Jean Jacques Rousseau (1712-1778) marcou a história ao propor uma radical ruptura com o absolutismo imperante em sua época, defendendo uma moderna ideologia republicana e, com efeito, legando para a posteridade uma nova forma de pensar a sociedade e o Estado. Mas dentre as muitas ideias preconizadas por Rousseau, ainda em vigor na atualidade, uma delas chama especial atenção. Em seu “Discurso sobre a desigualdade” (1754) o filósofo afirmou que: “a sociedade poderia ser moldada por suas instituições políticas”. De fato, de Rousseau para diante, estamos sempre a buscar um modelo de Estado que possa melhorar a vida em sociedade e que bem represente a vontade do povo, garantindo, nos limites da lei, o máximo de liberdades possíveis.
Mas deste corte que fazemos no pensamento do filósofo francês (- as instituições podem moldar a sociedade!!!), surge uma reflexão de extrema importância nos tempos atuais, principalmente no Brasil, que é a seguinte: - Que tipo de sociedade nossas instituições políticas estão a moldar?
Não se achará um otimista (probo) que defenderá com orgulho os frutos que a política no Brasil vem produzindo na sociedade. Ao contrário, o morfologismo que tomou de assalto nossa política, fruto do processo de desconstrução de nossas Instituições através do fortalecimento de uma espécie de “patronato político”, como designou Raymundo Faoro, vem disseminando a mais perversa e cruel chaga que uma sociedade pode enfrentar, a Corrupção.
Mas não é apenas a corrupção traduzida no desvio do dinheiro público. É a corrupção das ideias, da moral, da ética, dos princípios e valores que sustentam a sociedade. Até as famílias, atualmente, estão em risco. As autoridades deixaram de ser governantes e passaram a ser gestores de negócios, abandonando o bem-estar do povo para tratar de implementar planos de poder, aparelhando a máquina pública para beneficiar um grupo específico ou enriquecer os que estão à sua volta. E o mais grave, o mais grave de tudo, é a consequente perda da identidade própria das instituições políticas, confundidas com os plantonistas palacianos.
Antes de falar em Reforma Política, portanto, é preciso pensar em restabelecer a credibilidade e identidade das nossas instituições, para que as ações reformistas apontem ao caminho que fortaleça efetivamente e recupere a representatividade perdida.
Neste contexto, a OAB surge com uma proposta de reforma política, juntamente com outras entidades, tentando incutir a ideia de tratar-se de uma iniciativa de toda a sociedade. Entretanto, tal propaganda deve ser tida com muita reserva, uma vez que as propostas apresentadas, em quase tudo, coincidem com a agenda do governo. Eleições em dois turnos para o parlamento, com lista fechada, por exemplo, parece ser uma opção muito mais prejudicial do que benéfica à representatividade das minorias.
A OAB/MS, por sua vez, já alardeou seu endosso ao plebiscito para uma nova Constituinte (está no site da Instituição), a mais escabrosa e desavergonhada tentativa de golpe à Constituição desde a redemocratização. Isto talvez explique o fato de, em plena campanha eleitoral, o plenário da Seccional da OAB ter se tornado palanque político para um dos candidatos a governador.
É claro como a neve, mas não alvo como ela, que a OAB tem sido paulatinamente dominada pelo mesmo fisiologismo que contamina a política no Brasil. A instituição vem perdendo a sua identidade e independência, sendo tocada segundo os interesses pessoais de quem a conduz. Mas isso deve mudar. Não se pode mais aceitar que a instituição seja pautada por interesses, que não os institucionais.
É preciso que a Ordem retome sua identidade própria e restabeleça o diálogo institucional com os poderes, principalmente o judiciário, abandonando a política do compadrio, da leniência e da troca de favores que atualmente se vê escancarada. A OAB não deve conquistar benefícios ao advogado em troca de seu silêncio sobre questões da maior relevância, sob pena de abjeção própria.
Nos últimos meses a OAB/MS vem se tornando uma unidade meramente recreativa, cujas prioridades são campeonatos de futebol, corridas de rua, jantares e participações em solenidades com discursos vergonhosamente laudatórios. Sucumbiu.
Passa da hora de reaver o crescimento da instituição, sua independência e credibilidade, para que a advocacia recobre seu valor e o advogado volte a ser respeitado em suas prerrogativas. Afinal de contas, se as instituições políticas podem formatar a sociedade, o mesmo ocorre com a OAB em relação à advocacia. E que advocacia a OAB vem moldando?


