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Antissemitismo contemporâneo e violência simbólica

O atentado ocorrido em Sydney durante uma celebração de Hanukkah não pode ser lido apenas como um episódio de violência extrema circunscrito a um tempo e a um lugar específicos

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Havia velas acesas. Não como metáfora literária, mas como gesto antigo: pequenas chamas dispostas contra a noite, insistindo em permanecer. O atentado ocorrido em Sydney durante uma celebração de Hanukkah não pode ser lido apenas como um episódio de violência extrema circunscrito a um tempo e a um lugar específicos.

Ele se apresenta como sinal perturbador da permanência histórica do antissemitismo enquanto estrutura simbólica ativa, capaz de atravessar séculos e adaptar-se continuamente às linguagens do presente.

Longe de constituir um desvio isolado, o ataque se insere em uma longa cadeia de acontecimentos que revela como o ódio ao judeu opera como lógica recorrente de exclusão. O antissemitismo não funciona como simples preconceito individual ou falha moral pontual.

Trata-se, antes, de uma racionalidade do ódio: um mecanismo coletivo que organiza frustrações sociais e crises identitárias por meio da eleição reiterada de um inimigo histórico. Hannah Arendt já advertia que o antissemitismo moderno não é um resíduo medieval, mas produto da fragilização das estruturas políticas e do espaço público.

A história judaica, marcada pela diáspora, pela perseguição e pela resistência, construiu-se sob o signo da memória. Não se trata de uma memória passiva ou meramente comemorativa, mas de uma memória ética.

Há aqueles que afirmam que os judeus têm o dever de continuar existindo enquanto judeus, para não conceder ao nazismo uma vitória simbólica póstuma. Cada ataque contemporâneo, portanto, não fere apenas indivíduos, mas tenta romper uma continuidade histórica sustentada pela transmissão cultural.

O fato de a violência ter ocorrido durante o Hanukkah – festa da luz e da resistência – intensifica a perversidade simbólica do atentado. Quando o sagrado se torna alvo, não se atinge apenas uma comunidade específica, mas a própria ideia de convivência plural.

Elie Wiesel lembrava que o maior risco moral das sociedades não é o ódio declarado, mas a indiferença que o normaliza.

No mundo contemporâneo, o antissemitismo frequentemente se mascara sob discursos políticos ambíguos, nos quais se confunde crítica legítima a decisões estatais com hostilidade dirigida a identidades coletivas.

Essa confusão cria terreno fértil para a estigmatização e para a legitimação simbólica da violência. A advertência de Primo Levi permanece atual: aquilo que aconteceu pode acontecer novamente.

Nesse contexto, a reflexão ética proposta por Martin Buber adquire especial relevância. Ao afirmar que toda vida verdadeira é encontro, o filósofo nos lembra que o antissemitismo nega radicalmente a relação, substituindo o rosto pelo estereótipo, o diálogo pela caricatura, o humano pela abstração.

Combater o antissemitismo não é tarefa restrita a políticas de segurança. Trata-se de um compromisso civilizatório que envolve educação histórica, responsabilidade institucional e vigilância ética permanente. Academias, universidades e veículos de pensamento atuam justamente no campo simbólico onde o ódio se forma ou é contido.

O atentado de Sydney interpela não apenas a comunidade judaica, mas toda a sociedade. Onde o antissemitismo encontra espaço, a dignidade humana se fragiliza. Defender a memória, recusar a indiferença e sustentar o pluralismo não são gestos retóricos.

São como aquelas velas iniciais: frágeis à primeira vista, mas suficientes para lembrar que a escuridão nunca é absoluta – apenas espera que alguém deixe de acender a luz.

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Relaxa: você não precisa ter opinião sobre tudo

Estudo recente sobre comportamento em comunidades digitais revelou que quando alguém percebe que a opinião é minoritária, tende a manter o silêncio

15/12/2025 07h45

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Existe uma ansiedade silenciosa no ar: a sensação de que você deveria ter uma opinião pronta para cada assunto que aparece no feed. Um acontecimento político numa terça, um comentário de influencer numa quarta, uma treta musical na quinta.

E se você não fala nada, parece que está sendo omisso, alienado, cúmplice ou qualquer outra palavra grande que as redes adoram jogar. Mas a pergunta que vale mais do que todas as indignações do dia é simples: quem disse que você precisa opinar sobre tudo?

A verdade é que a internet criou uma espécie de olimpíada de opiniões. E a largada é dada a cada nova notificação. Só que, quando você olha os números, percebe que esse universo não é tão povoado quanto parece.

Uma pesquisa mostrou que 55% dos americanos já deixaram um comentário on-line em algum momento e 77,9% já leram comentários. Significa que tem muita gente olhando, mas só metade de fato escrevendo alguma coisa.

Quando se vai para os jovens, 55% dizem postar opiniões com frequência e 71% afirmam estar mais confiantes do que nunca para fazê-lo. De novo, parece muito, mas não é todo mundo. É só uma parte barulhenta.

Do outro lado tem um dado incômodo. Um estudo recente sobre comportamento em comunidades digitais mostra que, quando alguém percebe que a opinião dele é minoritária, 72,6% simplesmente ficam em silêncio.

A espiral do silêncio continua funcionando mesmo num ambiente que promete liberdade absoluta para falar o que quiser. Ou seja, o barulho das redes às vezes é menos democracia e mais repetição. A impressão de que “todo mundo está falando” pode ser só a repetição de um mesmo grupo de pessoas com muita disposição e pouco cansaço.

