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Guilherme Bellotti: "Safra 19/20: menos gordura e mais risco"

Analista de agronegócio

Redação

19/07/2019 - 02h00
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Estamos em julho e os preparativos para a safra 19/20 já estão a todo vapor. No entanto, o “montar” do próximo ano agrícola tende a ocorrer em um ambiente de negócios muito mais desafiador que nas safras anteriores. E uma das principais incertezas, sem dúvida, diz respeito ao cenário de preços das principais commodities agrícolas.

Do lado da soja, em que pese o atraso no plantio da safra norte-americana e as dúvidas em relação à área a ser colhida, os elevados estoques de passagem atrelados às incertezas em relação às importações chinesas diante do surto de peste suína africana sugerem que a redução de produção global teria que ser muito grande para se observar mudanças estruturais nas cotações. Nas estimativas do Itaú BBA, para que tenhamos um aumento significativo das cotações, é preciso desaparecer do mercado global cerca de 40 milhões de toneladas de soja. 

Para o algodão, o cenário extremamente favorável dos últimos anos dificilmente se repetirá na próxima safra. Isso porque a área produzida globalmente deverá aumentar como resposta aos elevados preços da pluma em relação às cotações das outras culturas alternativas.  Estimativas do USDA apontam que a produção global de algodão na safra 19/20 deverá ser de 27,4 milhões de toneladas, aumento de 6% sobre ano anterior.

No caso do milho, as recentes altas nos preços internacionais na esteira das desafiadoras condições do plantio nos Estados Unidos parecem ter aberto boas oportunidades de fixação de preços para o próximo ano. E a estratégia de antecipação das vendas pode ser prudente, pois, caso tenhamos um avanço da área produzida no Brasil e na Argentina (em resposta aos bons sinais de preços atuais), combinado com um aumento de intenção de plantio no EUA para a safra 20/21, as cotações futuras poderão ser pressionadas.

Incertezas adicionais na formação de preços têm origem também no comportamento da taxa de câmbio. O grande risco está na possibilidade de ser observada uma valorização do real a reboque da reforma da Previdência e de outras medidas estruturais que possam reduzir a percepção de risco do País. Isso merece especial atenção, pois a aquisição de insumos, que têm suas cotações atreladas ao dólar (fertilizante e defensivo), está ocorrendo a uma taxa de câmbio que pode ser bem superior àquela observada no momento da colheita e posterior comercialização dos produtos. Se isso de fato acontecer, é provável que produtores possam ter margens inferiores às esperadas no momento de planejamento da safra.

É importante destacar que esse cenário mais incerto se descortina em um ambiente em que a fixação de preços para a próxima safra está cada vez mais difícil. E grande parte disso é explicada pela posição mais conservadora das tradings na precificação aos produtores, diante das dúvidas decorrentes da guerra comercial entre China e Estados Unidos e do valor do frete no próximo ano. 

Enquanto a disputa entre os países americano e chinês traz incertezas adicionais sobre as cotações futuras de Chicago e dos prêmios no Brasil dificultando a tomada de posições, a diferença do valor do frete entre o que é praticado atualmente pelo mercado e o sugerido pela tabela pode absorver todo o ganho esperado da trading. Para Sorriso em MT, por exemplo, a diferença de valor entre as duas referências de precificação chega a R$6/sc de soja, ou 10% do valor atual do grão na região.  

Assim, diante desse ambiente de maior risco da safra 19/20, é recomendável que o produtor seja prudente no gerenciamento do seu fluxo de caixa – com especial atenção ao descasamento cambial – e também nas decisões de investimento de modo a preservar a saúde financeira da empresa agrícola e não se colocar em posição de grande fragilidade.

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Convivência de gerações

03/10/2024 07h30

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Pela primeira vez na história, testemunhamos uma diversidade etária tão marcante no ambiente corporativo. Um encontro entre jovens e veteranos que compartilham não apenas os mesmos cargos, mas também posições de alta liderança.

Há quem se incomode com os possíveis conflitos entre as gerações X, Y e Z durante as tomadas de decisões, mas quem se fecha apenas nos problemas acaba por negar uma realidade: equipes que integram todo o alfabeto geracional podem enriquecer as dinâmicas empresariais, promover a inovação e impulsionar a produtividade.

Geração que iniciou a carreira nos anos 2000 – e antes a favorita das empresas –, agora enfrenta o desafio de se adaptar a um mercado de trabalho cada vez mais dinâmico e competitivo. Esse cenário é ainda mais preocupante quando consideramos que o desempenho educacional do País está abaixo do ideal, gerando incertezas sobre a preparação dos profissionais para os empregos do futuro.

Enquanto a distância entre as diferentes faixas etárias no ambiente corporativo só aumenta, se faz urgente a construção de pontes e a mudança de mentalidade daqueles que contratam esses jovens. E o primeiro passo está na implementação de programas de aprendizagem e estágio.

Para as empresas do futuro, equipes multigeracionais são verdadeiros tesouros de diversidade e experiência. Quem valoriza essa riqueza já compreendeu que um time que se complementa contribui significativamente para o aprimoramento dos negócios. Isso pode melhorar a reputação da empresa, tanto entre os clientes quanto entre os colaboradores. Uma organização que se apresenta como inclusiva e diversa atrai talentos de todas as idades, o que é crucial em um mercado de trabalho cada vez mais competitivo em função das inúmeras oportunidades de capacitação e desenvolvimento de carreira.

Além disso, novos colaboradores se sentem cada vez mais motivados a crescer dentro da empresa ao terem exemplos diários de carreiras de sucesso, compartilhando experiências e conhecimentos.

