhas da era digital. Porque, do jeito que está, o Brasil está apostando alto demais no jogo errado.

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Melhor idade: um convite para grandes aventuras

03/12/2024 07h45

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As pessoas necessitam de um período para reavaliar as escolhas, explorar novos interesses e adquirir experiências inovadoras. O termo sabático, oriundo do hebraico shabat, está relacionado à tradição judaica de descansar a terra a cada seis anos de cultivo ininterrupto. Na terceira idade, um momento de pausa pode ser especial. Não é uma decisão fácil ou imediata, mas sim fruto de um processo de autoconhecimento e de estar disposto a sair da zona de conforto (ou de desconforto), enfrentando medos e desafios. Para que o projeto se torne exitoso, há três palavras fundamentais: antecedência, organização e planejamento.

Compartilho aqui a experiência que tive com meu marido, Paulo, de nosso período de pausa, após eu pedir afastamento do cargo de gestão que exercia há mais de 10 anos. Apesar de gostar imensamente do que fazia, não desvinculava o cansaço e o estresse que sentia a esse trabalho. Essa constatação me fez refletir e ver que era hora de “passar o bastão”, não sem antes praticar o desapego. O que fazer? O mundo tinha aberto as portas e o céu seria o limite!

Quantas possibilidades! Depois de várias “tempestades de ideias”, decidimos viajar por aproximadamente seis meses para a Europa em 2018, guiados por interesses comuns em história, cultura e arte do Velho Mundo.

Iniciamos a jornada pela Inglaterra e tivemos a oportunidade de conhecer e de interagir com pessoas de várias partes do mundo. Todo o roteiro foi em função do desejo de conhecermos as grandes obras de arte, como as contidas no British Museum, na capital inglesa, no Museu do Prado, em Madri, e no Louvre, de Paris, além de patrimônios históricos e culturais da humanidade, em lugares como Portugal e Alemanha. As vivências espirituais foram outro ponto alto do passeio, em espaços como a Sacré-Coeur, de Paris, o Self Realization Fellowship, de Dublin, e o templo de Neasden, em Londres.

Ao término de nossa viagem, voltamos com uma bagagem extraordinária de vivências e de conhecimentos que gostaríamos de passar para outras pessoas. Descobri o prazer de escrever e publiquei dois livros sobre a experiência, e Paulo entrou para o ramo do turismo. Valeu a pena? Muito!

Essa decisão precisa ter uma razão e um propósito, um plano de ação muito bem estruturado, com definição do tempo da pausa, do destino, dos custos e da preparação para o retorno, garantindo que essa experiência se reverta em crescimento pessoal ou profissional. Desperte sua criatividade e explore potencialidades que talvez nunca tenha imaginado, permitindo-se um período de pausa transformador!

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Recomendações de Herman Benjamin para os juízes

03/12/2024 07h30

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Sempre tive uma vontade grande de conhecer pessoalmente o ministro presidente do STJ, Herman Benjamin, paraibano de Catolé do Rocha, e conversar com ele para beber seus vastos conhecimentos jurídicos, filosóficos, teológicos e humanitários tão importantes para sedimentar as suas sentenças e engalanar a cátedra onde sustenta com absoluta competência. Esse sempre foi um dos meus acalentados sonhos.

O ministro está tão próximo da minha cidade Ponta Porã e não pude concretizar essa aspiração em razão da fragilidade da minha saúde. Mas as oportunidades se renovam e quem sabe um pouco mais à frente poderei concretizar esse desiderato precioso. Mas é certo também, em outra vertente, que as suas decisões inseridas nos anais dos tribunais por onde peregrinou e ainda peregrina são sábias e pedagógicas e de valor inigualável. Não são conversas vazias e destituídas de fundamentos esse indicativo lançado pelo articulista. 

São provas robustas e insofismáveis emanadas daqueles que verdadeiramente amam o Direito e ainda consagram a sua vida inteira a serviço da Justiça como instrumento fomentador da paz social. Sim, porque o Direito, embora seja uma ciência abstrata, ele atrai, seduz e nunca chega a satisfazer a inteligência do seu estudioso diante da sua grandeza e do alcance dos seus propósitos.

Desde que nascemos, com o registro de nascimento, até quando morremos, com o atestado de óbito, tudo o que fazemos ou realizamos no curso da nossa peregrinação terrena está regulamentado por normas, regulamentos, portarias, decretos e leis que formam o nosso ordenamento jurídico. Base fundamental para referendar a justa distribuição da Justiça sempre que esse reclamo bater às portas dos juízos, instâncias ou tribunais.

Nessa linha de pensamento e de coexistência pacífica entre o Estado e a sociedade civil organizada surge o Judiciário como instrumento valioso para assentar a paz social, sobretudo quando foi esse o propósito do Estado para chamar para si a responsabilidade de distribuir a Justiça. Como o Estado se trata de um ente abstrato, ele mostra a sua face na pessoa física do juiz como responsável pela aplicação da Justiça. Não pode existir nada mais sublime do que isso. 

Consolidar a paz social com a aplicação da norma jurídica capaz de serenar os ânimos dos que buscam na Justiça o último guardião para a defesa dos seus direitos. E isso se torna mais evidente quando se constata a lisura dos nossos juízes, suas condutas morais, culturais, sociais, éticas e jurídicas no contexto da sociedade em que convive, como expressão maior para conquistar a respeitabilidade dos seus jurisdicionados.

Na primeira entrevista que concedeu, e que está estampada nas páginas amarelas da edição da Veja de setembro/24, disse a cada jovem magistrado com quem se encontra que a ambição da riqueza material ou quem sonha com um emprego glamouroso não deve ser juiz, estará na profissão errada. E sentenciou dizendo que o juiz no exercício da sua função judicante nunca será rico, e quem quer ser rico, não deve fazer concurso para juiz. 

Foi o desabafo diante de tantos tormentos que sacudiram os tribunais estaduais com os afastamentos de desembargadores de seu ofícios judicantes. Mas esse desejo enlouquecido que embrutece o ser humano não reside apenas nos limites do Judiciário. Outras tantas instituições sofrem com esse pesadelo. Nem o papa Francisco com o seu colégio de cardeais rebelde, e de outros tantos padres que se utilizam da sotaina para destruir sonhos justos e santos, vive momentos do seu pontificado sem tormentos. 

Em razão desses ditames, a nossa Carta Constitucional, para evitar essa vontade condenável, reservou aos integrantes do Judiciário as garantias constitucionais da vitaliciedade, inamovibilidade e irredutibilidade de vencimentos como instrumentos robustos para enfrentar os poderosos e vencer os desafios que todos os dias surgem na sua rotina de trabalho.

Parabéns ao nosso Estado, que recebe as mais altas autoridades do Judiciário brasileiro pelo colóquio. Parabéns a nossa sempre linda Campo Grande, terra de José Antônio Pereira, plantador de uma cidade de gente honesta, trabalhadora e que respeita a ordem, a lei e as autoridades constituídas. 

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