Artigos e Opinião

OPINIÃO

Everton Rafael Tavares Centurião: "O livro didático de Ciências"

Professor de Ciências da Rede Municipal de Ensino de Paranhos

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A reflexão proposta por esse artigo é direcionada ao uso (ou não) dos livros didáticos nas instituições escolares brasileiras. Nesse sentido, mister reiterar que os livros didáticos são ferramentas que visam auxiliar o fazer pedagógico do docente, devendo atribuir um grau de autonomia tanto a este quanto aos estudantes no sentido de ser uma fonte bibliográfica a todo saber acumulado ao longo da história, bem como propor a construção de conhecimentos baseadas em fatos – contextualizados, científicos, racionais, etc.

Nessa perspectiva, o manual didático faz parte do contexto escolar e sempre esteve em alta nas instituições educacionais com certa influência, direcionando grande parte do planejamento didático e a elaboração de aulas dos professores. Nesse intento, analisei os livros da disciplina de Ciências da natureza que compõe o acervo do Programa Nacional do Livro Didático (PNLD), direcionados do 6º ao 9º do Ensino Fundamental, dos últimos 10 anos. Foram levados em consideração diversos atenuantes nessa análise, tais como: aspectos teóricos e conceituais; didáticos e pedagógicos relacionados à sequência de conteúdos e os didáticos e pedagógicos no que tange a proposição de exercícios de fixação e as mais variadas atividades. 

Busquei compreender a importância dos manuais didáticos no ensino e na aprendizagem e as consequências disso ao inserir a disciplina de Ciências no PNLD, no sentido de deixar o professor mais autônomo em sua atuação docente, possibilitando assim o ato de utilizá-los na sala de aula. Essa análise realizada demonstra que o manual didático está presente nas escolas e é utilizado como recurso de aprendizagem aos estudantes; em vários contextos é predominante a sua utilização, o que, numa perspectiva crítica, poderia levar a um ensino escolar precário, já que o livro muitas vezes retira o caráter autônomo do docente e do estudante, reproduzindo ideais de sociedade que muitas vezes não representam o contexto no qual esses agentes estão inseridos, sem contar que torna o ensino em si sem o âmago da concepção de divulgar o conhecimento por meio de uma perspectiva de construção deste do micro para o macro. 

Nesse ínterim, considero o manual didático como mais um parceiro/aliado no processo educativo de ensino e aprendizagem, mas ele não pode impedir a razão essencial de existir da própria Ciência, pois esse processo é tão amplo e complexo que um livro em si seria incapaz de retratá-lo em sua integralidade. Nesse sentido, percebe-se que o livro didático pode e é utilizado de várias maneiras, considerando as diversas propostas de seus autores. Contudo, esses autores seguem um roteiro que considera e classifica o estudante como aquele que está devidamente qualificado e preparado para a escrita que o fazem, com uma interpretação textual e leitura de mundo impecável e capaz de realizar uma contextualização crítica e consciente dessas representações e simbolismos apresentados. 

Mas nessa análise também observei diversos contextos que, em si, vão emergir aquém da materialidade didática, como na natureza do fazer pedagógico dos educadores com poucas horas de planejamentos, indisciplina e correção das atividades realizadas pelos alunos, o que dificultaria o papel contributivo desse profissional da educação na compreensibilidade e criticidade desse material que, em si, “vem e/ou está pronto”. 

Para concluir, destaco que o manual didático de Ciências pode ser considerado, em última instância, um material acessível e sugestivo do conhecimento científico, porém, o ato de intervir do docente é essencial, sendo seu papel uma particularidade que não só é capaz de aprofundar esse conhecimento científico como oportuniza uma visão contextualizada do mundo que nos rodeia – que é complexo e requer uma interpretação mais ampla. Nessa concepção que proponho, o educador faz a mediação entre os conhecimentos prévios que os estudantes fazem das coisas e o saber científico acumulado, e sua atuação é constante, capaz de despertar no seu público-alvo a consciência crítica, com valores, princípios, normas grupais e a concepção de atores sociais que poderão contribuir de maneira significativa para a sociedade em que vivem.

ARTIGOS

O papel da IA no bem-estar moderno

21/03/2025 07h45

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Os últimos anos foram marcados por transformações em várias esferas da sociedade, e um dos conceitos que mais mudou e ganhou novos significados foi o de bem-estar. Se antes ele era relacionado principalmente com a saúde mental e física, hoje em dia já abrange diversos outros fatores, como qualidade de vida, equilíbrio entre trabalho e vida pessoal, segurança e experiências personalizadas.

Esse cenário levou ao crescimento da economia do bem-estar, que, segundo dados do Global Wellness Institute (GWI), alcançou US$ 6,3 trilhões em 2023, montante 25% maior do que o valor avaliado em 2019 (US$ 4,9 trilhões). Para 2028, a expectativa é que o setor chegue a US$ 8,9 trilhões, o que reforça como essa pauta já é uma forte tendência.

Porém, vale destacar que os avanços nesse mercado foram possíveis, entre outros fatores, por conta da evolução da tecnologia, que ampliou o acesso a soluções inovadoras, otimizou processos e possibilitou a personalização do bem-estar de acordo com as necessidades individuais. Nesse contexto, a inteligência artificial (IA) tem desempenhado um papel fundamental, contribuindo ainda mais para que o bem-estar seja mais acessível e flexível.

Temos diversos exemplos que comprovam como as soluções inovadoras trazidas pela popularização da IA impactam diretamente o autocuidado e a forma como interagimos com o mundo: no setor da saúde, startups brasileiras como a Pipo Saúde utilizam a tecnologia para oferecer suporte a diagnósticos e otimizar o atendimento médico, permitindo que milhões de pessoas tenham acesso a serviços de saúde de forma mais eficiente. O bem-estar emocional também foi impulsionado com soluções como a da Vittude, uma plataforma que conecta pacientes a psicólogos por meio de IA, democratizando o acesso a cuidados mentais.

