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Artigo

Luiz Fernando Mirault Pinto: Senso crítico versus Senso comum

Luiz Fernando Mirault Pinto é Físico e administrador

Redação

10/08/2015 - 00h00
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A palavra senso se refere a um modo de agir de forma sensata, prudente, avaliando a direção e o andamento do nosso comportamento pela habilidade de distinguir aquilo que é certo ou errado, o falso do verdadeiro, ou mais apropriadamente o adequado e o inadequado para um determinado momento. Ela tem a ver com o instinto, inteligência, a prudência e o juízo característicos de seres humanos e o modo de viver em um ambiente. 

O neocortex é a área ocupada pelos “lobos frontais” responsável pelo senso crítico, onde estão as nossas capacidades das tomadas de decisão, concentração, análise dos riscos, raciocínio, planejamento, garantindo nossas relações humanas de convivência e a sobrevivência com o entorno.

O senso comum reflete o modo de pensar da maioria das pessoas baseado em experiências práticas vividas e transmitidas, observações de padrões (comportamento), mas que não se baseiam em metodologias científicas e sim numa maneira natural de guardar conhecimentos diários, úteis para a sobrevivência.

A literatura estabelece que o senso comum é uma unanimidade de pensamentos sobre a vida, obtida sem reflexão ou análise crítica (sem questionamentos e métodos), sem origem, propriedade, que levam a um bem comum, ou às vezes a uma alienação, própria das classes menos favorecidas, carentes da educação e passíveis de manipulação.

Independente das pessoas serem do jeito que são; acreditarem naquilo que querem ser; auto-determinadas e autônomas, elas têm obrigação de resguardar e zelar pela integridade das opiniões e das ações sob pena de serem desacreditadas por serem desprovidas do senso crítico. 

Como se trata de uma característica individual e que depende de inúmeros fatores e, portanto são diversos seus níveis como a formação e o conhecimento, observação, raciocínio, avaliação, discussão, confronto de ideias, entendimento das palavras e do contexto e suas interpretações, conceituação do cenário e do evento ou fenômeno e conclusão lógica da resposta. Importante lembrar que fisicamente, a fadiga, o álcool, as drogas, a alimentação incorreta, os níveis de estresse, a senilidade, prejudicam as condições ideais para que o senso crítico se manifeste em sua plenitude. 

Quando nos comportamos ridiculamente, isto é, na maioria das vezes fora das normas instituídas socialmente, o nosso senso crítico é questionado neste momento, justo porque afloram hábitos e crenças enraizadas em nós e que destoam daquilo que é aceitável para um convívio harmonioso.

Não existe dicotomia entre os dois sensos, mesmo que as conceituações os classifiquem  entre um senso dito “erudito” e outro “popular”. Enquanto o crítico se firma a partir das avaliações sobre as conceituações e a introjeção (valores familiares e sociais) do conhecimento do senso comum; este, por sua vez, apenas vive e não tem tempo para analisar a qualidade ou mesmo a importância de um evento qualquer.

O que se observa na atualidade é que o ser humano passou a desconsiderar a crítica, sendo abduzido pelo pensamento comum como o descaso da violência, a insensibilidade nas notícias, o entretenimento fútil dos programas televisivos, o passatempo estéril na comunicação pelos Faces, Instagrans, Twitters  e Hangouts, as manifestações públicas sem objetivos, as replicações de falsas verdades pela web e o enredo de vampiros, mortos vivos e heróis sem ética.

A falta de senso crítico resulta em prejuízos para a sociedade que passa a dar crédito a políticos e empresários corruptos, a celebridades falsas, e aceitar uma cultura medíocre representada por artistas sofríveis, ou o despreparo de educadores, salários e empregos aviltantes, sem o devido crivo da avaliação. O senso comum, no entanto, sabe disso tudo e ingenuamente afirma que “sempre foi assim”, vai ganhando espaço precioso sobre esse tal de senso crítico. Urge reverter esse placar! 

EDITORIAL

Mobilidade em risco no momento mais crítico

Em dezembro, quando a cidade deveria estar focada em avançar economicamente e aquecer o comércio, o risco de paralisação do transporte coletivo soa como um alerta vermelho

06/12/2025 07h15

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A ameaça de paralisação do transporte coletivo em pleno fim de ano é tudo o que Campo Grande não precisava enfrentar. Em um período naturalmente sensível para a economia – com comércio aquecido, maior demanda por serviços e intensa circulação de pessoas –, qualquer instabilidade se transforma em prejuízo social e financeiro.

A cidade depende do funcionamento do sistema de ônibus para manter seu ritmo, e qualquer incerteza coloca em risco não apenas o deslocamento diário da população, mas também o desempenho econômico de diversos setores. A engrenagem urbana, especialmente em dezembro, não tolera paradas bruscas.

O Consórcio Guaicurus, responsável pelo transporte coletivo da Capital, afirma que enfrenta dificuldades financeiras severas e que não dispõe de recursos para pagar o 13º salário de motoristas e demais funcionários. Alega atrasos em repasses de subsídios públicos, que são parte importante da equação econômica do sistema.

Por trás da disputa técnica entre governo, prefeitura e consórcio, há um fato concreto: se os ônibus param, quem paga a conta é o cidadão – aquele que depende do transporte para trabalhar, estudar, acessar serviços de saúde ou simplesmente fazer suas compras de fim de ano.

É preciso compreender que a paralisação do transporte coletivo não afeta apenas quem usa o ônibus. O impacto econômico é profundo e imediato. Sem mobilidade, trabalhadores podem faltar, empresas reduzem fluxo, o comércio perde movimento e serviços deixam de ser prestados.

