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CORREIO DO ESTADO

Editorial desta quinta-feira: "Novas investigações"

Editorial desta quinta-feira: "Novas investigações"

Redação

13/08/2015 - 00h00
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A Operação Lama Asfáltica, com certeza, ainda não acabou. Novos desdobramentos ainda estão por vir, decorrentes das escutas e investigações feitas até agora. 

A Operação Lama Asfáltica foi deflagrada no dia 10 de julho deste ano, com cumprimento de 19 mandados de busca e apreensão em empresas e nas casas dos suspeitos de envolvimento em esquema de superfaturamento de contratos. Desde então, escutas telefônicas feitas pela Polícia Federal e divulgadas pela imprensa deram uma ideia à população de como o esquema era feito, em esquema recorrente e abrangente em várias fases das obras, desde a licitação até a medição do que foi executado pelas empreiteiras. Indícios de que o trabalho feito não era nem de longe o que constava nas planilhas, muito menos com a qualidade prevista. O material está sendo analisado pelo Ministério Público Federal e, mais recentemente, pelo Ministério Público Estadual.

O procurador-geral do Estado, Humberto de Matos Brittes avalia que, preliminarmente, 80% do que foi apurado e consta no inquérito da Polícia Federal deve ficar ao encargo final do MPE. O cálculo tem razão de ser: muita das obras investigadas foram feitas sob responsabilidade do governo estadual, mesmo que com recursos federais.   Na investigação, quatro servidores da Agência  Estadual de Gestão e Empreendimentos (Agesul) foram afastados dos cargos, suspeitos de participação nos esquemas fraudulentos. Neste quesito, a atual gestão tem total interesse  na investigação das irregularidades, até para  resguardar-se. Futuramente, caso seja comprovada o ilícito, a cobrança virá de cima para baixo dos recursos desviados, recaindo sobre a atual gestão, que terá que cobrar  das empresas e outros envolvidos.

O MPE também terá papel importante no esclarecimento de suspeitas de compras de votos para cassação de Alcides Bernal da prefeitura de Campo Grande. Durante a investigação da PF, centrada nos contratos que envolviam principalmente o empreiteiro João Amorim, dono da Proteco Construtora Ltda, as escutas telefônicias acabaram trazendo à tona ligações suspeitas entre o empresário e o presidente da Câmara de Vereadores, Mario Cesar. Foi munição usada por Bernal para mostrar que a saída dele foi orquestrada pela oposição, com apoio de empreiteiros ligados às fraudes apuradas pela PF. O trabalho que MPF e MPE terão pela frente será longo e minucioso. Não se pode deixar brechas para que os suspeitos, caso tornem-se réus, possam questionar de forma convincente o que foi apurado e oferecido como denúncia à Justiça. Também é foram de se evitar injustiças, em relação a pessoas que aparecem nas gravações, sem que o devido contexto seja levado em conta.

A Operação Lama Asfáltica, com certeza, ainda não acabou. Novos desdobramentos ainda estão por vir, decorrentes das escutas e investigações feitas até agora. O volume de trabalho irá crescer, mas a população espera que haja eficácia na apuração e na denúncia dos envolvidos. A reivindicação é possível, a exemplo da Operação Lava Jato. Desde que a operação foi deflagrada, em 17 de março do ano passado, foram 82 réus e dezenas de condenados, entre eles, lista de empreiteiros e empresários, ex-diretores das grandes construtoras do País e da Petrobras.  Um amostra de que é possível acreditar na Justiça. Tomara que a população em Mato Grosso do Sul tenha seu exemplo regional.

Editorial

O leito que falta: um problema de todos

O leito que falta hoje pode ser o de qualquer um de nós amanhã. E, nesse ponto, o problema deixa de ser só do outro: é, e sempre foi, um problema de todos

17/05/2025 07h15

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É triste constatar que, em pleno 2025, Mato Grosso do Sul ainda não apresenta projetos consistentes para enfrentar a crescente escassez de leitos hospitalares na rede pública. Mais preocupante do que a ausência de iniciativas é a aparente indiferença de parte dos gestores públicos diante de um problema que, cedo ou tarde, afetará diretamente toda a população, inclusive quem hoje acredita estar protegido por planos de saúde privados.

A raiz da crise é complexa, mas há fatores evidentes e evitáveis. A baixa capacidade de investimento dos entes públicos tem um papel central, sem dúvida, mas não se pode ignorar o impacto desastroso da forma como são utilizadas as emendas parlamentares no orçamento da União. A lógica paroquial, que transforma recursos públicos em moedas de troca para atender interesses eleitorais locais, é corrosiva. Em vez de investimentos estruturantes na saúde, como a abertura de novos leitos hospitalares, o dinheiro é pulverizado em pequenas obras, compra de tratores ou projetos sem descrição clara. Atende-se a poucos, e mal.

Essa fragmentação do Orçamento revela uma distorção grave na nossa democracia representativa: a prioridade deixou de ser o bem público e passou a ser a manutenção de currais eleitorais. Enquanto isso, problemas estruturais se acumulam, sem resposta adequada. A saúde pública sente esse impacto de maneira particularmente dura. A cada novo surto, crise sanitária ou aumento de demanda, o sistema entra em colapso – não por falta de profissionais ou de capacidade técnica, mas por pura ausência de leitos disponíveis.

