Artigos e Opinião

ARTIGO

Ângela Maria Costa: "Qual a medida da liberdade?"

Professora e doutora em Educação

Continue lendo...

Crianças gritando com os pais...correndo em volta das mesas dos restaurantes, incomodando todos... fazendo birra... chutando e mordendo professores. Por que as crianças de hoje têm mais liberdade? Por que os adultos responsáveis estão cedendo mais? Será por sentimento de culpa por não estarem presentes na vida dos filhos ou por acharem que deveriam dar mais amor? Estão devendo! Dão liberdades, e não liberdade, enchendo as crianças de presentes como reparação desse sentimento de culpa. Quantos não se endividam para comprar aquele celular top de linha, caríssimo, quando na verdade o que seus filhos precisavam era tão somente de um sorriso, um abraço, um olhar, um beijo, um aconchego. Alguns estudiosos os chamam de “pais demagogos” (não existem só políticos demagogos), porque usam a liberdade como demagogia, satisfazem pequenos prazeres (mais cômodo), e não as necessidades emocionais e afetivas da criança. Entregam à sociedade um ser infeliz, exigente, insatisfeito e egocêntrico.

Segundo Erich Fromm, “a existência humana e a liberdade são desde o início inseparáveis”. A existência humana começa com a individualidade no momento em que é cortado o cordão umbilical. A partir daí, estamos livres, desatados, mas não preparados para viver essa individualidade. Isto porque o ser humano é o único animal que nasce prematuro, precisando, no mínimo, de 8 anos, para sobreviver. Depende das orientações e limites bem estabelecidos pelos adultos, muitas vezes resumidos em proibições: “Cuidado! Não ponha o dedo na tomada...”; “Não corra no chão molhado”. E é nesse segundo nascimento que absorvemos regras, normas, mitos e crenças que formarão nosso caráter e personalidade para o resto da vida. Isto é, no núcleo familiar. Saímos da infância, mas a infância não sai da gente!

A questão é: em que medida podemos ser livres? A liberdade ideal e absoluta é difícil de ser atingida, a não ser que nos isolemos em uma ilha, porque até em uma tribo é preciso seguir normas e regulamentos estabelecidos. Segundo dicionários filosóficos, psicológicos e linguísticos, liberdade é a faculdade de se autodeterminar – poder decidir por si mesmo, fazer ou não algo naquele momento. Por exemplo: “Posso comer com as mãos?”; “Posso sair sem roupa na rua?”; “Posso andar na contramão?”. Lógico que pode, mas sofrerá as consequências. Então, a liberdade tem limite! Por meio dessa liberdade, alcançamos a autonomia. Essa autonomia depende da capacidade de organização e fixação das normas e limitações dentro de um círculo (família, escola, igreja.), pré-traçados pela autoridade. Em síntese, podemos dizer que liberdade é fazer aquilo que se gosta, desde que não interfira na liberdade dos outros, porque os “outros” também têm a sua liberdade, a qual precisa ser respeitada.

Atualmente, um dos maiores desafios da educação é saber qual a medida da liberdade (soltar as rédeas). Usar ou não de autoridade? Corrigir ou não a criança? Necessário ampliar esse debate sem demagogia. Que tal a família (1ª instância de educação) começar a participar da educação do filho, entregando à escola, pelo menos, um aluno com capacidade de agir, de ter iniciativas suficientes e responsabilidades satisfatórias, que já faça uso das palavrinhas mágicas: “obrigado”, “por favor”, “com licença” e “desculpa”. Um aluno que respeita seu ambiente escolar, as pessoas e os seus colegas. Educação compartilhada – família e escola. 

“Educação não transforma o mundo. Educação muda pessoas. Pessoas transformam o mundo” (Paulo Freire).

ARTIGOS

Melhor idade: um convite para grandes aventuras

03/12/2024 07h45

Arquivo

Continue Lendo...

As pessoas necessitam de um período para reavaliar as escolhas, explorar novos interesses e adquirir experiências inovadoras. O termo sabático, oriundo do hebraico shabat, está relacionado à tradição judaica de descansar a terra a cada seis anos de cultivo ininterrupto. Na terceira idade, um momento de pausa pode ser especial. Não é uma decisão fácil ou imediata, mas sim fruto de um processo de autoconhecimento e de estar disposto a sair da zona de conforto (ou de desconforto), enfrentando medos e desafios. Para que o projeto se torne exitoso, há três palavras fundamentais: antecedência, organização e planejamento.

Compartilho aqui a experiência que tive com meu marido, Paulo, de nosso período de pausa, após eu pedir afastamento do cargo de gestão que exercia há mais de 10 anos. Apesar de gostar imensamente do que fazia, não desvinculava o cansaço e o estresse que sentia a esse trabalho. Essa constatação me fez refletir e ver que era hora de “passar o bastão”, não sem antes praticar o desapego. O que fazer? O mundo tinha aberto as portas e o céu seria o limite!

Quantas possibilidades! Depois de várias “tempestades de ideias”, decidimos viajar por aproximadamente seis meses para a Europa em 2018, guiados por interesses comuns em história, cultura e arte do Velho Mundo.

Iniciamos a jornada pela Inglaterra e tivemos a oportunidade de conhecer e de interagir com pessoas de várias partes do mundo. Todo o roteiro foi em função do desejo de conhecermos as grandes obras de arte, como as contidas no British Museum, na capital inglesa, no Museu do Prado, em Madri, e no Louvre, de Paris, além de patrimônios históricos e culturais da humanidade, em lugares como Portugal e Alemanha. As vivências espirituais foram outro ponto alto do passeio, em espaços como a Sacré-Coeur, de Paris, o Self Realization Fellowship, de Dublin, e o templo de Neasden, em Londres.

