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OPINIÃO

Gilson Cavalcanti Ricci: "As três marias"

Advogado

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Três estrelinhas brilhantes no hemisfério sul visíveis a olho nu no céu do Brasil. No silêncio do universo, a bela tríade é localizada no cinturão estelar da Constelação do Orion. Foram batizadas pelos astrônomos respectivamente com os nomes de Alniltak a estrela maior; Mintaka a estrela do meio; e Anilan a estrela menor – elas enfeitam o nosso céu como um cintilante colar de pérolas no busto de uma rainha. Três cidades na Terra encantam-me tanto como as Três Marias: Leningrado na Rússia; Nápolis na Itália; e Corumbá no Brasil – heroicas pelo passado épico de seus habitantes,     segundo historiadores de renome mundial, como a Vikipédia por exemplo. A História da Humanidade relata à posteridade o valor humano dos moradores dessas cidades na guerra. Invadidas e dominadas cruelmente por exércitos poderosos, sofreram bravamente as agruras da dominação militar estrangeira dentro de seus quadrantes, desprezadas à própria sorte por seus governantes.

Leningrado, na 2ª Guerra Mundial, sofreu cruento cerco  durante 872 dias, ficando completamente sitiada pelo poderoso exército alemão, o qual cortou as comunicações da cidade com o mundo exterior durante o cerco, culminando com o desabastecimento total, que matou de fome mais de 300 mil moradores por falta absoluta de produtos de primeira necessidade, como gêneros alimentícios, medicamentos e socorro médico. Fuzilamentos diários e todo tipo de barbaridade sofriam os cidadãos daquela cidade. Cenas horripilantes de cadáveres esparramados nas ruas, crianças famintas separadas dos pais, e doentes graves sem  assistência médica. Leningrado, naqueles dias horrendos, tornou-se o espectro da tragédia humana. No final de 1943 o exército russo conseguiu furar o cerco com a ajuda heroica  da população civil, obrigando os alemães a abandonarem a cidade, deixando para traz o quadro macabro de mais de 500 mil mortos.  

Nápolis, sangue latino derramado bravamente diante dos exércitos invasores. A grande quantidade de soldados inimigos na 2ª Guerra Mundial chegou a superar o número de habitantes da cidade, o que rendeu a Napólis o humilhante título de “terra de ninguém”. Como em Leningrado, o povo napolitano foi desprezado à própria sorte e assim sofreu os horrores da guerra. Em 1944 os napolitanos se juntaram à “Resistência Civil Italiana Partigiana”, e após luta desigual e ferrenha conseguiram expulsar o implacável exército nazi-fascista. Depois de libertarem o sul da Itália, os aliados chegaram a Nápolis, encontrando-a livre dos inimigos. A partir de então, a missão era libertar o norte italiano, o que coube à gloriosa Força Expedicionária Brasileira – FEB, que é homenageada todos os anos pelos habitantes de Monte Castelo e Montese no dia 25 de abril – Dia da Libertação.    

Corumbá tem sua história heroicamente ligada à Guerra do Paraguai. Sofreu sob as botas paraguaias quando invadida por 3500 soldados comandados pelo coronel Vicente Barrios. Assim como Nápolis, a quantidade de soldados inimigos em Corumbá suplantou o número de habitantes da cidade, que na época não passava de umas mil e novecentas pessoas. Os corumbaenses sofreram também as atrocidades da guerra. Ao se alojarem na cidade, os paraguaios confiscaram as melhores casas para alojamento da tropa, e incendiaram aquelas de qualidade inferior, obrigando seus moradores a se refugiarem no mato. Saquearam o comércio e estupraram mulheres. Homens e mulheres sadios eram levados à força para Assunção como escravos. Fuzilamentos e espancamentos eram diários, levando terror e humilhação. Sem ajuda do governo, os corumbaenses se defendiam com escaramuças diárias, até quando chegaram de Cuiabá 400 soldados comandados por Antonio Maria Coelho, os quais se esparramaram ocultos nas matas vizinhas, dando cobertura ao povo corumbaense no ataque de surpresa aos paraguaios a pauladas e a pedradas, sob proteção de intensa fuzilaria oriunda das matas, fato ocorrido no dia 13 de junho de 1867, quando os paraguaios sofreram humilhante derrota frente à pacata e valorosa população corumbaense.             

Três cidades distintas. Três estrelas brilhantes no mapa do mundo. Honra e glória da humanidade!

ARTIGOS

Melhor idade: um convite para grandes aventuras

03/12/2024 07h45

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As pessoas necessitam de um período para reavaliar as escolhas, explorar novos interesses e adquirir experiências inovadoras. O termo sabático, oriundo do hebraico shabat, está relacionado à tradição judaica de descansar a terra a cada seis anos de cultivo ininterrupto. Na terceira idade, um momento de pausa pode ser especial. Não é uma decisão fácil ou imediata, mas sim fruto de um processo de autoconhecimento e de estar disposto a sair da zona de conforto (ou de desconforto), enfrentando medos e desafios. Para que o projeto se torne exitoso, há três palavras fundamentais: antecedência, organização e planejamento.

Compartilho aqui a experiência que tive com meu marido, Paulo, de nosso período de pausa, após eu pedir afastamento do cargo de gestão que exercia há mais de 10 anos. Apesar de gostar imensamente do que fazia, não desvinculava o cansaço e o estresse que sentia a esse trabalho. Essa constatação me fez refletir e ver que era hora de “passar o bastão”, não sem antes praticar o desapego. O que fazer? O mundo tinha aberto as portas e o céu seria o limite!

Quantas possibilidades! Depois de várias “tempestades de ideias”, decidimos viajar por aproximadamente seis meses para a Europa em 2018, guiados por interesses comuns em história, cultura e arte do Velho Mundo.

