O desaquecimento da economia é o fator que mais contribui para o aumento de desempregados. Há menos dinheiro circulando e mais gente endividada
Para quem ainda duvidava que a crise econômica de fato existia, ou que demoraria a chegar, a fila de desempregados que dobrou esquinas no centro de Campo Grande, na sexta-feira (4), é a resposta que faltava. Sim, o País está em crise, a economia passa por dificuldades e, infelizmente, o que foi visto naquele dia é só o começo de um cenário ainda pior.
Foram mais de oito mil pessoas que compareceram à primeira feira do emprego promovida pela Associação Comercial e Industrial de Campo Grande. Havia oferta de 1,2 mil vagas, e a grande quantidade de candidatos superou a expectativa dos organizadores.
Contribuíram para que a fila fosse ainda maior os milhares de ex-servidores comissionados da prefeitura, na gestão de Gilmar Olarte, demitidos no dia 27, pelo prefeito Bernal. A perspectiva de readmissão deles no serviço público é muito pequena, pois o atual prefeito, ao preencher alguns cargos de confiança, deverá privilegiar seus aliados e, para piorar a situação, o município enfrenta uma grave crise, gastando muito mais do que arrecada e enfrentando dificuldades para pagar em dia seus servidores efetivos.
O desaquecimento da economia, contudo, é o fator que mais contribui para o aumento de desempregados. Com menos liquidez no mercado e boa parte da população endividada, há muito menos dinheiro circulando e muito pouco consumo, situações que levam à paradeira nos setores de indústria, comércio e serviços, e geram milhares de demissões.
O cenário atual contrasta com o de dois anos atrás, quando o Brasil teve sua menor taxa de desemprego da história, conforme dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea): 4,3%. Atualmente, a taxa de desempregados no País é quase o dobro: 8,3%, no último trimestre. A entrada de 1,7 milhão de jovens neste ano, no mercado de trabalho, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), contribuiu para o aumento de contingente de pessoas sem trabalho.
Caso não haja um sinal de recuperação da economia, ainda que tímido, a tendência é que esta taxa aumente e atinja níveis como o de março de 2002, quando chegou a 12,9% da população.
Além da grande fila de sexta-feira, outro reflexo da redução de vagas formais de trabalho é o aumento da informalidade. Tornou-se comum encontrar novamente vendedores ambulantes nas ruas, durante o dia e também à noite. Da mesma forma, os trabalhadores apostam nos “bicos”, o comércio informal, para poder ganhar um “extra” e compensar as perdas com a inflação.
Os sinais de que os dias difíceis estão de volta já saíram dos relatórios econômicos e dos índices estatísticos. Eles já estão nas ruas, assim como a insatisfação da população com as dificuldades que encontra para pagar contas e aumentar a renda.