O governo começa a defender-se do próprio monstro que ajudou a criar. No Estado, a JBS construiu império com chancela de gestões.
Aumentam os riscos de desmoronamento do “império” construído pelo grupo J&F, holding que controla empresas como JBS e Eldorado Brasil. Depois das delações dos irmãos Joesley e Wesley Batista, que revelaram o mais recente escândalo de corrupção comprometendo até o presidente da República, Michel Temer, houve desvalorização no mercado, dificuldade para manutenção de crédito, anúncio de venda de ativos e perda de benefícios. Medidas que trazem preocupações na área econômica, em especial a estados que dependem consideravelmente de investimentos da companhia, a exemplo de Mato Grosso do Sul, onde a JBS controla cerca de 45% da capacidade de abates.
Ontem, a empresa sofreu mais um “pesado golpe” do governo do Estado, que atendeu a pedido dos produtores rurais e reduziu a alíquota nas operações interestaduais de gado em pé de 12% para 7%, durante 90 dias. Pecuaristas estavam “segurando” gado no pasto, diante da dificuldade em negociar com a JBS, que parou de comprar gado à vista. A instabilidade da empresa em meio a todo esse colapso a nível nacional torna extremamente arriscado o prazo de 30 dias para pagamento, tanto que bancos estão recusando a troca de notas promissórias. A estagnação nas negociações, certamente, traria graves prejuízos à receita do Estado, que tem na pecuária um dos destaques de sua base econômica. Assim, o governo tenta evitar perdas mais significativas na receita, garantindo mais competitividade com outros estados, em um momento em que as finanças já estão em nível crítico.
A medida favorece os pecuaristas e a economia estadual, mas também representa resposta direta do governador Reinaldo Azambuja aos irmãos Batistas, que envolveram seu nome como beneficiário do esquema de propina em troca de incentivos fiscais. A empresa, que recentemente era agraciada com benesses significativas, começa a receber contragolpes, decorrentes de um espírito de vingança que surge até como legítima defesa.
As punições podem ser ampliadas, pois o governo do Estado já iniciou a revisão dos questionáveis benefícios de redução de impostos e, ao que tudo indica, deve suspendê-los. Isso porque o depoimento à Procuradoria-Geral da República de Valdir Aparecido Boni, procurador da JBS, representa “confissão” de que ao menos dois termos firmados com o governo do Estado estariam sendo descumpridos. É dever da atual gestão verificar se a empresa executou investimentos e geração de empregos prometidos em troca da renúncia fiscal. A omissão caracteriza cumplicidade com as irregularidades, fato que complicará ainda mais a situação de Azambuja, alvo de CPI na Assembleia.
O governo começa a defender-se do próprio monstro que ajudou a criar. No Estado, a JBS construiu império com chancela de diferentes gestões, recebendo vários incentivos fiscais que ajudaram a expandir seus negócios. Ainda, recebeu vultuosos aportes do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), relação com indícios de favorecimento que já se tornou alvo de investigação da Polícia Federal. A Eldorado Celulose, em Três Lagoas, por exemplo, nasceu sob esquema de corrupção para obtenção de financiamentos. Hoje, a economia nacional paga o preço da ganância e falta de limites que predominam no poder público.