Iniciamos a jornada pela Inglaterra e tivemos a oportunidade de conhecer e de interagir com pessoas de várias partes do mundo. Todo o roteiro foi em função do desejo de conhecermos as grandes obras de arte, como as contidas no British Museum, na capital inglesa, no Museu do Prado, em Madri, e no Louvre, de Paris, além de patrimônios históricos e culturais da humanidade, em lugares como Portugal e Alemanha. As vivências espirituais foram outro ponto alto do passeio, em espaços como a Sacré-Coeur, de Paris, o Self Realization Fellowship, de Dublin, e o templo de Neasden, em Londres.

Ao término de nossa viagem, voltamos com uma bagagem extraordinária de vivências e de conhecimentos que gostaríamos de passar para outras pessoas. Descobri o prazer de escrever e publiquei dois livros sobre a experiência, e Paulo entrou para o ramo do turismo. Valeu a pena? Muito!

Essa decisão precisa ter uma razão e um propósito, um plano de ação muito bem estruturado, com definição do tempo da pausa, do destino, dos custos e da preparação para o retorno, garantindo que essa experiência se reverta em crescimento pessoal ou profissional. Desperte sua criatividade e explore potencialidades que talvez nunca tenha imaginado, permitindo-se um período de pausa transformador!

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ARTIGOS

Recomendações de Herman Benjamin para os juízes

03/12/2024 07h30

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Sempre tive uma vontade grande de conhecer pessoalmente o ministro presidente do STJ, Herman Benjamin, paraibano de Catolé do Rocha, e conversar com ele para beber seus vastos conhecimentos jurídicos, filosóficos, teológicos e humanitários tão importantes para sedimentar as suas sentenças e engalanar a cátedra onde sustenta com absoluta competência. Esse sempre foi um dos meus acalentados sonhos.

O ministro está tão próximo da minha cidade Ponta Porã e não pude concretizar essa aspiração em razão da fragilidade da minha saúde. Mas as oportunidades se renovam e quem sabe um pouco mais à frente poderei concretizar esse desiderato precioso. Mas é certo também, em outra vertente, que as suas decisões inseridas nos anais dos tribunais por onde peregrinou e ainda peregrina são sábias e pedagógicas e de valor inigualável. Não são conversas vazias e destituídas de fundamentos esse indicativo lançado pelo articulista. 

São provas robustas e insofismáveis emanadas daqueles que verdadeiramente amam o Direito e ainda consagram a sua vida inteira a serviço da Justiça como instrumento fomentador da paz social. Sim, porque o Direito, embora seja uma ciência abstrata, ele atrai, seduz e nunca chega a satisfazer a inteligência do seu estudioso diante da sua grandeza e do alcance dos seus propósitos.

Desde que nascemos, com o registro de nascimento, até quando morremos, com o atestado de óbito, tudo o que fazemos ou realizamos no curso da nossa peregrinação terrena está regulamentado por normas, regulamentos, portarias, decretos e leis que formam o nosso ordenamento jurídico. Base fundamental para referendar a justa distribuição da Justiça sempre que esse reclamo bater às portas dos juízos, instâncias ou tribunais.

Nessa linha de pensamento e de coexistência pacífica entre o Estado e a sociedade civil organizada surge o Judiciário como instrumento valioso para assentar a paz social, sobretudo quando foi esse o propósito do Estado para chamar para si a responsabilidade de distribuir a Justiça. Como o Estado se trata de um ente abstrato, ele mostra a sua face na pessoa física do juiz como responsável pela aplicação da Justiça. Não pode existir nada mais sublime do que isso. 

Consolidar a paz social com a aplicação da norma jurídica capaz de serenar os ânimos dos que buscam na Justiça o último guardião para a defesa dos seus direitos. E isso se torna mais evidente quando se constata a lisura dos nossos juízes, suas condutas morais, culturais, sociais, éticas e jurídicas no contexto da sociedade em que convive, como expressão maior para conquistar a respeitabilidade dos seus jurisdicionados.

Na primeira entrevista que concedeu, e que está estampada nas páginas amarelas da edição da Veja de setembro/24, disse a cada jovem magistrado com quem se encontra que a ambição da riqueza material ou quem sonha com um emprego glamouroso não deve ser juiz, estará na profissão errada. E sentenciou dizendo que o juiz no exercício da sua função judicante nunca será rico, e quem quer ser rico, não deve fazer concurso para juiz. 

Foi o desabafo diante de tantos tormentos que sacudiram os tribunais estaduais com os afastamentos de desembargadores de seu ofícios judicantes. Mas esse desejo enlouquecido que embrutece o ser humano não reside apenas nos limites do Judiciário. Outras tantas instituições sofrem com esse pesadelo. Nem o papa Francisco com o seu colégio de cardeais rebelde, e de outros tantos padres que se utilizam da sotaina para destruir sonhos justos e santos, vive momentos do seu pontificado sem tormentos. 

Em razão desses ditames, a nossa Carta Constitucional, para evitar essa vontade condenável, reservou aos integrantes do Judiciário as garantias constitucionais da vitaliciedade, inamovibilidade e irredutibilidade de vencimentos como instrumentos robustos para enfrentar os poderosos e vencer os desafios que todos os dias surgem na sua rotina de trabalho.

Parabéns ao nosso Estado, que recebe as mais altas autoridades do Judiciário brasileiro pelo colóquio. Parabéns a nossa sempre linda Campo Grande, terra de José Antônio Pereira, plantador de uma cidade de gente honesta, trabalhadora e que respeita a ordem, a lei e as autoridades constituídas. 

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