A Operação Lama Asfáltica, com certeza, ainda não acabou. Novos desdobramentos ainda estão por vir, decorrentes das escutas e investigações feitas até agora.
A Operação Lama Asfáltica foi deflagrada no dia 10 de julho deste ano, com cumprimento de 19 mandados de busca e apreensão em empresas e nas casas dos suspeitos de envolvimento em esquema de superfaturamento de contratos. Desde então, escutas telefônicas feitas pela Polícia Federal e divulgadas pela imprensa deram uma ideia à população de como o esquema era feito, em esquema recorrente e abrangente em várias fases das obras, desde a licitação até a medição do que foi executado pelas empreiteiras. Indícios de que o trabalho feito não era nem de longe o que constava nas planilhas, muito menos com a qualidade prevista. O material está sendo analisado pelo Ministério Público Federal e, mais recentemente, pelo Ministério Público Estadual.
O procurador-geral do Estado, Humberto de Matos Brittes avalia que, preliminarmente, 80% do que foi apurado e consta no inquérito da Polícia Federal deve ficar ao encargo final do MPE. O cálculo tem razão de ser: muita das obras investigadas foram feitas sob responsabilidade do governo estadual, mesmo que com recursos federais. Na investigação, quatro servidores da Agência Estadual de Gestão e Empreendimentos (Agesul) foram afastados dos cargos, suspeitos de participação nos esquemas fraudulentos. Neste quesito, a atual gestão tem total interesse na investigação das irregularidades, até para resguardar-se. Futuramente, caso seja comprovada o ilícito, a cobrança virá de cima para baixo dos recursos desviados, recaindo sobre a atual gestão, que terá que cobrar das empresas e outros envolvidos.
O MPE também terá papel importante no esclarecimento de suspeitas de compras de votos para cassação de Alcides Bernal da prefeitura de Campo Grande. Durante a investigação da PF, centrada nos contratos que envolviam principalmente o empreiteiro João Amorim, dono da Proteco Construtora Ltda, as escutas telefônicias acabaram trazendo à tona ligações suspeitas entre o empresário e o presidente da Câmara de Vereadores, Mario Cesar. Foi munição usada por Bernal para mostrar que a saída dele foi orquestrada pela oposição, com apoio de empreiteiros ligados às fraudes apuradas pela PF. O trabalho que MPF e MPE terão pela frente será longo e minucioso. Não se pode deixar brechas para que os suspeitos, caso tornem-se réus, possam questionar de forma convincente o que foi apurado e oferecido como denúncia à Justiça. Também é foram de se evitar injustiças, em relação a pessoas que aparecem nas gravações, sem que o devido contexto seja levado em conta.
A Operação Lama Asfáltica, com certeza, ainda não acabou. Novos desdobramentos ainda estão por vir, decorrentes das escutas e investigações feitas até agora. O volume de trabalho irá crescer, mas a população espera que haja eficácia na apuração e na denúncia dos envolvidos. A reivindicação é possível, a exemplo da Operação Lava Jato. Desde que a operação foi deflagrada, em 17 de março do ano passado, foram 82 réus e dezenas de condenados, entre eles, lista de empreiteiros e empresários, ex-diretores das grandes construtoras do País e da Petrobras. Um amostra de que é possível acreditar na Justiça. Tomara que a população em Mato Grosso do Sul tenha seu exemplo regional.