Campo Grande, a capital do Estado, é um retrato fiel dessa negligência. A reportagem que segue nesta edição revela o que aqueles que dependem do SUS já sabem de cor: há filas para internações, pacientes aguardando vagas em prontos-socorros superlotados e famílias angustiadas com a falta de uma estrutura minimamente adequada. E o pior: mesmo em um cenário tão crítico, as autoridades parecem pouco mobilizadas para reverter a situação.

A lógica do clientelismo que se impôs sobre a política brasileira cobra seu preço. Em vez de técnicos capacitados e compromissados com o planejamento de longo prazo, temos apadrinhados políticos ocupando cargos estratégicos. Em vez de projetos estruturantes, temos soluções paliativas – quando muito. Em vez de visão de Estado, temos cálculos eleitorais. O resultado é a perpetuação de problemas como a falta de leitos hospitalares, que compromete a vida e a dignidade de milhares de cidadãos.

É urgente que o debate sobre emendas parlamentares ganhe centralidade no debate público. O Brasil precisa rever profundamente a forma como distribui e fiscaliza o uso desses recursos. Não se trata de eliminar o instrumento, mas de transformá-lo em ferramenta de desenvolvimento real e equitativo. A saúde deve ser prioridade, e isso precisa estar refletido em cada decisão orçamentária.

É uma pena que, enquanto isso não acontece, o cidadão comum continue enfrentando corredores lotados, espera indefinida e sofrimento evitável. O leito que falta hoje pode ser o de qualquer um de nós amanhã. E, nesse ponto, o problema deixa de ser só do outro: é, e sempre foi, um problema de todos.

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ARTIGOS

Hierarquia em postos de trabalho: lutas e dilemas

16/05/2025 07h45

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As responsabilidades dos postos de trabalho são diversas e complexas e respondem a uma hierarquia estrutural das empresas. Recentemente, fiz mais uma entrevista em uma organização para uma vaga disponível e, mais uma vez, ofereceram-me uma colocação que não tinha nada a ver com a minha formação e experiência profissional. Era um posto de assistente administrativo, para atender, no balcão, as pessoas que necessitam de encaminhamento e orientação. Sendo psicóloga de formação, com pós-graduação em Psicoterapia de Orientação Analítica, encerrando mais uma em transtorno do espectro autista (TEA), e professora de Libras, me assustei com a completa invisibilidade do meu currículo para a empresa.

Para revidar esta proposta, perguntei à pessoa que estava me entrevistando se não havia uma vaga para a área de Psicologia. Percebi que o que eu estava perguntando era irreal para a empresa, porque este posto não é, em geral, ofertado para pessoas com deficiência (PCDs). Ainda que eu sonhe com esse posto, o mercado de trabalho não reserva esse espaço para mim. Existe somente uma compreensão: as organizações só empregam PCDs em razão da Lei de Cotas, artigo 93 da Lei nº 8.213/91, porém, não garantem a inclusão nem minimizam as discriminações.

Ter algum tipo de deficiência não pode anular a capacidade e as habilidades dos profissionais. Como podemos mostrar isso para a sociedade? Como podemos nos empoderar para enfrentarmos essas barreiras?

As dificuldades e os empecilhos da aceitação social da diversidade são marcas que vieram com a escravidão portuguesa, com as propagandas de governos sobre o branqueamento da população e com o apagamento de classes desfavorecidas. Os preconceitos se multiplicaram durante mais de dois séculos, e nos encontramos diante de uma batalha de titãs. Não podemos esmorecer. Temos de nos fortalecer por meio de cursos de formação, da divulgação de textos, de fazer com que as leis sejam cumpridas, criando associações, grupos de trabalho, grupos de estudos, entre outras atividades que possam nos legitimar como grupo social.

Podemos criar projetos e planos de carreira para desmantelar essa cultura empresarial de rejeitar a troca de saberes e conhecimentos na hierarquia dos postos de trabalho. Precisamos também garantir nosso lugar, para que possamos nos desenvolver e conseguir crescer junto com os demais funcionários. Não falo sozinha, pois, sempre que discuto com meus colegas nas redes sociais, vejo que eles e elas também se manifestam nesse sentido de não lhes darem oportunidade de avançar em suas carreiras profissionais.

Apesar de estarmos tão avançados nos meios de comunicação e nas tecnologias da informação, parece que os preconceitos não caminham paralelamente. Pelo contrário, parece que se acentuam. Ainda que aceitemos os tratamentos indevidos pelas empresas, precisamos combater as indiferenças, as humilhações e as dificuldades de relacionamento para alcançarmos vagas de trabalho condizentes com nossa formação e experiência profissional.

Menciono aqui as pessoas com autismo, que podem e devem trabalhar, pois sofrem de uma condição que não pode ser vista como uma deficiência. Trata-se de um transtorno do neurodesenvolvimento do indivíduo que interfere na capacidade de interação social, linguagem, comunicação e comportamento e que pode ser tratado por meio de terapias.

Atualmente, temos muitos diagnósticos de TEA tardios, pois o transtorno inclui uma variedade de características, mas, com acompanhamento especializado, são pessoas e profissionais capacitados para estudar e trabalhar.

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