A suspensão da frota significa atrasos em entregas, queda no faturamento e um ciclo negativo que se espalha rapidamente pela economia local. Em um momento em que Campo Grande tenta equilibrar sua atividade econômica e superar dificuldades após a pandemia e a crise fiscal, o risco de colapso do transporte coletivo é preocupante.

No centro do impasse estão os repasses públicos – atrasados, segundo o consórcio – em um período crítico, tanto para o governo do Estado quanto para a prefeitura. O Estado enfrenta diminuição no ritmo da arrecadação, algo que afeta diretamente sua capacidade de ampliar aportes.

A prefeitura, por sua vez, vive um quadro de aperto financeiro evidente, inclusive com dificuldades para honrar seu próprio 13º salário. Não é a melhor combinação para um sistema que depende fortemente do equilíbrio entre tarifas e subsídios para funcionar.

O transporte coletivo, por sua natureza, exige previsibilidade. Quando esse elemento desaparece, todo o sistema fica vulnerável. A população, já acostumada a enfrentar ônibus lotados, longas esperas e limitações estruturais, não pode ser penalizada novamente por questões administrativas ou disputas financeiras.

É momento de responsabilidade de todas as partes: o consórcio precisa demonstrar transparência sobre suas contas; o poder público precisa oferecer clareza sobre repasses e obrigações; e ambos precisam agir com rapidez para evitar que a cidade pare.

Em dezembro, quando Campo Grande deveria estar focada em avançar economicamente, aquecer o comércio e garantir a normalidade da rotina urbana, o risco de paralisação do transporte coletivo soa como um alerta vermelho.

Não se trata de um problema setorial, mas de uma ameaça ao funcionamento da cidade como um todo. A solução precisa ser imediata, dialogada e comprometida com a continuidade do serviço. A população não pode – e não deve – ser a parte mais prejudicada dessa equação.

ARTIGOS

Trump e Maduro: uma questão de legitimidade

O campo para debate a respeito da conduta das duas figuras políticas é fértil e tende a ativar muitas paixões

05/12/2025 07h45

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O tensionamento da relação entre Estados Unidos e Venezuela nos últimos tempos tem produzido uma série de reflexões sobre os motivos (reais ou alegados) acerca de tal panorama e o impacto que a disputa pode produzir no Brasil em termos geopolíticos, dado o posicionamento do governo federal atual sobre a situação e, especificamente, sobre os mandatários Donald Trump e Nicolás Maduro. Em última análise, a questão diz respeito ao conceito de legitimidade, ponto que merece alguma discussão.

A noção de que algo é legítimo se refere ao fato de que uma determinada situação está de acordo com o direito ou com a concepção social de justiça, ou seja, além da mera aferição formal de legalidade. Assim sendo, o campo para debate a respeito da conduta das duas figuras políticas é fértil e tende a ativar muitas paixões.

Primeiramente, há que se verificar a legitimidade do mandato presidencial de Maduro para, na sequência, refletir acerca da legitimidade da ação de Trump em relação à Venezuela. Ainda que sejam assuntos teoricamente independentes, parece difícil negar a vinculação existente entre os assuntos, com maior ou menor relevância, a depender da ótica do analista.

A eleição presidencial na Venezuela, ocorrida em 2024, colocou diante de Nicolás Maduro a oposicionista María Corina Machado, que foi impedida de concorrer, sendo substituída por Edmundo González Urrutia como figura principal de contraponto ao presidente durante o pleito.

Sob acusação da oposição e de observadores internacionais de falta de clareza na contagem de votos, não houve o reconhecimento da vitória de Maduro, que está no cargo desde 2012, primeiro interinamente (em substituição a Hugo Chávez) e, depois, por meio de eleições, realizadas em 2013 e 2018, mas a última vitória também havia sido objeto de muita discussão em decorrência da suspeita de fraude.

Nos últimos meses, sob o argumento de combate ao tráfico de drogas na América Latina, o governo norte-americano tem aumentado a pressão sobre maduro, alegando que ele teria ligação com o Cartel de los Soles, inclusive estabelecendo uma recompensa de US$ 50 milhões por informações aptas a levar à captura do atual presidente venezuelano.

A chegada do gigantesco porta-aviões USS Gerald Ford à região do Mar do Caribe reforçou a tensão e a possibilidade de que uma atitude mais drástica possa ocorrer a qualquer momento. A caracterização de grupos criminosos ligados ao narcotráfico como terroristas, responsáveis por efeitos nocivos no território norte-americano, é utilizada como argumento por Trump para justificar a ação mais incisiva.

O Brasil, como principal potência regional da América do Sul, é claramente agente interessado no desenrolar dos fatos, pois o conflito envolve a nação mais forte militar, política, cultural e economicamente do mundo e um país fronteiriço.

A grande questão é que está se aproximando, cada vez mais, o momento em que o posicionamento brasileiro pode trazer consequências concretas mais efetivas ao País, do ponto de vista político e econômico, muito além da questão da ampliação das tarifas.

A legitimidade de Maduro e Trump com relação a suas ações é pressuposto inafastável para a consideração desse complexo contexto internacional. O Brasil não pode se furtar a tomar uma posição em relação a isso em algum momento, pois muitos dos agentes envolvidos têm ligação com o País, seja historicamente ou por meio de organismos internacionais.

Ainda que, algumas vezes, certas figuras influentes politicamente queiram passar a falsa impressão de que determinadas situações complexas possam ser resolvidas de modo simples, com uma conversa, é evidente que o caso envolvendo Trump e Maduro pode ter implicações muito sérias para a sociedade brasileira, dado o problema nacional envolvendo o narcotráfico.

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