Ao término de nossa viagem, voltamos com uma bagagem extraordinária de vivências e de conhecimentos que gostaríamos de passar para outras pessoas. Descobri o prazer de escrever e publiquei dois livros sobre a experiência, e Paulo entrou para o ramo do turismo. Valeu a pena? Muito!

Essa decisão precisa ter uma razão e um propósito, um plano de ação muito bem estruturado, com definição do tempo da pausa, do destino, dos custos e da preparação para o retorno, garantindo que essa experiência se reverta em crescimento pessoal ou profissional. Desperte sua criatividade e explore potencialidades que talvez nunca tenha imaginado, permitindo-se um período de pausa transformador!

Assine o Correio do Estado

ARTIGOS

Recomendações de Herman Benjamin para os juízes

03/12/2024 07h30

Arquivo

Continue Lendo...

Sempre tive uma vontade grande de conhecer pessoalmente o ministro presidente do STJ, Herman Benjamin, paraibano de Catolé do Rocha, e conversar com ele para beber seus vastos conhecimentos jurídicos, filosóficos, teológicos e humanitários tão importantes para sedimentar as suas sentenças e engalanar a cátedra onde sustenta com absoluta competência. Esse sempre foi um dos meus acalentados sonhos.

O ministro está tão próximo da minha cidade Ponta Porã e não pude concretizar essa aspiração em razão da fragilidade da minha saúde. Mas as oportunidades se renovam e quem sabe um pouco mais à frente poderei concretizar esse desiderato precioso. Mas é certo também, em outra vertente, que as suas decisões inseridas nos anais dos tribunais por onde peregrinou e ainda peregrina são sábias e pedagógicas e de valor inigualável. Não são conversas vazias e destituídas de fundamentos esse indicativo lançado pelo articulista. 

São provas robustas e insofismáveis emanadas daqueles que verdadeiramente amam o Direito e ainda consagram a sua vida inteira a serviço da Justiça como instrumento fomentador da paz social. Sim, porque o Direito, embora seja uma ciência abstrata, ele atrai, seduz e nunca chega a satisfazer a inteligência do seu estudioso diante da sua grandeza e do alcance dos seus propósitos.

Desde que nascemos, com o registro de nascimento, até quando morremos, com o atestado de óbito, tudo o que fazemos ou realizamos no curso da nossa peregrinação terrena está regulamentado por normas, regulamentos, portarias, decretos e leis que formam o nosso ordenamento jurídico. Base fundamental para referendar a justa distribuição da Justiça sempre que esse reclamo bater às portas dos juízos, instâncias ou tribunais.

Nessa linha de pensamento e de coexistência pacífica entre o Estado e a sociedade civil organizada surge o Judiciário como instrumento valioso para assentar a paz social, sobretudo quando foi esse o propósito do Estado para chamar para si a responsabilidade de distribuir a Justiça. Como o Estado se trata de um ente abstrato, ele mostra a sua face na pessoa física do juiz como responsável pela aplicação da Justiça. Não pode existir nada mais sublime do que isso. 

Consolidar a paz social com a aplicação da norma jurídica capaz de serenar os ânimos dos que buscam na Justiça o último guardião para a defesa dos seus direitos. E isso se torna mais evidente quando se constata a lisura dos nossos juízes, suas condutas morais, culturais, sociais, éticas e jurídicas no contexto da sociedade em que convive, como expressão maior para conquistar a respeitabilidade dos seus jurisdicionados.

Na primeira entrevista que concedeu, e que está estampada nas páginas amarelas da edição da Veja de setembro/24, disse a cada jovem magistrado com quem se encontra que a ambição da riqueza material ou quem sonha com um emprego glamouroso não deve ser juiz, estará na profissão errada. E sentenciou dizendo que o juiz no exercício da sua função judicante nunca será rico, e quem quer ser rico, não deve fazer concurso para juiz. 

Foi o desabafo diante de tantos tormentos que sacudiram os tribunais estaduais com os afastamentos de desembargadores de seu ofícios judicantes. Mas esse desejo enlouquecido que embrutece o ser humano não reside apenas nos limites do Judiciário. Outras tantas instituições sofrem com esse pesadelo. Nem o papa Francisco com o seu colégio de cardeais rebelde, e de outros tantos padres que se utilizam da sotaina para destruir sonhos justos e santos, vive momentos do seu pontificado sem tormentos. 

Em razão desses ditames, a nossa Carta Constitucional, para evitar essa vontade condenável, reservou aos integrantes do Judiciário as garantias constitucionais da vitaliciedade, inamovibilidade e irredutibilidade de vencimentos como instrumentos robustos para enfrentar os poderosos e vencer os desafios que todos os dias surgem na sua rotina de trabalho.

Parabéns ao nosso Estado, que recebe as mais altas autoridades do Judiciário brasileiro pelo colóquio. Parabéns a nossa sempre linda Campo Grande, terra de José Antônio Pereira, plantador de uma cidade de gente honesta, trabalhadora e que respeita a ordem, a lei e as autoridades constituídas. 

Assine o Correio do Estado

NEWSLETTER

Fique sempre bem informado com as notícias mais importantes do MS, do Brasil e do mundo.

Fique Ligado

Para evitar que a nossa resposta seja recebida como SPAM, adicione endereço de

e-mail [email protected] na lista de remetentes confiáveis do seu e-mail (whitelist).