Faz mais de um ano que os números da administração estadual estão indicando que o tempo das vacas gordas faz parte do passado. A arrecadação de ICMS, a principal fonte de receitas, sistematicamente tem apresentado índices de crescimento inferiores aos da inflação. Inicialmente, era de se imaginar que a piora era resultado de dois anos de estiagem, o que resultou na quebra parcial das safras de soja e milho safrinha. Os fenômenos climáticos não podem ser deixados para segundo plano, uma vez que a agricultura realmente segue sendo o motor da economia estadual.
Porém, seria de se imaginar que o crescimento vertiginoso do plantio de eucaliptos e da produção de celulose pudesse substituir, em parte, as perdas da agricultura. Mas, por ser um setor que está nas mãos de um grupo muito reduzido de pessoas, somente uma pequena parcela do dinheiro fica aqui e ajuda a aquecer a economia. O grosso dos lucros vai para a Faria Lima e até para Nova Iorque. Isso não significa, contudo, que a atividade não tenha fundamental importância. Mesmo assim, é necessário reconhecer que os benefícios fiscais são extremamente generosos. Enquanto isso, o dinheiro da soja e do milho, quando sobra, é praticamente todo investido na economia local, aquecendo a construção civil, o comércio de máquinas e veículos e a toda uma gigantesca cadeia.
Cedo ou tarde, a administração estadual seria obrigada a cair na real e a colocar o pé no freio. Era de se esperar que o anúncio de corte generalizado de gastos, anunciado nesta segunda-feira pelo governador Eduardo Riedel, não ocorresse muito tarde. Dados divulgados pelo Tesouro Nacional em maio mostram que os gastos do governo do Estado cresceram três vezes mais do que a arrecadação nos dois primeiros meses deste ano. Enquanto a chamada Receita Corrente teve acréscimo de 8%, os gastos aumentaram em 25%.
Fenômeno parecido ocorreu em outras 20 unidades da federação. Mato Grosso do Sul, porém, teve o segundo pior desempenho. Até agora, o barco andava como se absolutamente nada de errado estivesse acontecendo. Entretanto, nesta segunda-feira, o governo do Estado anunciou corte de 25% no custeio e automaticamente reconheceu que muita coisa precisa ser mudada.
Entre essas mudanças que há muito deveriam ter sido adotadas, e que só serão possíveis de acreditar se realmente acontecerem, está a redução dos repasses aos Poderes, o que rapidamente garantiria economia da ordem das centenas de milhões de reais aos cofres do Executivo. Em todo o Brasil, as instituições como Tribunal de Justiça, Ministério Público, Tribunal de Contas e Assembleia Legislativa são o que se pode chamar de peso-pesado nos custos.
Não é segredo para ninguém que os juízes brasileiros são os mais bem pagos do mundo. Assim como também é de conhecimento público, faz anos, que os magistrados estaduais de Mato Grosso do Sul são os mais bem-remunerados do Brasil. Então, os magistrados daqui são os mais caros do mundo. E promotores e procuradores do Ministério Público que têm paridade de salários e penduricalhos com os magistrados também estão entre os mais caros do mundo. Neste mesmo vácuo vão uma série de outros servidores. Sendo assim, não é necessário ser gênio para descobrir o que precisa ser feito para ajudar a recolocar a locomotiva nos trilhos sem a necessidade de aumentar impostos.



