A reflexão proposta por esse artigo é direcionada ao uso (ou não) dos livros didáticos nas instituições escolares brasileiras. Nesse sentido, mister reiterar que os livros didáticos são ferramentas que visam auxiliar o fazer pedagógico do docente, devendo atribuir um grau de autonomia tanto a este quanto aos estudantes no sentido de ser uma fonte bibliográfica a todo saber acumulado ao longo da história, bem como propor a construção de conhecimentos baseadas em fatos – contextualizados, científicos, racionais, etc.
Nessa perspectiva, o manual didático faz parte do contexto escolar e sempre esteve em alta nas instituições educacionais com certa influência, direcionando grande parte do planejamento didático e a elaboração de aulas dos professores. Nesse intento, analisei os livros da disciplina de Ciências da natureza que compõe o acervo do Programa Nacional do Livro Didático (PNLD), direcionados do 6º ao 9º do Ensino Fundamental, dos últimos 10 anos. Foram levados em consideração diversos atenuantes nessa análise, tais como: aspectos teóricos e conceituais; didáticos e pedagógicos relacionados à sequência de conteúdos e os didáticos e pedagógicos no que tange a proposição de exercícios de fixação e as mais variadas atividades.
Busquei compreender a importância dos manuais didáticos no ensino e na aprendizagem e as consequências disso ao inserir a disciplina de Ciências no PNLD, no sentido de deixar o professor mais autônomo em sua atuação docente, possibilitando assim o ato de utilizá-los na sala de aula. Essa análise realizada demonstra que o manual didático está presente nas escolas e é utilizado como recurso de aprendizagem aos estudantes; em vários contextos é predominante a sua utilização, o que, numa perspectiva crítica, poderia levar a um ensino escolar precário, já que o livro muitas vezes retira o caráter autônomo do docente e do estudante, reproduzindo ideais de sociedade que muitas vezes não representam o contexto no qual esses agentes estão inseridos, sem contar que torna o ensino em si sem o âmago da concepção de divulgar o conhecimento por meio de uma perspectiva de construção deste do micro para o macro.
Nesse ínterim, considero o manual didático como mais um parceiro/aliado no processo educativo de ensino e aprendizagem, mas ele não pode impedir a razão essencial de existir da própria Ciência, pois esse processo é tão amplo e complexo que um livro em si seria incapaz de retratá-lo em sua integralidade. Nesse sentido, percebe-se que o livro didático pode e é utilizado de várias maneiras, considerando as diversas propostas de seus autores. Contudo, esses autores seguem um roteiro que considera e classifica o estudante como aquele que está devidamente qualificado e preparado para a escrita que o fazem, com uma interpretação textual e leitura de mundo impecável e capaz de realizar uma contextualização crítica e consciente dessas representações e simbolismos apresentados.
Mas nessa análise também observei diversos contextos que, em si, vão emergir aquém da materialidade didática, como na natureza do fazer pedagógico dos educadores com poucas horas de planejamentos, indisciplina e correção das atividades realizadas pelos alunos, o que dificultaria o papel contributivo desse profissional da educação na compreensibilidade e criticidade desse material que, em si, “vem e/ou está pronto”.
Para concluir, destaco que o manual didático de Ciências pode ser considerado, em última instância, um material acessível e sugestivo do conhecimento científico, porém, o ato de intervir do docente é essencial, sendo seu papel uma particularidade que não só é capaz de aprofundar esse conhecimento científico como oportuniza uma visão contextualizada do mundo que nos rodeia – que é complexo e requer uma interpretação mais ampla. Nessa concepção que proponho, o educador faz a mediação entre os conhecimentos prévios que os estudantes fazem das coisas e o saber científico acumulado, e sua atuação é constante, capaz de despertar no seu público-alvo a consciência crítica, com valores, princípios, normas grupais e a concepção de atores sociais que poderão contribuir de maneira significativa para a sociedade em que vivem.