No que diz respeito ao bem-estar corporativo, ferramentas desenvolvidas por empresas como a Gupy ajudam organizações a monitorar o nível de satisfação dos funcionários e sugerem ações para melhorar o ambiente de trabalho, reduzindo o estresse e, consequentemente, aumentando a produtividade.

Outro exemplo do impacto positivo da IA no bem-estar moderno está na personalização do entretenimento, com plataformas como Spotify e Netflix, que usam IA para sugerir conteúdos que correspondem aos interesses do usuário, e do aprendizado, com ferramentas como o Duolingo, que usam IA para personalizar o ensino, tornando essa jornada mais eficaz e menos desgastante para os estudantes.

Acredito que essa tendência de sofisticação das tecnologias baseadas em IA vai tornar a busca pelo bem-estar completo ainda mais fácil. Desde aplicativos que monitoram padrões de sono e alimentação a assistentes virtuais que ajudam a gerenciar tarefas cotidianas, é fato que a tecnologia seguirá transformando a forma como cuidamos do nosso corpo, mente e relações.

Porém, não podemos esquecer que o segredo para o uso eficaz da IA nesse contexto inclui necessariamente o desenvolvimento ético dessas tecnologias, para que sejam seguras, inclusivas e realmente focadas no bem-estar humano.

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ARTIGOS

Financiamento rural e a reforma tributária

21/03/2025 07h15

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Os Fiagros são os Fundos de Investimento nas Cadeias Produtivas Agroindustriais. Criados em 2021, são ativos de investimento do agronegócio, seja de natureza imobiliária rural, seja de atividades relacionadas ao setor. O Fiagro acabou se tornando uma fonte alternativa de financiamento para o produtor rural, de modo a não depender exclusivamente dos bancos e do Plano Safra.

Entretanto, em janeiro deste ano, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva sancionou a Lei Complementar nº 214/2025, que regulamenta a reforma tributária, mas vetou trechos que previam a isenção de tributos para os Fiagros e para os Fundos de Investimento Imobiliário (FIIs). Esses trechos isentariam tais fundos da Contribuição sobre Bens e Serviços (CBS) e do Imposto sobre Bens e Serviços (IBS).

A justificativa do governo para o veto foi a ausência de autorização constitucional para que esses fundos não fossem considerados contribuintes do IBS e da CBS. Isso pode impactar diretamente o crédito para os produtores rurais. É uma insensatez e ilógico o que o presidente fez.

Os Fiagros são fundos em que as pessoas podem investir e que funcionam como fontes de financiamento para o agronegócio. No mundo inteiro, os fundos já são mais representativos do que os bancos. Esse tipo de fundo tem crescido bastante, pois permite também que investidores urbanos participem do setor agroindustrial, aproveitando o potencial do agronegócio brasileiro.

O Brasil conta com cinco grandes bancos e cooperativas de crédito, além de seis linhas de crédito disponíveis para o agronegócio. Há também o Plano Safra, que atende apenas uma pequena parte da produção. Dessa forma, os agricultores ficam nas mãos desses bancos e frequentemente enfrentam desafios para a concessão de crédito, tornando-se dependentes das instituições financeiras, que impõem taxas, garantias e burocracias muitas vezes incompatíveis com a realidade do setor.

Prova maior da importância de financiamentos alternativos é a notícia da suspensão do Plano Safra. O Tesouro Nacional decidiu suspender novas contratações dessas linhas de financiamento 2024-2025. A medida vale a partir de 21 de fevereiro. O governo, sempre correndo para remediar em vez de prevenir, editou a MP nº 1.289/2025, liberando 4,17 bilhões para conter a pressão do segmento. Ainda assim, é insuficiente para o que o setor demanda de fomento. 

Os fundos representam um novo universo, uma nova possibilidade de financiamento com juros menores, pois, muitas vezes, esse capital vem do exterior. Os investidores estrangeiros não estão acostumados com os juros elevados do Brasil e, portanto, taxas mais baixas já são atrativas para eles. O Fiagro é exatamente isso: uma fonte de financiamento. Além de financiar o campo, atualmente beneficia cerca de 600 mil investidores.

No momento, o Fiagro só paga imposto se houver mais de 100 cotistas no fundo, não sendo tributado pelo Imposto de Renda. Caso tenha menos de 100 cotistas, há a incidência de 15% de Imposto de Renda, cobrado apenas no momento do resgate do resultado pelo cotista. Além disso, o Fundo não paga PIS, Cofins ou ISS. Contudo, com esse veto presidencial, os Fiagros passarão a pagar os tributos previstos na reforma tributária, especificamente o IBS e a CBS. Isso significa uma alíquota de até 28,5%, o que inviabilizará completamente esses fundos.

É importante lembrar que a logística no Brasil é muito cara, os produtores gastam muito com transporte, e os custos trabalhistas e tributários são elevados. Agora, o governo tenta transferir mais essa responsabilidade para o produtor. Vale ressaltar, mais uma vez, que quanto mais difícil for a vida do produtor, mais difícil será a vida do consumidor, que verá o impacto nos preços dos produtos agropecuários nas prateleiras dos supermercados.

A nossa expectativa é que a Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA) manifeste firmemente sua discordância com o veto e atue no Congresso para derrubá-lo. A tributação desses fundos compromete a competitividade do setor, aumenta os custos para os produtores, reduz a oferta de crédito no agronegócio e, por consequência, eleva os preços dos alimentos para o consumidor final.

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