E vale lembrar que esse palco é enorme. O mundo tem 63,9% da população usando redes sociais. É muita gente. São horas diárias rolando tela, consumindo milhares de pequenos estímulos. Nesse ambiente, a opinião virou quase um gesto automático.

Às vezes você nem sabe exatamente o que pensa, mas já sente a pressão de ter que dizer alguma coisa. Ser rápido se tornou mais importante do que ser cuidadoso. E isso tem consequência.

Opinar o tempo todo transforma a discussão pública em uma competição permanente. Você não compartilha uma ideia, você disputa espaço. E existe um dado que mostra o quanto isso escalou: em uma pesquisa internacional, 20% das pessoas disseram que às vezes é necessário ser rude nas redes para que sua opinião seja ouvida.

Um quinto das pessoas já acredita que a forma de existir no debate é gritando. Não tem nada de saudável nisso. Só desgaste.

Talvez seja por isso que, silenciosamente, muita gente está cansada. Opinar sobre tudo virou um tipo de exaustão emocional. Até porque, para opinar sobre tudo, é preciso estar o tempo todo sabendo de tudo. E começar a falar menos pode não ser um gesto de covardia, mas de inteligência.

Você não precisa ser comentarista integral do mundo. Pode escolher onde sua voz realmente importa. Pode esperar. Pode investigar. Pode até mudar de ideia sem precisar explicar isso para ninguém.

Quando quase metade das pessoas não comenta e três quartos se calam quando acham que estão sozinhas, significa que o silêncio não é falta de interesse. É um pedido de pausa. É uma escolha. Não é uma desistência do debate, é só uma forma de não ser engolido por ele.

A ideia de que você precisa ter opinião sobre tudo é só mais uma pressão inventada pela lógica das plataformas. Você não é obrigado a entrar em todas as conversas. Nem deve. O valor da sua voz não está na frequência, está na relevância.

E, às vezes, a decisão mais lúcida é ficar quieto por alguns minutos, horas ou dias. Porque pensar é um processo mais lento do que postar. E tem coisas que não precisam de urgência. Precisam de reflexão. Aliás, a maioria delas.

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Quem paga a conta da elite estatal é o Brasil que trabalha

Montante representa um rombo e transferência regressiva de renda, onde trabalhador e empresário, que geram a riqueza, são espoliados para financiar o luxo governamental

15/12/2025 07h30

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Frédéric Bastiat foi categórico ao descrever a espoliação legal: o uso da lei para pilhar o contribuinte. No Brasil, essa pilhagem atingiu níveis de obscenidade fiscal. A máquina pública, que deveria ser servidora da nação, transformou-se em oligarquia financiada compulsoriamente pelo setor produtivo.

A inação diante da urgência de reforma não é um erro gerencial, mas uma escolha deliberada de manutenção de poder e privilégio.

Os números não admitem eufemismos. Levantamento do Movimento Pessoas à Frente e do República.org revelou que 53 mil servidores públicos recebem acima do teto constitucional. O custo anual dessa farra é de R$ 20 bilhões.

Este montante não representa apenas um rombo, mas uma transferência regressiva de renda, onde trabalhador e empresário, que geram a riqueza, são espoliados para financiar o luxo governamental.

A disparidade salarial é o indicador mais contundente da falência do modelo. Enquanto a maioria dos brasileiros luta contra a estagnação econômica, estudos do Banco Mundial indicam que o salário do servidor federal atinge uma média 96% maior em comparação com pares do setor privado.

Uma distorção que desincentiva os mais capazes talentos de gerar riqueza no setor privado para se acomodar no setor público, refugiados na estabilidade de seus vultosos proventos.

O Judiciário, em particular, lidera esse festim fiscal. O custo do sistema de Justiça brasileiro atinge alarmante 1,6% do Produto Interno Bruto, um patamar que é quatro vezes maior do que a média dos países da OCDE.

Pagamos um dos Judiciários mais caros do planeta para, ironicamente, termos um dos processos mais lentos e uma segurança jurídica questionável, com seus mais altos membros viajando de carona em jatinhos de investigados, ao mesmo tempo que enterram as mais importantes operações que miram combater a corrupção. Um escárnio.

O aspecto mais nefasto dessa crise é a covardia política que a sustenta. O governo de Lula e sua base aliada demonstram uma inércia estratégica. A ausência de movimento pela reforma administrativa não se deve à complexidade técnica, mas à captura corporativista.

Enfrentar os supersalários e a estabilidade desmedida significa confrontar sindicatos e corporações estatais que são bases de sustentação do governo. A prioridade é clara: aumentar a receita via impostos para acomodar a despesa e colher votos, em vez de racionalizar o gasto e confrontar os privilégios.

Vale lembrar que a manutenção de uma máquina pública extrativista e ineficiente não é apenas uma questão de números fiscais, é um atentado à equidade social. Os bilhões que irrigam os supersalários são subtraídos do investimento em saúde básica, educação de qualidade e infraestrutura. Urge, portanto, reposicionar o debate.

A reforma administrativa não deve ser encarada meramente como um corte de gastos, mas como um imperativo moral e econômico para desarmar as armadilhas que fazem do Brasil um país subdesenvolvido.

Enquanto bilhões forem drenados anualmente para sustentar excessos de uma elite burocrática, o País continuará a operar muito aquém de seu potencial, preso a um modelo onde alguns privilegiados se servem do trabalho duro de uma legião de brasileiros que carrega a nação nas costas.

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