É nesse meio de campo que surge a dúvida sobre qual é mais importante: inovação ou experiência? Na hora de solucionar um problema, é melhor ter um profissional jovem e criativo ou um profissional experiente com domínio do mercado? Para ambas, as respostas estão no agrupamento desses dois perfis e na troca de ideias entre esses públicos. Por mais que cada um se sinta capaz de trilhar seu próprio caminho, muitas vezes é na troca e na união de esforços que se pode chegar muito mais longe. Uma equipe diversa gera resiliência, com a organização se adaptando mais rapidamente às mudanças do mercado e às novas demandas e promovendo a melhoria contínua dos processos.

Diversas pesquisas já comprovaram que a mescla de experiências é necessária para o avanço contínuo de uma empresa e, até mesmo, interfere diretamente na lucratividade. Empresas com equipes diversificadas têm 21% mais probabilidade de serem lucrativas. E quando olhamos para o Brasil, 42% dos profissionais já trabalharam em ambientes imparciais que valorizam todas as idades, fomentando inovação e eficiência. Isso ocorre em empresas que reconhecem a diversidade como o combustível que impulsiona o crescimento.

Debaixo do mesmo teto, as diversas gerações precisam trabalhar em conjunto. As empresas dependem desse trabalho em equipe para enxergar além do horizonte e vislumbrar o futuro. Para que isso se torne realidade, um estudo da Harvard Business Publishing aponta que é necessário abandonar os estereótipos geracionais, tratar cada colaborador pelas suas individualidades e incentivar um ambiente colaborativo.
 

Baby boomers, X, Y, Z ou alpha. Seja qual for a geração em questão, o verdadeiro progresso apenas surgirá quando aceitarmos que o passado precisa se fundir com o presente. Somente assim poderemos construir um futuro sólido e próspero. Será impulsionando e estimulando o indivíduo a desenvolver seu pleno potencial por meio da educação e do trabalho que contribuiremos para o progresso da sociedade e, assim, transformaremos vidas.

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A internet e seus golpes

02/10/2024 07h30

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A internet, esse vasto oceano de conveniências. Navegar por suas águas é como flutuar num sonho de consumo: de um lado, promoções tentadoras, do outro, fretes grátis que nos fazem acreditar que vivemos num mundo de magia e generosidade. Mas cuidado, amigo consumidor, a cada clique pode se esconder um tubarão, prontinho para devorar seu cartão de crédito. Ou pior: nem o produto e nem o cartão sobrevivem, e você ainda sai dessa aventura sem nem ter colocado o dedo no mouse.

Três em cada dez consumidores – é, você leu certo, três! – já caíram ou quase caíram no conto do “site fantasma” ou do “clone mal-intencionado”. E ainda somos convencidos, por algum golpista com papo tão doce quanto vendedor de sonho, a pagar fora da plataforma. Olha, tem gente que, ao invés de encomendar sapato, acaba mesmo é calçando os próprios pés de trouxa.

A pesquisa da CNDL e do SPC Brasil mostra que 35% dos brasileiros preferiram fechar a carteira e esquecer que a internet existia nos últimos três meses. E quer saber? Até dá para entender. É como se convidassem você para uma festa incrível, cheia de presentes, mas na porta, ao invés de segurança, tivesse um bando de malandros com cara de “pague no Pix que a gente te manda por DM”. O problema é que o presente nunca chega, e você fica na porta, com cara de bobo.

Mas não podemos esquecer que, mesmo nesse ambiente de desconfiança, o brasileiro não desiste. Mais de 119 milhões de pessoas fizeram ao menos uma comprinha online no último ano. Isso é um verdadeiro ato de fé! Fé de que o chinelo vai chegar, de que o carregador de celular não é um pedaço de plástico oco e, claro, de que o prazo de entrega não seja tão longo que você esqueça o que comprou.

Agora, convenhamos, essa paixão pelas plataformas estrangeiras é digna de nota. Shopee, Mercado Livre, Aliexpress, Amazon, Magalu... Parece que o amor pelo exterior é quase uma rendição nacional. Mas cuidado: quem só olha para fora corre o risco de ficar por dentro das fraudes. No fim, é a velha história: o barato pode sair caro. Ou, como diria um filósofo de shopping: “parcelou em seis vezes sem juros, mas o golpe foi à vista”.

E, vejam só, o brasileiro está dividido. Uma parte, 43%, aumentou as compras online no último ano. Será um ato de coragem ou apenas a tentação irresistível de um descontinho a mais? Porque cá entre nós, mesmo com os riscos, o preço baixo sempre seduz. “Frete grátis”, “promoção imperdível” — essas palavras são a canção de ninar de um consumidor. Mas acordar do sonho com o aviso de fraude no celular... bem, isso é outro papo.

O curioso é que, apesar de tudo, nove em cada dez consumidores estão satisfeitos ou muito satisfeitos com suas compras pela web. Mas não se iludam: o paraíso virtual também tem suas desvantagens. Não poder tocar o produto, pagar um frete que parece vir de outro planeta, e a eterna dúvida se aquilo que você viu na foto vai ser o que chegará à sua porta. Já dizia minha avó: “quando a esmola é muita, o santo desconfia”. E o consumidor esperto também.

Agora, uma última reflexão: 46% das pessoas admitiram que desistiram de compras online recentemente. Talvez seja aquele susto ao ver o valor do frete que tira o sono. Ou, quem sabe, aquele pequeno alarme que apita no fundo da mente, dizendo: “Será que estou prestes a cair em mais uma cilada?”

Ah, meus amigos, comprar online é como um romance de verão: rápido, quente e cheio de promessas. Mas, quando a conta chega – ou pior, quando não chega nada – a desilusão vem. Fiquemos atentos. Porque, nesse jogo de amor e fraude, o consumidor que não se cuida pode acabar com o coração (e o bolso) partido.

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