A manutenção da crise está atingindo índices alarmantes (...) Essa é a consequência mais lastimável da irresponsabilidade política e administrativa
Há um descompasso na economia brasileira que afeta qualquer perspectiva de melhora para o trabalhador no País. Com índice de desemprego atingindo desconfortável patamar de 13 a 14 mihões de pessoas, a consequência direta esperada é alto índice de liberação de seguro-desemprego. Porém, dados publicados na edição do Correio do Estado mostram exatamente o contrário: em Mato Grosso do Sul, pouco mais de 30% conseguiram acesso ao benefício. O porcentual considerado baixo por economistas é decorrente de alguns fatores que, infelizmente, empurram o Brasil para linha de alerta de precaridade nas condições de vida.
Um dos principais fatores que reduziram o acesso ao seguro-desemprego foi a mudança na legislação, em 2015, que exige permanência mínimo no trabalho para se ter direito ao seguro, o que varia conforme o tempo de serviço. Antes, com 6 meses de carteira assinada, a concessão era possível; hoje a primeira solicitação só pode ser feita por quem trabalhou, pelo menos, de 12 a 18 meses antes da demissão. A medida, quando adotada, tinha intenção de acelerar o ritmo de retorno ao mercado. Com a renda familiar pressionada, incentivaria até outros integrantes, como filhos, cônjuges e aposentados, a disputarem lugar no mercado de trabalho. A alteração foi feita logo após o crescimento da recessão, iniciada em meados de 2014, quando os índices de desemprego ainda não eram recordes. Naquele período, o efeito colateral analisado era que os jovens seriam os principais atingidos pela medida, por terem menos qualificação e treinamento, ouseja, os primeiros a serem demitidos e os últimos a serem contratados.
Nos dias atuais, a crise jogou todos os trabalhadores na mesma situação. Há desempregados com vasta experiência e qualificação, que entraram na indesejável lista somente pelo critério do corte de gastos feito pelos empresários para conter a quebradeira dos setores. E isso nos leva a outro fator pela baixa adesão ao seguro-desemprego. Muitos preferem voltar ao mercado, mesmo que não seja no trabalho ou renda mais atrativos, mas apenas para não permanecer na incerteza. O que não impede o crescimento da rotatividade e a futura exclusão de possível beneficiário dos recursos, justamente por não se enquadrar nas regras estabelecidas. Os que tem menor qualificação são jogados cada vez mais para baixo na cadeia. Infelizmente, não se vislubra a médio prazo o fim deste círculo vicioso.
A manutenção da crise está atingido índices alarmantes. Um relatório de 40 entidades da sociedade civil, a ser entregue às Organizações da Nações Unidas (ONU) na próxima semana, em Nova Iorque, mostra que o Brasil está perto de voltar ao mapa mundial da fome da entidade. Segundo matéria publicada no jornal O Globo, o país havia saído da lista há três anos, mas a queda na oferta de emprego e a exclusão de famílias de programas de baixa renda, decorrente do corte dos benefícios, nos coloca novamente, à beira do precipício. O grau de insegurança familiar medido pela pesquisa aproxima-se do patamar considerado grave. Essa é a consequência mais lastimável da irresponsabilidade política e administrativa, equívocos que reverberam na vida de todos os brasileiros. Uma lástima, até agora, sem fim.